ATÉ VOCÊ CHEGAR
Titulo Original - Bachelor Party
Karen
Kelley
Despedida de
solteiro
A única coisa que
Cassidy Jones se lembra da festa da noite anterior é de ter pulado para fora de
um ridículo bolo de três andares, usando uma igualmente ridícula fantasia, tudo
para conseguir pagar o aluguel atrasado. Depois disso, as memórias ficaram
embaralhadas, e ela não faz a menor idéia de como acabou indo parar na cama com
o pobre noivo... muito menos de como explicar a situação à noiva de nariz
empinado, que assistia à cena ao pé da cama!
Blake Lawrence
sabe que foi tudo tramóia de seu irmão... o bolo de papelão, a garota que saiu
de dentro do bolo e a bebida entorpecente que derrubou a ambos. Sem essa
interferência, ele teria mantido sua atitude fria e controlada, e estaria agora
no altar esperando pela noiva. Em vez disso, Blake está perdido, porque a linda
garota enrodilhada com ele na cama lhe desperta sensações há muito adormecidas,
como alegria, riso... e um desejo avassalador!
Disponibilização: Cristine B.
Digitalização e Revisão: Crysty
Copyright ©
2000 by Karen Kelley
Originalmente
publicado em 2000 pela Kensington Publishing Corp,
PUBLICADO SOB
ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.
NY,NY-USA
Todos os direitos reservados.
Todos os
personagens desta obra são fictícios. Qualquer
semelhança com
pessoas vivas
ou mortas terá sido mera coincidência.
TÍTULO
ORIGINAL: Bachelor Party
EDITORA
Leonice Pomponio
ASSISTENTE
EDITORIAL
Patrícia
Chaves
EDIÇÃO/TEXTO
Tradução:
Eugênio Baixos
Revisão:
Claudia Virgílio
ARTE
Ana Suely S.
Dobón e Mônica Maldonado
ILUSTRAÇÃO
StockPhotos
MARKETING/COMERCIAL
Daniella Tucci
PRODUÇÃO
GRÁFICA
Sônia Sassi
PAGINAÇÃO
Dany Editora
Ltda.
© 2005 Editora
Nova Cultural Ltda.
Rua Paes Leme,
524 - 10° andar - CEP 05424-010 - São Paulo - SP
Impressão e
acabamento: RR Donnelley Moore
Tel.: (55 11)
2148-3500
Capítulo
I
Uma
sardinha prensada numa lata teria mais espaço do que ela dentro daquele enorme
bolo de papelão, pensou Cassidy Jones. E se,
por acaso, nunca saísse dali?
Gotas
de suor porejavam pelo rosto abaixo, e as gotículas, como contas de cristal,
inundavam seu peito e deslizavam entre os seios. Ela sorriu, arqueou o traseiro
e alisou a frente de seu traje contra os seios.
—
Ai! — gritou quando uma das falsas moedas de ouro feriu sua mão.
Outro
assunto que queria discutir com Tom: ele não mencionara aquela fantasia quando
a contratou. Aliás, havia muita coisa ainda para falar a respeito.
A
fantasia consistia em pequenos pedaços de seda vermelha nos lugares
estratégicos e gaze quase transparente que escondia os outros. E uma porção de
ridículas moedas de ouro. Todas as vezes que ela se movia, as benditas
moedinhas tilintavam como enfeites chineses que vibram ao vento.
—
Você está pronta? — uma voz estranha sussurrou.
—
Sim. — Não, não realmente — Eu devia estar em casa, assistindo tevê — murmurou
ela. — Exceto que não tenho televisão.
—
Silêncio — recomendou-lhe a voz.
Como
se o solteiro daquela noite não fosse suspeitar que alguém estivesse dentro do
falso bolo de papelão de três andares. Só se fosse muito tolo. Ela não teve tempo de ponderar
sobre tal pensamento quando a caixa começou a rolar.
—
Ei, devagar — gritou Cassidy quando uma tábua bateu no seu quadril. O bolo
parou com um solavanco. Sua cabeça bateu contra o lado do sufocante artefato de
papelão. Ela passou a mão na testa para massageá-la.
—
Desculpe-me pela parada abrupta — declarou a voz. — Baterei no bolo três vezes.
Será a dica para você pular fora.
Dentro
do exíguo espaço do interior do falso bolo, ela ouviu portas se abrirem,
seguidas por aplausos vigorosos. Ela não havia feito cálculos matemáticos.
Dallas, Texas, adicionado à festa de despedida de solteiro e álcool,
significava problemas pela frente. Talvez devesse ter considerado aquele
trabalho mais cuidadosamente.
O
dinheiro a receber pelo serviço extra parecia tão bom que ela não pensara em
nada mais. Não que pudesse voltar atrás. Contas tinham que ser pagas.
Toc...
Toc... Toc...
Não
havia tempo para se preocupar agora. Cassidy empurrou a tampa do mega-bolo.
Nada
aconteceu.
—
Você deve sair agora — a voz sussurrou com urgência.
—
Não posso — replicou ela.
—
Então, Andy, você a amedrontou? — gritou alguém.
Cassidy
cerrou os dentes e empurrou com toda sua força. A tampa saltou e caiu no chão
com um baque surdo. Que maravilha poder respirar novamente!
—
Da maneira que Andy gosta de doce, talvez ele a conserve para si mesmo — alguém
falou. Uma risada geral ecoou pela sala.
Talvez
ficar dentro do bolo não fosse tão má ideia, agora que podia respirar.
—
O que há de errado?
O
pobre rapaz parecia frenético. De qualquer modo, ela duvidava que Tom quereria
pagá-la para ficar dentro do bolo. Cassidy tentou ficar de pé, mas suas pernas
não cooperaram.
—
Minhas pernas estão dormentes. Não consigo me mexer.
Mãos
a seguraram e puseram-na de pé. Um trilhão de agulhas alfinetavam suas pernas.
Ela as esfregou enquanto o olhar varreu a sola precariamente iluminada.
Havia
talvez vinte pequenas mesas cobertas Com toalhas brancas. Ela calculou duas
dezenas de homens, os olhares fixados nela. Tranqüilizou-se quando viu duas
garçonetes movendo-se entre as mesas.
—
Sorria.
Em
vez de sorrir, fixou o olhar nos olhos de um deus louro. Se um homem pudesse
ser descrito como bonito, ele era a própria imagem desse homem. Parecia ter
vinte e dois anos, pelo menos quatro anos mais novo do que ela.
Automaticamente,
Cassidy baixou os olhos para depois focalizá-los em volta da sala cheia. Quase
deixou de vê-lo. Sua visão mudou para uma das colunas existentes na sala e para
a pessoa encostada nela.
Se
o louro a seu lado pudesse ser chamado de luminoso, aquele outro sujeito
poderia ser chamado de obscuro, Ele a fazia lembrar-se de uma nuvem carregada
de eletricidade prestes a produzir um relâmpago ou trovão. Cassidy tinha a
impressão que ele a mirava com intensidade. A expressão do rosto era de enfado
e mau humor.
Se
ele não queria estar numa despedida de solteiro, por que viera?
Ela
tremeu. Nenhum sorriso. Nenhum calor. O homem sombrio lhe deu certo nervosismo.
Estampando um vasto sorriso na face, ela voltou à atenção para a pequena
multidão ali em frente, fazendo algazarra.
— Então
quem é o sujeito de sorte? — perguntou ela com voz clara.
—
Não sei se ele tem sorte, mas o homem que vai se casar está ali.
Cassidy
olhou para o lugar que ele apontara. Óculos com armação de tartaruga e um
sorriso bobo. Nada de espetacular, mas alguém encontrara boas qualidades nele,
uma vez que estava casando-se. Se ao menos não estivesse sentado tão perto do
"homem sombrio". Alguma coisa naquele sujeito a incomodava.
Ela
reprimiu o sentimento. Com um elaborado gingar dos quadris, saracoteou pela
sala, a fim de ficar na frente do indivíduo que eles haviam apontado e iniciou
sua dança rotineira. Risadas encheram a sala. Mortificada, imaginou se poderia
engatinhar até uma das mesas e esconder-se por baixo da toalha branca. Um
pensamento tentador, só que o deus louro já estava apressando-se em sua
direção.
—
Não ele — disse o louro com um toque de exasperação. — Ele — continuou,
apontando agora em direção ao "homem sombrio".
—
Você só pode estar brincando — pensou ela em voz alta.
O
homem obscuro veio em sua direção com o cenho cerrado.
Quem
em seu juízo perfeito se casaria com um sujeito com expressão tão severa? Ele
parecia estar num velório e não na sua festa de despedida de solteiro.
Uma
mão no meio das costas de Cassidy empurrou-a, até que ela ficou na frente dele.
Um calafrio de apreensão a dominou quando fitou os seus olhos cinza-metálicos.
Mais pareciam duas lâminas de aço, prontas para feri-la. Ela deveria ter pedido
mais dinheiro a Tom pelo serviço.
Sentindo
um aperto na garganta, engoliu a seco. Nem sequer um esboço de um sorriso na
face do homem.
Vagarosamente,
ele a mediu de cima a baixo. Cassidy sentiu sua pele ficar quente e depois
fria. Ele levantou a cabeça e seus olhos se cruzaram. Ela já vira aquela
espécie de olhar antes.
Ela
crescera em Marlow. Como
a maioria das cidades interioranas, havia "panelinhas formadas". Cada
um tinha seu próprio grupo. Exceto Cassidy.
Sua
avó a criara, e o cheque de Seguro Social que recebia mal dava para as despesas
da casa e educação da neta. Mas a velha senhora lhe dera muito mais do que o
dinheiro podia comprar: muito amor e um forte orgulho irlandês.
Cassidy
nunca tolerara qualquer tipo de zombaria na ocasião e não era agora que iria
tolerar. Olhou-o com silencioso desafio. Tinha um trabalho a fazer. Com um leve
movimento da cabeça, atirou seus cabelos castanhos para trás. Uma sobrancelha
grossa ergueu-se como se ela tivesse ousado evocar outra emoção nele, além de
enfado.
Erguendo
as mãos acima da cabeça, ela começou o ritual da dança. A sala ficou
silenciosa, exceto pelo som ritmado das castanholas.
Lentamente,
ela começou a mover os quadris ondulando para um lado, enquanto a parte
superior do corpo movia-se para a direção oposta. Braços esticavam-se para o
lado, sempre batendo as castanholas, hipnotizando.
Alguém
ligou o toca-fitas que Tom providenciara. Música erótica encheu a sala.
Fechando os olhos, Cassidy deixou a música dominá-la como uma chuva leve num
dia de primavera. Tornou-se uma parte da música, não mais consciente do homem.
Cada
vez mais rápido, o compasso ficou alucinante e ela o acompanhou
freneticamente. Seus cabelos esvoaçavam de forma sensual, e quando se curvava,
chegavam a tocar seus quadris como a carícia de um amante.
Pés
descalços rodopiavam pelo exíguo espaço no meio da sala. Seus lábios
entreabriam-se com sensualidade. Cassidy despejou todas as emoções nos
movimentos rítmicos e quando a música parou, caiu no chão, o peito arfando pelo
esforço.
Primeiro
o silêncio, depois o aplauso atroador.
Ela
levantou a cabeça e encontrou o olhar do homem que iria se casar. Suor gotejava
na testa dele, mas, em vez de triunfo, ela sentiu uma pontada de medo. Os olhos
cinza-metálicos refletiam um desejo escaldante. Isso fez a pulsação dela
acelerar-se. Sua única vontade era correr dali o mais rápido que pudesse. Em
vez disso, virou-se de costas para ele, pegando o drinque que alguém lhe pusera
nas mãos. A boca de repente estava seca e ela procurava restabelecer a
respiração.
Sorveu
um gole do líquido. Chá gelado. Exatamente o que precisava. Bebeu todo o copo
e outro apareceu magicamente.
Depois
de quatro copos, não mais deu importância ao que aquele homem obscuro pensasse
dela. Na verdade, a sensação de formigamento que sentira quando os olhos de
ambos se cruzaram fora provavelmente por causa do ar frio que envolveu sua
pele depois que terminou a dança rotineira.
Ela
olhou da mesa para o louro. Que belo jovem. Tão diferente do "homem
sombrio". Cassidy imaginava que ele não sabia sorrir. Estendeu a mão para
pegar o copo com chá, mas a mão resvalou. Então deu uma risadinha, sem graça.
—
Que espécie de chá é este, afinal de contas?
Sua
língua estava tão grossa que quase não podia falar, e o teto da sala girava.
O
louro sorriu e entregou-lhe outro copo cheio.
—
Chá Long Island — gritou ele através do som da música alta.
Engraçado,
ela nunca ouvira falar na marca.
Cassidy
tomou outro gole e depois olhou em volta, franzindo o cenho quando não viu seu
adversário, não que se importasse se ele já houvesse ido embora. Todavia, não
pôde evitar se perguntar por que se sentia um pouco desapontada quando não o
viu.
—
Parece que o sujeito que vai se casar saiu cedo, de modo a estar pronto para o
grande dia amanhã — disse ela. O louro lhe contara anteriormente que o
casamento seria no próximo dia. — Acho que é hora de eu partir, também.
Os
outros homens haviam se dispersado nos seus próprios pequenos grupos, todos a
ignorando, enquanto o louro parecia monopolizá-la. Aquela era a despedida de
solteiro mais misteriosa e esquisita em que ela já estivera. Pensando melhor,
era a única.
Ela
levantou-se da cadeira onde estivera bebericando o chá. A sala começou a girar
violentamente. Então voltou a sentar-se.
—
Você está bem?
—
Sinto-me meio estranha. Completamente tonta.
O
louro lindo chegou e ficou na sua frente, a expressão preocupada. Ela piscou
duas vezes e depois esfregou os olhos, que estavam embaçados.
—
Deixe-me ajudá-la — ofereceu ele.
Pegando
sua mão, Cassidy levantou-se. As pernas bambeavam.
—
Acho que é melhor levá-la de carro para casa.
—
Isso não é uma má idéia. — Ela não podia imaginar por que se sentia daquele
jeito. Somente bebera chá gelado. Será que pegara uma gripe?
Colocando
o braço em sua volta, ele a conduziu para a porta.
—
Não me sinto bem — murmurou ela.
—
Cuidarei de você—disse o louro que se apresentou como Andy.
Ela
sorriu, deixando-o carregá-la para fora, em direção ao carro.
Por
alguma razão, seus pés não queriam cooperar.
A
corrida de carro não era longa, apenas alguns minutos, o que pareceu um pouco
estranho, uma vez que ela levara tanto tempo para chegar à festa quando viera.
Não que estivesse preocupada. O louro fora gentil e educado demais para ser um
perigo iminente.
Ele
até mesmo a ajudou a caminhar até a porta do apartamento. Cassidy não podia
recordar-se que sua casa tivesse elevador.
Tantas
coisas estranhas estavam acontecendo naquela noite. Um solteiro que não parecia
prestes a casar-se. A sensação que ela tivera quando olhara nos olhos dele.
Sua
atenção voltou ao presente no momento que o louro encostou-a contra a parede.
Sorrindo, ela correu uma mão sobre o papel de parede.
—
Olhe, eles mudaram a cor — comentou ela, sentindo-se escorregar para os lados,
mas ele a segurou. — Obrigada, muitíssimo obrigada.
—
Hora de ir para a cama.
Sim,
era uma boa idéia, pensou ela quando ele a conduziu em direção ao quarto. Seus
olhos estreitaram-se quando tentou focalizá-los no ambiente. Podia jurar que seu
quarto era em outra direção.
Ele
empurrou a porta com os pés para abri-la.
— Cuidado
com a cadeira — disse ela quando eles entraram.
Então
riu. Não havia cadeira alguma. Mas quem se importava? Nada parecia importar
agora. É claro, se ele acendesse a luz, ela provavelmente poderia ver. O quarto
estava tão escuro que Cassidy quase não podia achar a cama, e quando a
distinguiu vagamente, esta oscilava como se boiasse na água.
Mãos
fortes ajudaram-na a sentar-se na cama. Presilhas e botões foram desabotoados e
a fantasia magicamente desapareceu.
Ela
ouviu uma respiração forte perto da orelha, mas o som não foi reconhecido pelo
seu cérebro confuso.
—
Ele pode não me agradecer amanhã, e você provavelmente jamais me perdoará, mas
não posso deixá-lo cometer o maior erro da sua vida. Algumas vezes, o
irmãozinho aqui tem que resolver as coisas com as próprias mãos.
Cassidy
não tinha a mínima idéia sobre o que o homem estava falando e realmente não se
importava. Sua cabeça caiu sobre o travesseiro. Instantaneamente, os olhos se
fecharam, Ela aconchegou-se debaixo das cobertas enquanto a porta foi cerrada.
Em
algum momento durante a noite, o lençol desapareceu.
Embriagada,
completamente grogue, ela virou-se, o corpo avançando devagar em direção ao
calor que irradiava do outro lado da cama, só parando quando o calor a
envolveu, aquecendo, não só seu corpo, mas sua alma também.
Sonhos
sensuais se seguiram. Um depois do outro. Em vez do louro bonito, o homem
moreno e obscuro invadiu seu mundo, o corpo grande acoplando o seu. Mãos
procurando e acariciando. Corpos suados movimentando-se para encontrar
desempenho erótico. E quando seu clímax chegou, Cassidy soube que nunca
experimentara nada de tamanha magnitude antes.
Na
manhã seguinte, Cassidy acordou com uma deliciosa sensação invadindo todo seu
corpo. Abriu os olhos, mas o brilhante raio de sol imiscuindo-se através da
janela fez sua cabeça girar. Ela rapidamente fechou os olhos para afastar os
raios injuriosos, enquanto o sentimento eufórico de apenas um minuto atrás
desaparecia.
Meu
Deus, sentia-se como se tivesse sido
atropelada por um trator. O que acontecera na noite anterior? As peças de um
xadrez começaram a se formar na sua mente. O louro continuara a lhe dar chá,
insistindo que aquilo a faria sentir-se melhor. Uma suspeita começou a se
delinear. Ótimo! Ela caíra no mais velho truque do mundo. Fora uma tola.
Imperdoavelmente tola.
Calor
irradiava-se por todo seu corpo, enquanto mais memórias dos sonhos eróticos que
tivera durante a noite invadiam-lhe o cérebro.
Mas
o louro... não, é claro que não. Era educado demais.
Um
gemido masculino, seguido por um movimento no outro lado da cama, a fez
voltar-se, ofegante. Eu o matarei, pensou encolerizada quando ficou cara
a cara com olhos cinza-metálicos.
Capítulo
II
Por
um momento, Cassidy não conseguia falar. Então, de repente, explodiu como um
vulcão em erupção:
—
O que você está fazendo na minha cama?
A
voz dele, rouca pelo sono, saiu preguiçosa:
—
Eu é que pergunto, o que você está fazendo na minha cama?
—
Sua cama! Quero que você saiba...
Cassidy
parou quando seu olhar percorreu o ambiente do quarto. Era escuro, com mobília
pesada, em vez das peças avulsas mal combinadas que estavam no seu próprio
quarto. Cortinas verde-musgo cobriam as janelas, em vez das de renda que ela
arrematara numa liquidação.
Aquele
não era seu quarto, aquela não era sua cama e... Ela olhou para o homem a seu
lado na cama. Então puxou as cobertas para proteger o corpo.
— Se
você acha...
Antes
que Cassidy pudesse terminar, a porta do quarto abriu-se. Ela ficou boquiaberta
quando uma morena alta, elegantemente vestida, irrompeu no quarto.
—
Penélope! — disse o homem a seu lado.
—
Bem, pelo menos você se recorda do meu nome. Aparentemente, esqueceu-se de que
hoje é o dia de nosso casamento.
O
olhar dela percorreu com insolência a figura de Cassidy, mas imediatamente
descartou-a, como se ela fosse insignificante. Cassidy sentou-se na cama, tendo
o cuidado de manter o lençol apertado junto ao peito. Conhecia bem o tipo de
Penélope. Unhas feitas e pintadas, cabelos meticulosamente penteados, roupa de
grife, maquiagem exagerada e meias de seda cobrindo as pernas esbeltas e bem
delineadas.
Cassidy
a detestou. Mulherzinha artificial e vulgar.
Penélope
tinha uma expressão exasperada na face.
—
Suponho que posso lhe perdoar por esta pequena indiscrição, Blake. Afinal, não
estamos casados ainda, e tudo indica que você jamais verá esta - essa mulher outra vez. Pois, claro, ela não é
de nossa classe social.
Que
ousadia! - pensou Cassidy, fuzilando a outra mulher com os olhos. Aquela bruxa
refinada certamente merecia uma lição. Cassidy não era do tipo de mulher que
levava desaforo para casa.
—
Mas, Blake, querido — murmurou Cassidy com doçura, virando-se para ele. A face
de Blake tinha uma expressão de total espanto —, você prometeu que
continuaríamos nos vendo, mesmo depois que estiver casado. Lembra-se? Você
disse que sua futura esposa era tão fria que podia fazer o deserto do Saara
congelar e que paixão era uma palavra que ela nunca ouvira.
—
Não sei o que você está tentando fazer... — começou ele.
Penélope
o interrompeu.
—
Bem, se é assim que você se sente em relação a mim, pode esquecer o casamento e
ficar na cama com sua... amante.
Girando
nos saltos altíssimos, ela saiu pela porta como um vendaval.
—
Penélope!
Blake
começou a levantar-se, puxando o lençol com ele, deixando Cassidy completamente
descoberta. Ela puxou o lençol de volta para si.
—
Dê-me o lençol — ordenou ele por entre os dentes.
Ela
meneou a cabeça.
Ele
puxou-o com força.
Ela
puxou com mais força ainda, sempre tentando cobrir os seios.
—
De modo algum, seu grosso — disse ela.
—
Se bem me lembro, você não foi assim tão recatada a noite passada — declarou
ele com sarcasmo.
—
Como você se atreve?
Ele
avançou para ela, parando a apenas alguns centímetros de distância.
O
homem tinha o rosto mais sexy que ela jamais vira, mesmo tão zangado quanto
parecia estar no momento.
—
Quem você pensa que é? — perguntou ele. — Não devia ter mentido para Penélope,
fazendo-a pensar que somos amantes. Agora, quero algumas respostas,
rapidamente.
Ela
perguntou-se se ele sabia que formava uma leve covinha no queixo quando ficava
bravo.
—
Bem? Estou esperando.
— Ela
me deixou louca, fora de mim — respondeu Cassidy, dando de ombros e então teve
que agarrar o lençol que caíra.
—
Ela a deixou louca? — As palavras seguintes foram surpreendentemente calmas: —
Vamos ser honestos. Você pavoneou seu corpo diante de mim. Então meteu-se na
minha cama. Minha noiva entra e a vê aqui, a meu lado, despida sob o lençol, e
você diz que arruinou minha vida porque ela a deixou louca?
—
Eu não fiz isso!
Os
punhos dele se contraíram.
—
Qual parte você não fez?
Cassidy
desviou os olhos dele, de repente temerosa que fora longe demais. Afinal,
encontrava-se na cama com um total estranho, sem roupa alguma, e sem modo de
defender-se.
—
Eu não me pavoneei — começou ela, devagar. — E não sei como vim parar na sua
cama. A última coisa que me lembro é do homem com cabelos louros que estava
levando-me para casa. — Sabendo que, em parte, errara, acrescentou: — Certo,
insinuei para sua noiva que tínhamos um caso, o que é uma mentira, mas a culpa
não foi toda minha. Ela me deixou louca e eu...
—
Andy.
—
Quem?
Ele
encostou-se na cabeceira da cama, fechando os olhos, o cenho franzido pela
concentração. Momentos depois, falou:
—
Meu irmão caçula. Ele nunca quis que esse casamento acontecesse.
Ele
abriu os olhos e ela desejou que ele não a olhasse daquele jeito, com olhos tão
profundos e penetrantes.
—
Quanto ele lhe pagou?
Por
que deveria ele preocupar-se com quanto Tom lhe pagara?
—
Cem dólares — respondeu ela, confusa.
—
E cem dólares vale arruinar duas vidas? Você poderia ter vindo a mim e
contar-me sobre a proposta de Andy. Eu lhe teria pagado o dobro para ficar
longe da minha vida.
— Mas...
Eu estava falando sobre meu serviço de sair do bolo, não sobre ir para sua
cama. Com isso, não tenho nada a ver. Fui usada, tanto quanto você.
Ela
fora um bode expiatório numa disputa familiar. Bem, estava pronta para pôr um
fim no jogo. Olhando-o, notou que ele ainda parecia cético.
—
Acredite no que quiser, mas acho que já tive muito de sua família por hoje. É
hora de eu ir para casa, onde ainda há algum indício de sanidade.
Quanto
mais rápido estivesse fora da vida dele, melhor.
—
A propósito — começou ele, parecendo relaxado, ali encostado contra a cabeceira
da cama —, quem disse que você tem que ficar? Até parece que a estou forçando.
Cassidy
estreitou os olhos. Havia alguma coisa nele. Algo que ela estava prestes a
descobrir, algo tão palpável que quase poderia tocar. Então, outra vez, poderia
estar imaginando coisas. E por que não deveria? Não era todos os dias que
acordava na cama com um estranho.
Ela
puxou o lençol, cobrindo-se mais ainda.
—
Se você me der a coberta, irei embora — murmurou, empertigada.
—
De jeito algum.
A
cabeça de Cassidy ergueu-se com altivez. Ela tinha a impressão de que ele
estava começando a divertir-se.
—
Bem, nós não podemos ficar aqui o dia inteiro.
—
Por que não? Não tenho nada melhor para fazer. Certamente, não vou me casar
mais.
Uma
onda de culpa a assolou. Sem querer, arruinara o dia do casamento dele, tanto
quanto seu irmão, Andy.
— Talvez
você possa ligar para sua noiva. — Cassidy, na verdade, detestava a idéia. —
Direi a ela que menti.
— Você
não conhece Penélope. Ela ficará deprimida por pelo menos um mês. Se falar com
ela, somente fará as coisas piorarem — disse ele, meneando a cabeça. Então, de
súbito, a encarou. — Feche os olhos.
Ela
o fitou, desconfiada.
—
Não se preocupe, eu não vou enfeitiçá-la. Pensei em levantar-me. A
menos, é claro, que você prefira que eu não me levante.
Ele
inclinou-se em sua direção.
Cassidy
rapidamente fechou os olhos. Podia jurar que ouviu uma risada, mas outros sons
capturaram sua atenção. O farfalhar do lençol, o quase silencioso ruído de
passos através do assoalho de madeira.
Sua
boca de repente ficou seca.
O
que eles teriam feito na noite anterior para que ela imaginasse tão bem o corpo
dele nu?
Não,
não podia pensar daquela maneira. Nada acontecera. Não podia ter acontecido.
Aquele homem era um estranho.
—
Eu disse que você pode abrir os olhos agora.
Cassidy
saltou ao som da voz masculina e abriu os olhos. Ele estava usando um roupão de
tecido felpudo até os joelhos. Ela deu um suspiro de alívio, e então,
silenciosamente, puniu-se. O que esperava? Que ele ainda estaria nu? Engraçado,
mas assim que pensou nisso, uma deliciosa excitação percorreu sua espinha.
—
Eu a deixarei vestir-se e então a levarei para casa de carro.
—
Não será necessário — replicou ela. Quanto mais cedo desaparecesse dali,
melhor se sentiria. — Eu chamarei um táxi.
—
Mas eu insisto. É o mínimo que posso fazer, já que, como você disse, é tão
inocente no esquema de Andy quanto eu.
Cassidy
não estava certa de que ele estava sendo sincero. Podia pôr toda a culpa nela,
se quisesse.
Contanto
que ela não tivesse que vê-lo novamente.
Quando
a porta fechou-se atrás dele, ela atirou o lençol para o lado e ficou de pé.
Uma rápida pesquisa no quarto e descobriu que estava sem roupa alguma para
vestir. Nem mesmo a ridícula fantasia que usara na noite anterior. Puxando o
lençol da cama, enrolou-se nele num estilo sarongue, atirando a ponta final
sobre o ombro nu.
Ela
foi então até a cozinha. Blake estava de costas, as palmas das mãos espalhadas
sobre o balcão, enquanto permanecia perto da cafeteira. Percebendo sua
presença, ele virou-se com a indefectível sobrancelha grossa alçada em aspecto
interrogativo.
Meu
Deus, para que toda aquela altivez? Ele seria tão mais bonito se não tivesse
aquela aparência arrogante.
Ela
pigarreou.
—
Parece que não tenho nenhuma roupa no momento.
Cassidy
enrubesceu. Se alguma vez encontrasse o irmão dele, o tal de Andy, ficaria
tentada a cometer um crime. Estava certa de que ele era o culpado que levara
suas roupas.
Os
lábios de Blake comprimiram-se, mas ele não disse uma palavra quando passou por
ela em direção ao quarto de dormir. Agarrando o lençol enrolado no corpo, ela o
seguiu, tentando acompanhar os longos passos.
Blake
abriu a porta do closet e, empurrando cabides para o lado, puxou um
vestido de mulher.
—
Isto é o melhor que posso fazer. A menos que você prefira ir a uma loja,
comprar alguma coisa.
Cassidy
observou o vestido azul-marinho que ele lhe estendia e olhou-o com uma
expressão interrogativa no rosto.
— Por
Deus, garota, não sou um travesti, se é o que está pensando. Este vestido
pertence à Penélope.
O
pensamento não tinha sequer entrado na sua mente, mas ela não ficaria surpresa
por nada que aquela família fizesse.
—
Se você não quiser usá-lo, apenas diga não, mas pare de me olhar como se eu fosse
uma espécie de monstro pré-histórico que engole donzelas.
—
Pode ficar descansado que nunca tive medo de monstros — disse ela, tomando o
vestido das mãos dele. — Isso ajudará muito. Você se importa se eu usar seu
chuveiro?
—
Fique à vontade.
Depois
que ele deixou o quarto, Cassidy foi para a única outra porta, imaginando que
seria o banheiro. Abrindo-a, parou, espantada. Dentro do banheiro amarelo e
branco, estava a maior banheira que ela já vira. Era do tamanho de uma pequena
piscina.
Na
ponta dos pés, entrou na banheira e deitando-se, deliciou-se com a água tépida.
Há quanto tempo não se ensaboava numa banheira de água quente? Seu minúsculo
apartamento tinha somente um chuveiro. Na maioria das vezes, a água era quase
fria. Sorrindo, afundou-se na banheira e ligou as saídas de água à toda
velocidade.
Blake
perguntou-se por que ela estava demorando tanto dentro do banheiro. Consultou o
relógio outra vez. Quase uma hora se passara desde que deixara o quarto.
Naquele passo, não chegaria no escritório antes da hora do almoço.
Uma
risada amarga escapou de seus lábios. Já avisara sua equipe de funcionários que
não retornaria até o fim da semana. Programara-se para sua lua-de-mel com
Penélope.
Eles
deveriam se casar naquela tarde e seguirem para as Bahamas na manhã seguinte.
Na quinta-feira à noite, deveriam voltar para que ele não perdesse uma reunião
importante na sexta, e Penélope pudesse comparecer ao leilão de caridade de seu
clube. Tudo fora planejado em detalhes.
Mas
o destino, poderoso senhor de suas vidas, mudara tudo, com uma ajuda de Andy,
naturalmente.
Ele
suspirou. Que coisa, sua vida inteira fora arranjada e Andy conseguira
arruiná-la completamente. E o que fazer se seu irmãozinho intrometido pensava
que o casamento era mais uma fusão de negócios do que um matrimônio? Esta era a
escolha dele e de Penélope.
Andy
não se lembrava de a mãe deles haver definhado, depois que o pai falecera, não
vira a tristeza e dor que ela sofrera. Blake lembrava-se daquilo tudo e jurou
que ninguém jamais teria controle sobre suas emoções.
Blake
bebeu o resto do café, sorrindo. Talvez tudo não estivesse perdido ainda.
Penélope poderia ser razoável... algumas vezes. Ele franziu o cenho. Se a
situação não fosse tão séria, poderia rir. Passara a noite com outra mulher, e
se a memória lhe ajudasse, a conhecera muito intimamente, embora nem sequer
lembrasse o seu nome.
Não
que isso lhe importasse. Uma vez que a deixasse em casa, talvez pudesse acertar
as coisas com Penélope, e quanto mais cedo, melhor. Blake caminhou em direção
ao quarto. Justamente quando chegou à porta, ela abriu-se. Ele perdeu o fôlego.
O
vestido azul-marinho era muito comprido e ficara bastante justo, delineando
todas as deliciosas curvas da mulher ali na sua frente. Não só as curvas, mas
todos os lugares certos. Em Penélope, o vestido parecera chique. Naquela moça,
era incrivelmente sexy. Blake engoliu a seco.
—
Eu vim ver se você estava pronta.
—
Desculpe-me por demorar tanto. Não pude resistir à sua banheira.
Uma
imagem imediatamente formou-se na mente de Blake. Ela, deitada de costas, a
água deslizando sobre os vastos seios. Bolhas de sabão aderindo ao corpo nu. As
palmas de sua mão começaram a transpirar quando uma imagem de como seria o
corpo dela, molhado sobre ele, lhe veio à mente.
Estranho,
pensou. Seu próprio corpo estava reagindo como uma fogueira ardente. A mulher
deveria ser alguma espécie de feiticeira, espargindo seu feitiço sobre homens
desprevenidos.
Ele
pigarreou.
—
Pessoalmente, prefiro uma boa ducha. Menos desperdício de tempo — Ele passou
por ela. — Se me der alguns minutos, eu a levarei para casa. — Sem esperar
resposta, ele entrou no quarto e fechou a porta.
Levá-la
para casa. Pois sim. Ela não precisava dele para nada.
Sr...
Ela foi até a mesa mais próxima, pegou um envelope e olhou para quem estava
endereçado.
Parecia
que o sr. Blake Lawrence possuía sua própria agência de publicidade.
Ela
ergueu o nariz no ar, numa pose altaneira e fez um beicinho em direção da porta
do quarto onde ele estava.
—
Você não vai me jogar na soleira da minha porta como um lixo de ontem. Posso
muito bem ir sozinha, muito obrigada.
Ela
deu um rápido telefonema e depois dirigiu-se para a porta, e para fora da vida
de Blake, para sempre.
Cassidy
pegou um copo de água para tomar um comprimido anti-gripal na minúscula cozinha
de seu apartamento.
Será
que não conseguiria nunca mais se livrar daquela bendita gripe?
Nas
primeiras duas semanas não se preocupara
muito, mas outra semana se passara. E mais outra.
Aquilo
era tudo por culpa de Tom. Quando ele a pagara no dia seguinte da despedida de
solteiro, estava tossindo e fungando. Não somente o trabalho fora um desastre,
como agora ela tinha a gripe para recordá-la de tudo que queria esquecer.
Suas
pernas tremiam quando ficava de pé. Precisava ficar deitada e tomar muita
Vitamina C, era dito popular. Na verdade, precisava se cuidar.
Olhou
para seu alvo, o sofá da sala. Amparando-se na parede, dirigiu-se até lá.
Apenas alguns passos e poderia descansar.
A
campainha da porta tocou e ela sentiu um aperto no estômago.
Companhia
hoje não, pensou.
Se
não atendesse, talvez a pessoa desistisse.
A
campainha voltou a tocar, agora com mais insistência.
Com
um suspiro de desgosto, ela se dirigiu à porta. Suor gotejava de sua testa. A
cabeça latejava.
Se
a pessoa do outro lado da porta soubesse o quanto ela estava perto de um
desmaio, com certeza desistiria e a deixaria em paz.
No
momento que Cassidy pôs a mão na maçaneta, a campainha tocou de novo. Ela abriu
a porta querendo que a visita inesperada visse seu estado lastimável e se
sentisse culpada por perturbá-la.
—
Puxa, Cassy, pensei que você não fosse abrir — disse Shelley, entrando sem ser
convidada. — Achei que ficaria feliz em ver sua melhor amiga, uma vez que
estive fora por um mês.
Ela
pegou uma caixa de biscoitos na mesa de centro de Cassidy e abriu a tampa.
Cassidy
teve tempo somente de olhar a caixa e o cheiro da geléia de morango do recheio
a nauseou.
—
Oh, meu Deus!
Ela
cobriu a boca com a mão e correu para o banheiro.
Quando
Cassidy acabou de vomitar, Shelley estendeu-lhe uma toalha e ajudou-a a voltar
para o sofá. Felizmente, a amiga removera os biscoitos da sua vista.
—
Meu Deus, querida, você está realmente doente.
— Não!
Estou brincando — murmurou Cassidy, tampando os olhos com a toalha.
—
Você já foi ao médico?
— Não,
não tenho condições de pagar um.
—
Há quanto tempo está assim?
Cassidy
realmente gostava da amiga, mas gostaria que ela parasse de fazer tantas
perguntas. Tudo que queria era ficar deitada ali e sofrer em paz. Sabia que isso não
aconteceria. Shelley era uma tagarela nata e, apesar de não ser muito mais
velha, às vezes, agia como sua mãe. Não seria do estilo de Shelley deixá-la
sofrer sem obter algumas respostas.
—
Não me recordo exatamente. Talvez um mês.
—
Humm.
Cassidy
levantou um canto da toalha.
— O
que isso pode significar?
—
Não estou certa. Conte-me seus sintomas.
—
Tudo me dá enjôo. Só de pensar em comida, meu estômago dá uma reviravolta.
—
Febre? Tosse? Congestão?
Cassidy
meneou a cabeça, mas parou quando o movimento revirou seu estômago novamente.
—
Você foi cuidadosa?
Agora,
aquela era uma pergunta tola.
—
Suponho que não, caso contrário, como eu ia pegar esse vírus?
Shelley
riu.
—
Não querida, não foi o que perguntei. Eu disse se foi cuidadosa com um homem.
—
Oh, não! Não, não, mil vezes não. Não posso estar grávida. Nós... ele... eu...
—
Acalme-se. Isso não pode ser tão mau — disse a amiga. — Quando você ficou
menstruada pela última vez?
Lágrimas
encheram os olhos de Cassidy. Ela fungou. Outro sinal de mudança de hormônios,
porque nunca chorava.
Não
precisava fazer as contas, pois se lembrava muito bem que menstruara duas
semanas antes da festa de solteiro e então, não mais. Como podia ter sido tão
tola para não adivinhar? Talvez porque se convencera de que nada realmente
acontecera naquela noite fatídica. Quantas vezes dissera a si mesma que tudo
aquilo fora um sonho?
Shelley
ficou séria.
—
Você quer o bebê?
Levou
um minuto para as palavras da amiga atingirem seu cérebro. Alguns instantes no
consultório médico e seu problema podia ser resolvido. Uma mão protetora
descansou sobre o estômago.
—
Sim — foi a resposta.
—
Tudo bem. Você não tem que fazer nada que não queira. Conte ao pai. Talvez ele
ajudará.
— Ele
nem sequer sabe meu nome — sussurrou ela.
—
Bem, talvez seja hora de saber.
Cassidy
lembrou-se dos olhos cinza-metálicos. Tão escuros como uma "nuvem
carregada". Não era provável que ele quisesse ajudá-la, principalmente
depois de que ela ter sido o instrumento que arruinou seu casamento. Por que
tudo tinha que acontecer a ela?
—
Não é justo — resmungou Cassidy. — Tudo que deixei para ele foi um anel na
banheira.
—
Nancy, quero que aquelas cartas sejam postadas hoje, sem falta — disse Blake,
vasculhando uma pilha de papéis sobre sua mesa.
—
Sim, sr. Lawrence.
—
Programe um almoço com Sean Carmichael no dia quatorze. E lembre-se, não agende
nenhum compromisso para os próximos dias. Nada me fará perder este casamento.
—
Sim, senhor, e suas passagens para Bahamas chegaram mais cedo. Tenho certeza de
que você e a sita. Winthrop se divertirão bastante.
Ele
pegou uma pilha de folhas de papel e começou a rascunhar, efetivamente
dispensando a secretária.
Blake
empurrou os papéis para o lado e reclinou-se na sua cadeira de couro preto. Deu
um sorriso de satisfação. Sean Carmichael. Sua firma de publicidade correra
atrás daquela conta por anos. É claro, Blake tinha que dar a maior parte do
crédito à Penélope. Fora ela quem persuadira Sean a entregar a conta à firma de
Blake. E então de novo, fora Blake quem finalmente fizera Penélope entender que
tinha sido Andy quem armara toda aquela confusão.
Andy
confessara o esquema inteiro. Reunir o irmão com a dançarina do bolo, e então
fazer Penélope chegar na manhã seguinte.
Blake
levara dois meses para convencer Penélope de que o casamento deles seria muito
lucrativo. E agora, dentro de três dias, estariam casados. Tudo estava
funcionando às mil maravilhas.
Exceto
pelo contínuo sentimento de culpa que não o deixava em paz. Sabia que não era
culpa sua o fato de a moça terminar na sua cama. Andy teve que assumir a culpa
por aquilo.
Entretanto,
amolava-o nem mesmo saber o nome dela. Além do fato de que não fora capaz de
tirá-la do pensamento. Seria mais fácil se não tivesse aqueles benditos sonhos
quase todas as noites.
Sonhos
eróticos, cheios de paixão. Corpos nus, suados, entrelaçados. Ele mudou de
posição na cadeira, sentindo-se desconfortável.
Então
o telefone tocou, interrompendo-lhe o pensamento de uma noite sensual passada
com uma total estranha. Noite que nunca seria repetida.
—
Sim? — respondeu ele.
—
Sr. Lawrence, há uma mulher aqui querendo vê-lo, chamada Cassidy Jones.
—
Não conheço nenhuma Cassidy Jones. Agende uma visita.
—
Sim, senhor.
Blake
recostou-se novamente na cadeira, os pensamentos voltando para a brincadeira de
mau gosto de Andy. Ele tiraria aquela mulher da cabeça. Ele e Penélope teriam
um casamento perfeito, não lhe dando razão para pensar mais na garota da
despedida de solteiro.
O
telefone tocou de novo.
—
Sim, Nancy, o que é agora? — respondeu ele, exasperado.
—
Sinto muito, mas a jovem diz que é extremamente importante falar com você.
Ele
franziu o cenho. Geralmente, Nancy era muito eficiente como secretária.
—
Diga-lhe para marcar uma hora.
—
Bem, eu já disse isso.
—
E?
—
A jovem insiste que não sairá daqui até que tenha a chance de falar com você, e
que se tiver que acampar na saleta de recepção, acampará.
Blake
não se lembrava de ver Nancy tão nervosa e atrapalhada, e tinha que admitir que
estava curioso para descobrir o que podia ser tão importante para alguém
ameaçar passar a noite na sala de recepção.
—
Tudo bem. Mande-a entrar.
Cassidy
umedeceu os lábios secos com a língua. Agora que o momento chegara, não estava
certa se podia levar em frente sua decisão.
Não,
não ficaria nervosa. Outro mês se passara. Se esperasse por mais tempo, não
haveria razão para explicar seu dilema.
Pelo
menos, vira a correspondência do homem antes de deixar o apartamento e
lembrou-se onde o escritório dele ficava. Não podia voltar atrás agora. Não
depois do que eles tinham lhe feito.
—
Senhorita, você pode entrar. O sr. Lawrence a atenderá agora — disse Nancy.
Respirando
fundo, ela adentrou a "jaula do leão".
A
face de Blake expressou profunda surpresa.
—
Bem, devo dizer que não esperava vê-la novamente.
Ela
colocou uma sacola de papelão sobre a mesa dele.
—
Eu trouxe o vestido de volta — murmurou em tom desafiador.
— Você
não precisava ter se incomodado. Penélope jamais sentiria falta dele.
—
O vestido não era meu. Tinha que devolvê-lo.
—
Sim. Você é muito honesta.
Ela
corou fortemente e queria disfarçar o rubor. Ele não a deixava esquecer o que
ela dissera à preciosa Penélope.
—
Isso é tudo o que você queria?
Ela
sentiu-se enrubescer ainda mais. Como poderia dizer a um estranho que estava
grávida de seu filho? Ajudaria se apenas ele não fosse tão absurdamente bonito
e sexy.
E
aqueles sonhos que a incomodavam o tempo todo? Quantas vezes acordara pensando
nas mãos másculas acariciando-a, pressionando o corpo nu contra o seu? Dois
corpos fundindo-se no calor da paixão. Ela fechou os olhos, gemendo.
—
Você esta doente? — perguntou ele com voz preocupada.
Cassidy
sentou-se na cadeira oposta à dele. O estômago revolveu-se só de pensar na
noite que passaram juntos.
Ela
abaixou a cabeça. Shelley dissera que aquilo poderia diminuir o enjôo.
—
Você está doente? — repetiu ele.
—
Não — murmurou ela. — Apenas grávida.
—
O que foi que você disse?
O
espanto dele era notório. Cassidy ergueu a cabeça. Sua face estava quase sem
cor.
—
Eu disse que estou grávida.
Ele
ficou silencioso.
Ela
prendeu a respiração, lutando contra o crescente enjôo, enquanto esperava que
ele falasse algo, qualquer coisa.
—
A criança é minha?
—
Não, fui fecundada por um alienígena — respondeu ela com sarcasmo.
—
Acredito que eu tenha direito a algumas respostas. É claro que ele tinha.
—
Sim, a criança é sua.
Blake
levantou-se e começou a caminhar pela sala.
—
Estamos no século XXI. As mulheres não ficam grávidas, a menos que queiram —
Ele olhou-a diretamente. — Você nunca pensou nisso?
—
Não, não pensei, todavia não era a minha intenção ser posta na sua cama,
também! E desde que você declarou que estamos na idade moderna, não foi minha
responsabilidade o que aconteceu.
Ela
abruptamente ficou de pé com as mãos sobre os quadris. O peito arfava de raiva.
Sua
raiva somente durou alguns segundos, quando o estômago começou a ficar
embrulhado. Ela diminuiu o ritmo da respiração, o que não ajudou em nada.
Blake
sequer tomou conhecimento dos sintomas dela.
—
Qualquer mulher no seu juízo normal teria se preparado para a possibilidade de
alguma coisa acontecer, mas imagino que você nunca...
Cassidy
não o ouvia mais, enquanto procurava, freneticamente, uma porta que pudesse
levá-la ao banheiro. Qualquer lugar que pudesse alcançar rapidamente.
A
única possível solução foi a cesta de lixo que estava ao lado de seu pé. Ela
curvou-se e imediatamente vomitou. Quando acabou, percebeu que ele a estava
segurando pelos ombros, muito sem jeito, batendo-lhe nas costas.
—
Sinto muito — murmurou ela.
—
Não, sou eu quem deve se desculpar. Eu não tinha o direito de esbravejar contra
uma mulher no seu... estado. Você gostaria de deitar-se?
— Ficarei
boa num momento. Todavia, eu gostaria de lavar a boca.
Ela
não insinuou que ele a conduzisse até a porta do banheiro. Sentiu-se como uma
inválida pela maneira que ele segurou seu cotovelo. E a secretária olhava-a
como se ela fosse um monstro de sete cabeças.
—
Por favor, ficarei ótima tão logo lave meu rosto.
—
Tem certeza?
Por
um momento, ela pensou que ele pudesse entrar no banheiro com ela para
certificar-se.
—
Absoluta.
Uma
espiada no seu reflexo no espelho quase a fez enjoar de novo.
O
rosto estava pálido, a testa transpirando e a maquiagem borrada sob um dos
olhos. Não era de admirar que a secretária a olhara com tanta estranheza.
Provavelmente, pensara que seu chefe esmurrara a mulher louca que ameaçara
acampar na sala de recepção.
Cassidy
encostou a cabeça no vidro frio do espelho. Gostaria que o dia tivesse
terminado, ou melhor, que nunca tivesse começado. Uma lágrima correu pela sua
face.
Oh,
Senhor, não ficara grávida de propósito, pensou.
Claro,
queria filhos algum dia. Sendo filha única, já passara muito tempo sonhando em
ter uma grande família.
Seus
sonhos não incluíam alguém como Blake Lawrence na sua vida. Sério e carrancudo
não eram traços de personalidades ideais para o homem que seria o pai de seus
filhos.
—
Você precisa de alguma ajuda? — perguntou uma voz do outro lado da porta.
—
Um minuto apenas — respondeu ela.
A
última coisa que precisava era Blake entrando ali.
Ela
enxaguou a boca e lavou o rosto. Sacando uma escova da bolsa, deu um jeito nos
cabelos. Terminou com um toque de batom nos lábios e uma pastilha de hortelã na
boca.
Blake
estava encostado na parede oposta quando ela saiu do banheiro.
—
Temos que conversar, longe daqui. Venha, vamos dar um passeio de carro. Ar
fresco lhe fará bem.
Ainda
sentindo-se um pouco fraca, Cassidy não teve forças para argumentar.
Eles
não voltaram a conversar até que ela entrou no carro.
—
O que você está planejando fazer sobre o bebê?
As
palavras dele caíram como pedras de gelo batendo no fundo de um copo.
—
Não quero abortar, se é o que você está perguntando.
Ela
detestou continuar, mas suas próximas palavras tinham que ser ditas:
—
Eu preciso de ajuda financeira. Não precisarei de muito, e lhe devolverei tudo
tão logo possa voltar a trabalhar. Posso conseguir um lugar barato para morar.
Quando esse enjôo passar, provavelmente poderei até mesmo trabalhar.
—
Não — interrompeu ele, calmamente.
—
Não? — sussurrou ela, espantada que ele pudesse ser tão insensível. O que ela
faria? Lágrimas inundaram seus olhos.
Sua
visão ficou completamente ofuscada com as próximas palavras de Blake.
—
Nós nos casaremos.
Capítulo
III
Casar?
— Mas
eu não quero me casar com você!
Cassidy
esperara tudo, menos isso. A idéia era hilariante. Eles nem sequer se
conheciam. Certamente, ele não estava falando sério.
Ela
voltou-se para encará-lo. O queixo de Blake projetava uma linha determinada.
Quando ele a olhou, Cassidy soube que aquele era um tipo de homem que não
brincava.
—
É a única solução — disse ele. — Não quero meu filho crescendo com o rótulo de
bastardo.
Puxa
vida! O homem que ela subestimara aparentemente tinha padrões de alta moral.
Suspirando,
ela começou a explicar a situação:
—
Mulheres solteiras mantêm seus bebês hoje em dia e ninguém pensa mal delas ou de seus filhos.
Tudo o que estou pedindo é um pequeno empréstimo. Se você quiser, pode até
mesmo redigir um contrato, eximindo-o de qualquer futura responsabilidade.
Ela
sentiu-se muito orgulhosa da maneira como explicou tudo.
—
Eu não me importo com o que outras mulheres solteiras fazem.
Cassidy
sentiu seu estado de espírito começar a cair. A maneira que planejara não
estava funcionando e as próximas palavras dele confirmaram seu temor:
—
Já tomei minha decisão. Nós nos casaremos essa semana.
Muito
bem, então ela fora um instrumento que arruinara o futuro dele com Penélope.
Agora, ele pretendia arruinar-lhe a vida como vingança. Certo, ele tinha uma
aparência sexy. Mas, como marido, ela tinha dúvidas. E como se eximir daquela
situação desagradável? Só havia um meio: mentir.
Seus
olhos se cruzaram, mas ela não conseguiu manter o olhar e dizer o que
pretendia. Abaixando a cabeça, falou:
—
E se o bebê não for seu? Ou talvez, eu não esteja realmente grávida.
—
Você fez o teste de gravidez?
—
Bem, sim. Mas não consultei o médico.
—
E o teste deu positivo?
Ele
certamente não estava facilitando as coisas.
—
Sim, mas...
—
Poderia alguém mais ser o pai da criança?
Cassidy
enrubesceu. Abriu a boca, mas as palavras não saíram. Seus olhares se cruzaram
novamente, naquele momento, ela soube que fora pega. Atuar nunca fora seu ponto
forte.
—
Isto foi o que pensei — murmurou ele com um sorriso de satisfação!
Ele
achava que tinha todas as respostas. Era a hora de aprender que ela não
obedecia a ordens de ninguém.
—
Entretanto, isso não significa que vou casar-me com você.
—
Você se casará — afirmou ele, dando a partida no carro.
—
Não, não me casarei.
Ele
virou-se para ela.
—
Você se casará comigo e essa criança terá meu nome. Quer que eu lhe diga como
sei disso?
Ela
achava que não, mas ele não estava lhe dando uma escolha.
—
Tenho dinheiro e influências. Posso lhe dizer o primeiro nome de todos os
juizes da cidade. E o nome de suas esposas. Não seria difícil convencer um
deles que você não seria uma mãe capacitada. Se você quiser fazer parte da vida
deste bebê depois que ele nascer, fará o que estou dizendo.
Blake
sabia que estava sendo duro demais, mas ela tinha que ver que aquela era a
única solução. O bebê era dele. Sentia isso. Não tinha culpa por ela ter
acabado na sua cama, mas era, pelo menos, parcialmente culpado da gravidez.
—
Bem, qual é a sua resposta? — perguntou ele.
—
Tudo bem. Eu me casarei com você — respondeu ela sem olhá-lo.
—
Então está combinado. Faremos o exame de sangue hoje.
— Tão
rápido?
—
Quanto mais cedo melhor.
Ele
não podia evitar ter pena de Cassidy. Eles podiam ter o bebê juntos, mas eram
ainda dois estranhos.
—
Por quê? — sussurrou ela.
—
Por que o quê?
—
Por que você se incomoda com o que acontece com o bebê?
Que
espécie de homem ela pensava que ele era?
— Você
não deve ter uma opinião muito elevada de mim, Cassidy.
—
Na verdade, não tenho opinião alguma sobre você. Apenas nunca pensei que
quereria assumir a responsabilidade de um filho.
—Alguns
homens podem se sentir dessa maneira. Mas eu assumo a responsabilidade do que
me pertence.
Os
olhos dela ficaram tristes. Ele quis puxá-la para os seus braços. Deixá-la
descansar a cabeça no seu ombro, e dizer-lhe que não se preocupasse, que tudo
correria da melhor maneira.
Cassidy
era tão bonita. A pele bronzeada a deixava muito sedutora. Ele gostaria de pôr
a mão nos cachos sedosos de seus cabelos, sentir o corpo delicado contra o seu.
Meu
Deus, quando seus pensamentos mudaram de direção? Sempre controlara usa vida.
Nenhuma mulher, por mais sedutora que fosse, podia mudar as coisas.
—
Eu não quero me casar com você.
Levou
apenas alguns segundos para que as palavras dela atingissem o cérebro de
Blake.
—
E eu não quero me casar com você — replicou ele.
Por
um momento, ele achou que viu um traço de dor, mas aquilo era ridículo. Por que
Cassidy se importaria que ele não quisesse se casar com ela?
Ele
continuou:
— Ouça,
o casamento somente durará até depois que o bebê nascer. Depois que um tempo
apropriado passar, nós nos divorciaremos tranqüilamente. Posso estabelecer um
acordo de custódia que será legal para ambos.
Ela
não pareceu satisfeita com o plano, mas ele não sabia o que mais fazer. Então,
agarrou a direção com ambas as mãos.
—
Nenhum de nós dois tem escolha. O destino estabeleceu a situação. Cabe a nós
jogar. O jogo está feito.
—
Então ele vai ajudá-la? — perguntou Shelley quando surgiu atrás de Cassidy.
Cassidy
entrou no seu apartamento e acomodou-se diretamente na poltrona azul desbotada.
—
Oh, ele vai ajudar-me, sim.
—
Ótimo. Está vendo? Eu disse que tudo se arranjaria.
—
Sim, ótimo. Blake Lawrence arranjou tudo. Vamos nos casar. Parece que ele tem
um peso na consciência e quer que o bebê tenha seu sobrenome.
Shelley
caiu no sofá com um baque duro, um olhar atônito no rosto.
—
Você disse Blake Lawrence?
—
Por quê? Você o conhece?
—
Querida, ele é o solteiro mais cobiçado da cidade. Tem boa aparência, dinheiro,
um dos mais velhos sobrenomes em Dallas e está... — As palavras morreram na
boca dela.
—
Está o quê?
—
Nada, não. Esquece — respondeu Shelley, brincando com a bainha de seus shorts,
a face vermelha como tomate.
—
Se você não me contar o que sabe, juro que jamais falarei com você novamente.
—
Bem... — Shelley continuou hesitando.
—
Tudo. Quero saber tudo. Todos os detalhes.
Com
um profundo suspiro, Shelley começou:
—
Meses atrás, ele estava noivo de uma socialite afetada, mas algo
aconteceu para separá-los, e ela o dispensou no dia que iriam se casar. Saiu em
todas as colunas de fofocas dos jornais. — Ela baixou o olhar. — Ele... ele
deve casar-se este fim de semana com uma mulher chamada Penny ou coisa
parecida.
—
Oh, meu Deus, Penélope — Cassidy caiu para trás contra a poltrona.
—
Sim, este é o nome. De acordo com os jornais, ela é um pequeno anjo da
sociedade. Eu pessoalmente a acho uma rica esnobe.
Se
a situação não fosse tão séria, Cassidy teria rido. Não queria estar na pele de
Blake quando contasse a Penélope que não haveria casamento.
Vovó
Abigail dizia que problemas sempre seguiam algumas pessoas. Ela tinha razão.
Cassidy não podia recordar-se de uma vez na sua vida em que alguma coisa dera
certo.
—
Talvez isso não seja tão mau — falou sua amiga, trazendo a atenção de Cassidy
de volta ao presente. — Quero dizer, ele deve ter algumas boas qualidades, se
quer dar o nome ao bebê.
—
Bem, se ele tem, não notei ainda — Suas palavras denotavam desgosto. — Oh,
Shelley, você imagina o que vai ser viver com aquele homem?
Shelley
respondeu com uma expressão sonhadora:
—
Acho que eu não me importaria.
—
Você não está sendo de muita serventia — disse Cassidy, irritada.
Shelley
deu de ombros.
—
Não posso evitar. Não vejo nada de errado no que ele está fazendo. Talvez ele
mude de idéia, uma vez que tiver tempo para pensar sobre isso.
—
Duvido muito. Blake é o tipo de homem que tem controle sobre todas as
situações. Não tenho chance de discordar. Se casamento é o que ele quer, então
será casamento o que terá. Uma coisa é certa, se minha vida tem que ser
rompida, a dele também será. Não estou disposta a mudar meu estilo de vida.
—
De algum modo, não posso imaginar o sr. Blake Lawrence cabendo aqui — disse
Shelley, olhando em volta da minúscula sala de estar.
—
Não há nada errado com o modo como vivo. Meu apartamento é confortável e
aconchegante — Cassidy olhou ao redor. Camisolas de renda estavam penduradas na
sua mobília mal combinada. Havia livros espalhados por todos os lados. O
apartamento não estava sujo, somente com lixo acumulado.
—
Talvez ele agradeça uma mudança de seu mundo perfeito.
Shelley
deu uma risada.
—
Qual é a graça? — perguntou Cassidy.
—
Bernard — respondeu Shelley, segurando-se de tanto rir.
—
Qual é o problema com ele?
Ela
levantou-se e caminhou em direção a uma coruja empalhada que resgatara de um
depósito de lixo e dera o nome de Bernard.
—
Além de quase não ter penas, Bernard é horrendo.
—
Não dê atenção a ela — disse Cassidy, estendendo a mão para bater numa asa
aberta da coruja. Uma pena caiu vagarosamente sobre o aparador da lareira. Ela
colocou a pena no lugar de onde caíra — Ela não tem a intenção de dizer uma
palavra do que disse, Bernard. Na verdade, ama você tanto quanto eu.
Outra
gargalhada de Shelley.
—
Oh, minha querida, não estou sentindo pena de você. É Blake que vai ter
problemas de adaptação.
Ela
levou quase o dia inteiro para mudar-se para o apartamento de Blake. Não que
tivesse muita coisa. Blake contratara dois homens para transportar a maioria de
suas coisas para um guarda-móveis e o resto para seu apartamento. Cassidy nunca
vira ninguém se movimentar tão devagar quanto eles. Aparentemente, Blake os
estava pagando por hora.
Contudo,
lá estava ela, olhando em volta do quarto de hóspedes. Raios de sol
infiltravam-se através das janelas, fazendo brilhar o diamante na sua mão
esquerda. Com um sorriso, sentou-se na cama e olhou para a pedra esculpida em
forma de pêra. Não queria o anel, mas novamente, Blake insistira. Ele estava
fazendo muito disso. Insistindo que eles se casassem imediatamente. Insistindo
que ela se mudasse logo.
Ela
não gostava da situação. Aquele era o mundo dele. Um lugar que não a deixava à
vontade, como se a lembrasse o tempo todo: você não pertence a este mundo.
Pouco
importava. Não iria viver ali para sempre. Dentro de poucos meses, o bebê
nasceria e depois de certo tempo, mãe e filho partiriam.
Engraçado
como tal pensamento a fazia sentir-se tão triste. Talvez porque aquele não
fosse seu sonho? Ela girou o anel no dedo diversas vezes, pensativa. Sabia que
alguns casamentos não duravam para sempre, porém, saber que o seu terminaria em
divórcio antes mesmo de começar, parecia quase uma trapaça.
Aquilo
era bobagem, todavia. Quem ela estaria trapaceando? O destino? Ela riu. O
pensamento era ridículo. Então se ergueu da cama com determinação. Faria do
apartamento seu lar, e se o sr. Blake Lawrence não gostasse disso, ele que se
mudasse. Ou, pelo menos, concordasse com seu plano anterior de viverem
separados.
Por
onde começaria? Primeiramente, precisava de música. Quem podia trabalhar sem
música?
—
Bernard — disse ela para a coruja empoleirada numa pilha de caixas fechadas—,
vamos fazer desse lugar um lar. Não mais esterilidade para nós duas.
Olhando
para seu estômago ainda achatado, ela deixou o quarto à procura de música para
animá-la.
O
estéreo estava localizado na sala de estar. Num gabinete anexo, ela encontrou
uma pilha de CDs. Olhou rapidamente para eles.
—
Bah, música de elevador — murmurou.
Estavam
em Dallas, Texas, afinal de contas. Ela queria música tipo sertaneja ou um
ritmo para dançar. Optou pelo rádio, sintonizando na sua estação favorita de
música country.
Em
questão de segundos, a música vibrou no ar e ela elevou o volume. Seu cantor
favorito estava cantando e ela fechou os olhos, balançando o corpo no ritmo do
som. Quando a música terminou, abriu os olhos e encontrou Blake encarando-a da
soleira da porta.
Ele
não parecia muito feliz. Cassidy tentou um sorriso, mas sabia que era fraco
demais para convencer qualquer pessoa.
Sem
dizer uma palavra, ele foi direto para o estéreo e o desligou. Então ele
voltou-se para ela:
—
Temos regras aqui. Você não tocará o estéreo tão alto, arriscando estilhaçar
os vidros das janelas — Sem dizer mais nada, ele passou por ela e foi em
direção ao próprio quarto.
Infantilmente,
Cassidy esticou a língua para ele.
Blake
virou-se e pegou-a em flagrante.
Ela
engoliu a seco, incapaz de falar. Se ele tivesse dito qualquer coisa, como, por
exemplo, que ela deveria crescer e agir conforme sua idade, Cassidy estava
pronta para retaliar de alguma maneira, mas ele fingiu não perceber seu momento
de rebelião infantil.
— É
seu aquele monte de metal velho estacionado na minha vaga?
Ninguém
falava daquele jeito sobre seu pequeno carro azul. Fora duro de pagar
seiscentos dólares por ele. Cassidy não se importava que o azul estava
desbotado e que tinha alguns amassados. Estava muito bem pago. Por ela mesma.
Levantando a cabeça com altivez, falou de modo orgulhoso:
—
Sim, é meu. E daí? Qual é o problema?
—
Nenhum, apenas que tem um pneu furado — anunciou ele, virando-se e indo para o
quarto.
Havia
um cintilar nos olhos acinzentados? Ele estava rindo dela? Cassidy não podia
acreditar nisso. O homem era... era... Ela foi para o quarto de hóspedes e
bateu a porta com toda força, pouco se importando com o que ele pensasse do
barulho.
Aquilo
não ia dar certo, pensou enquanto caminhava pelo quarto pisando sobre as caixas
espalhadas. Eles não chegaram a ficar juntos cinco minutos e ele já estava
repreendendo-a corno uma criança.
Regras,
regras, regras, Blake Lawrence era cheio delas.
Ela
não podia ouvir música alto. Seu carro era apenas um amontoado de metal. Ela
estava ocupando sua vaga. Que coisa terrível!
Virando-se,
tropeçou numa das caixas e feriu um artelho. Murmurando uma praga, sentou-se
na beira da cama e massageou o pé machucado.
Agora,
menina, ele realmente disse que você não podia ouvir música?
Cassidy
sorriu. Era quase como se sua avó Abigail estivesse no quarto com ela.
—
Tudo bem, talvez ele não tenha dito exatamente que não posso ouvir música, mas
chamou meu carro querido de um amontoado de lixo — murmurou. — Ele podia pelo
menos se oferecer para consertar o pneu furado.
Mas
não, o homem não quereria sujar as mãos. Ela não podia culpá-lo. Ele tinha mãos
bonitas. Firmes, porém, gentis. Feitas para acariciar a pele de uma mulher.
Uma
leve batida soou à porta, mas ela saltou como se uma bomba tivesse explodido.
—
Entre — disse ela, esperando que sua face não traísse o que estivera pensando.
Blake
abriu a porta.
—
Pensei que tivesse escutado você falando.
Ótimo,
agora ele provavelmente pensa que sou louca.
—
Bati meu dedo do pé numa caixa, mas sobreviverei.
—
Se você acha que pode andar até a mesa, tomei a liberdade de encomendar comida
chinesa. Aprecia?
Ela
quase teve enjôo só de pensar em
comida. Mas há quanto tempo não saboreava comida chinesa?
Sua
boca ficou cheia de água. Porco agridoce? Pasteizinhos primavera? Frango
xadrez? Uma incontrolável vontade a atingiu. Ela tinha que comer. Agora.
— Acho
que posso comer um pouquinho — respondeu, tentando parecer casual. — Pelo bebê
— acrescentou.
Cassidy
o seguiu. Ele tinha um andar bonito e seguro. Muito autoconfiante. Estava
usando um terno cinza-chumbo, mas tirara o paletó. O torso, mesmo coberto pela
camisa, era esbelto e viril. Apropriado para ser tocado pelas mãos de uma
mulher. E as mãos dela, em pensamento, tocavam as lindas nádegas à sua frente.
Blake
de repente parou e ela quase tropeçou nele, dando um passo para trás.
Então
pousou os olhos na mesa de jantar com a refeição sobre a toalha alva.
Cuidadosamente, deu um suspiro profundo. Oh, o aroma. Fechou os olhos,
deliciando-se.
Ela
estava faminta. Quantas semanas haviam se passado da última vez que saboreara o
cheiro de comida?
—
Acho que o bife com brócolis será o prato mais leve para seu estômago — disse
Blake, puxando a cadeira para ela. — Quando fiz o pedido, enfatizei que
mandassem o que havia de mais leve, se é que há comida chinesa leve. Espero que
lhe agrade.
— Estou
certa de que o outro prato é tão temperado que meu estômago reagirá.
Ela
teve que se conformar e apenas vê-lo experimentar cada um dos pratos
condimentados da comida chinesa ali exposta.
—
Sobremesa? — perguntou Blake, oferecendo-lhe um biscoito da sorte.
Imediatamente,
ela estendeu a mão e pegou um dos famosos biscoitos chineses.
Quebrando
a dura crosta do biscoito, puxou o pedacinho de papel de dentro dele.
Distraidamente, leu as palavras escritas no papelzinho. Seus olhos se
arregalaram. Ela olhou através da mesa.
Sim,
certo, pensou
consigo mesma.
Capítulo
IV
— O
que está escrito aí? — perguntou Blake, estranhando a expressão na face de
Cassidy.
—
Oh, nada — replicou ela, tentando um sorriso. — Quem é bobo de acreditar num
pedaço de papel enfiado dentro de um biscoito?
Mulheres
grávidas eram definitivamente estranhas, pensou Blake. Ou talvez fosse somente
ela. Ele supôs que realmente não importava. O que importava era a criança que
carregava. Seu filho.
—
A propósito, não acho uma boa idéia você dirigir aquela... — ele quase disse
"lata velha" — ...seu carro — corrigiu a tempo.
Ela
parou de mastigar o pedaço de biscoito. Definitivamente, ele não simpatizava
com seu carrinho azul.
—
Você tem que admitir que seu carro parece não ser capaz de dar a volta no
quarteirão — redarguiu na defensiva do olhar que ela lhe dirigira. Pigarreando,
tentou explicar seus motivos: — Agora que você está carregando nosso filho, eu
preferiria que não mais dirigisse, entende?
Cassidy
dobrou o guardanapo com cuidado e colocou-o ao lado do prato.
—Você
quer meus sapatos também?
—
Seus... o quê?
—
Não é assim que um homem antiquado, démodé, como dizem os franceses,
acha que uma mulher deve ser? Descalça e grávida. "Mantenha a mulherzinha em casa. Tão mais fácil
para ela ficar longe de problemas".
Blake
começou a rir. Não podia se conter. Cassidy estava longe de ser um tipo de
mulher subserviente. Ela ergueu o queixo e cruzou os braços em frente do peito.
A batida rítmica de seus pés debaixo da mesa quase o fez perder o controle.
—
Você me entendeu errado — murmurou ele. — Pensei que você poderia gostar de
dirigir o BMW.
Ela
descruzou os braços e a batida frenética parou.
Nossa,
como estava bonita com aquele olhar de confusão na face.
Ele
tinha que se lembrar de deixá-la confusa mais vezes.
—
E você, o que dirigirá? — indagou ela.
—
Tenho um outro carro. Deixarei as chaves no aparador do hall, caso você queira
ir a algum lugar. O BMW está a sua disposição. É todo seu.
Ele
hesitou, porém, notando o constrangimento dela por ter julgado mal as suas
intenções, rendeu-se.
—
Ouça, sei que você está atravessando um período de ajustamento. Pense que será
somente por alguns meses. Depois do nascimento de nosso bebê, você pode voltar
para seu próprio apartamento. As únicas vezes que me verá serão quando eu pegar
a criança.
Meu
Deus, o que ele fizera? Em vez de fazê-la sentir-se melhor, Cassidy parecia que
ia chorar. Que Deus o ajudasse. Ou não conseguiria conviver com uma mulher
grávida pelos próximos sete meses.
Ela
era, com certeza, diferente de qualquer mulher que conhecera. A única vez que
Penélope mostrara alguma emoção foi quando o pegou na cama com Cassidy. Sua
noiva anterior conservava os sentimentos para si mesma.
Uma
mulher chorando na frente de Blake o deixava perdido. E ele temia que estivesse
prestes a ter uma mulher histérica nas mãos. Era melhor pensar em alguma coisa
real, rapidamente.
—
Olhe, se falei algo que a aborreceu, peço desculpas.
Ele
sorriu, mesmo que não tivesse idéia de que estava se desculpando, mas o
sorriso desapareceu quando notou um brilho de lágrimas não derramadas refletido
nos olhos dela. Ela fungou e o lábio inferior começou a tremer.
—
Você — o corpo dela se sacudia inteiro —, você não me quer aqui.
—
Se eu não a quisesse aqui, por que insistiria que se mudasse para cá? — apontou
ele, exasperado.
—
Por causa do bebê.
—
Ouça, você está extenuada. Por que não se deita por um momento? A excitação da
mudança a cansou.
Ele
esperava que fosse isso realmente. Viver com Cassidy daquele jeito seria o
suficiente para deixá-lo louco.
Ela
assentiu.
Blake
suspirou aliviado. Pelo menos, ela não ia chorar. Não saberia o que fazer se
ela chorasse. Durante os anos, aprendera tudo sobre publicidade, mas
absolutamente nada sobre lágrimas de uma mulher.
Ambos
levantaram-se e ele caminhou a seu lado para o quarto.
—
Estou certo de que poderemos conviver muito bem pelos próximos meses. Se
pensarmos em nós como colegas de quarto num internato, tudo funcionará
esplendidamente.
Quando
ela deitou-se, Blake puxou o cobertor e cobriu-a.
—
Tentarei — sussurrou ela com voz trêmula.
Ele
sentiu-se vitorioso. Invertera uma catástrofe com sucesso. Era como levar em
frente um negócio. Você somente tinha que saber como lidar com as pessoas. Uma
coisa que estava acostumado a fazer todos os dias.
—
Você se sentirá melhor depois que descansar — afirmou ele. E então viu algo que
lhe chamou a atenção. — Meu Deus, o que é aquilo? — Blake apontou para a
criatura alada pousada numa caixa atrás da porta.
—
Shelley falou que você não gostaria dele e estava certa — disse Cassidy, caindo
em prantos.
—
Como posso não gostar dele quando não sei o que é aquilo?
—
Seu nome é Bernard e é minha coruja de estimação.
Blake
foi até o pássaro empalhado e pegou uma pena do alto da caixa.
—
Detesto dizer-lhe isso, mas Bernard está mudando de penas — Ele fungou uma vez,
então mais uma. — E está cheirando mal.
—
Não está!
A
situação devia ser cômica e Blake quase sorriu, até que olhou para Cassidy
deitada na cama, parecendo tão desprotegida. Seu coração compadeceu-se. Ela
enxugou as lágrimas e então aquele olhar teimoso voltou à face.
—
Se Bernard tiver que ir embora, eu vou junto.
—
Por acaso, eu disse que você tinha que se livrar dele?
—
Não, mas posso jurar que você não gosta dele.
—
Se você conservar Bernie no seu quarto, ele pode ficar por quanto tempo quiser.
—
O nome dele não é Bernie. É Bernard.
Blake
fez uma reverência em direção à coruja.
—
Minhas mais sinceras desculpas, Bernard.
Ela
pareceu satisfeita com a atitude e então Blake saiu do quarto.
Cassidy
era estranha. Não fazia o seu tipo, pensou ele, mas, como aquele casamento não
era real, não importava o que pensava dela.
Engraçado.
Por que aquilo o fazia sentir-se como se pudesse estar perdendo algo
importante? Meneando a cabeça, foi para a sala de jantar e começou a retirar a
louça da mesa. Talvez fosse uma boa coisa não ter se casado com Penélope, se
casamento fazia você sentir-se daquela maneira.
Olhando
para o que restara de comida, seu estômago revolveu-se. Esperava que não
tivesse contraído uma virose. Sentia-se enjoado. Teria que ter cuidado para que
Cassidy não pegasse uma virose por causa dele.
Quando
retirou o prato dela, notou o papelzinho embaixo. No momento que leu as palavras,
começou a gargalhar.
Não
se afaste do caminho que o destino escolheu para você.
Esse
seria o motivo do estranho olhar que dominou as feições dela no fim do jantar?
Será que pensava que se casar com ele era seu destino? Sim, só poderia ser
isso.
Distraidamente,
pegou outro biscoito da sorte e o quebrou. Seu sorriso rapidamente desapareceu
quando leu o vaticínio:
O
destino está freqüentemente perto, mas a consciência disso pode ser cega.
Tolice.
Cassidy estava certa. Era apenas uma porção de bobagens que os chineses
inventavam.
—
Blake? Você está bem? — perguntou Cassidy.
As
palavras dele eram abafadas e ela tinha dificuldade de saber exatamente o que
ele estava dizendo, mas parecia que respondera que estava bem. Ele ficara no
banheiro por algum tempo e o barulho indicava que o estômago do homem não
estava nada bom.
Finalmente,
ele saiu e falou:
—
Não fique muito perto de mim. Não quero que você se contamine com algum vírus
que peguei.
De
fato, ele parecia péssimo. A face estava pálida e a testa úmida.
—
Há algo que eu possa fazer por você?
Ela
não sabia por que devia estar preocupada, mas estava. Cassidy imaginou que era
porque, não muito tempo atrás, sofrerá de indisposição pela gravidez. Agora
que não sentia mais enjôos, podia ser um pouco empática.
—
Talvez uma canja?
Aquilo
podia não ser a melhor coisa a sugerir, pensou ela quando a porta do banheiro
bateu na sua cara. Ele parecera um pouco verde.
—
Tem certeza que não quer ir ao médico comigo hoje? — gritou Cassidy.
Ela
não entendeu a resposta.
—
Você sabe, posso perfeitamente ir sozi...
A
porta se abriu, batendo na parede com estrépito. Bem, pelo menos ele não
estava mais tão verde.
—
Eu disse que iria com você e vou. Quero fazer parte de tudo que tem a ver com o
bebê. Mas, por favor, não mencione comida novamente.
—
Será que você está com gravidez psicológica também? — brincou ela para aliviar
a tensão reinante.
Mas
o olhar que ele lhe devolveu mostrava que a brincadeira não causara o efeito
que ela esperava.
—
Seus exames mostram que tudo está perfeitamente normal, sra. Lawrence. De
acordo com meus cálculos, você está com dois meses e meio de gravidez — O Dr. Matthews sorriu-lhes através da
mesa.
—
Quero que tome algumas vitaminas, imediatamente. Queremos um bebê saudável, não
queremos?
Cassidy
sorriu. Será que o médico idoso era assim tão empolgado com todas suas
pacientes?
— E,
alguma idéia, doutor, se o bebê saudável será um homem bem forte ou uma
princesinha? — perguntou o pai da criança, sorrindo.
—
Muito cedo para uma ultra-sonografia. Você terá que ter paciência.
—
E quanto a mim, doutor? — continuou Blake. — Deverei ficar longe de Cassidy?
Posso me mudar para um hotel até que me livre desse vírus.
O
médico sorriu com discrição.
— Esta
é a razão pela qual pedi à enfermeira para tirar seu sangue. Deveríamos já ter
os resultados — O interfone tocou, interrompe do-o. — Com licença — Ele pegou o
telefone e ouviu o que a secretária dizia. Após desligar, anunciou: — Como eu
suspeitava, você está sofrendo de indisposição matinal da gravidez.
Cassidy
meneou a cabeça.
—
Oh, eu já passei por isso. Na verdade, estou me sentindo ótima.
—
Não você, sra. Lawrence. É do sr. Lawrence que estou falando
—
O quê? — Blake agitou-se na cadeira. — Você está brincando. Homens não pegam
esse tipo de indisposição. Só pode ser uma brincadeira.
—
Realmente não é tão incomum como a maioria das pessoas pensa. Chamamos isso de
dor empática. Na maioria das vezes, não dura muito tempo.
Ele
tirou os óculos e começou a limpá-los com o lenço.
—
É claro, há casos documentados de que o marido sente todos os sintomas da
gravidez da mulher, durante a gestação inteira — ele ajustou os óculos e sorriu
para ambos. — Embora estes casos sejam extremamente raros.
—
Já ouvi falar em gravidez psicológica de cadelas, mas nunca sobre o que Blake
está sentindo — murmurou Cassidy.
—
Isto é ótimo. Formidável — disse Blake. Ele se imaginou no meio de uma reunião
importante, tendo que correr para o banheiro. Como explicaria isso?
Desculpem-me,
cavalheiros, estou passando um mau pedaço com enjôo de gravidez.
Era
só o que me faltava, pensou
Blake.
Capítulo
V
— Não
vejo graça alguma — disse Blake por entre os dentes.
— Você tem razão — concordou Cassidy, contendo-se para não mais rir.
— Você tem razão — concordou Cassidy, contendo-se para não mais rir.
Com
expressão séria, cruzou os dedos sobre o colo. Pelo canto dos olhos, percebeu
que Blake começou a relaxar.
—
Além do mais, isso durará apenas alguns meses. Então suas alterações emocionais
pararão.
—
Que alterações?
Ela
não deveria continuar, mas alguma força invisível a forçava:
—
Oh, você sabe, rompantes de choro, altos e baixos emocionais. Depois disso, há
a dor nas costas, suas mãos e pés incham, você tem que ir ao banheiro a cada
cinco minutos — Neste momento, ousou exagerar: — E então há o parto. Pelo que
ouvi falar, não é somente um trabalho muito difícil, mas é...
Ela
o fitou. Aquele tom esverdeado estava colorindo as faces dele novamente.
—
O médico explicou bem que esses sintomas no homem são apenas questão de empatia
— murmurou ele.
—
Você acha isso?
A
voz de Blake era um pouco rouca:
—
Tenho certeza que passará dentro de poucos dias. E darei um jeito de você comer
bolachas de água pela manhã quando se levantar. Ajudará a cortar a sensação de
enjôo — arrematou ele.
—
Sim, obrigada pela dica.
O
resto da corrida foi em silêncio, cada um perdido nos próprios pensamentos.
Cassidy não conseguia entender por que Blake estava tendo aquele tipo de
sintomas. Afinal, eles não tinham um casamento típico.
Por
que ele sentia qualquer empatia, então? Depois que o bebe nascesse, eles se
divorciariam.
Engraçado,
mas tal pensamento a deixou com vontade de chorar.
Blake
estava se transformando em mais do que ela esperara. Claro, ele insistira em
muitas coisas, mas fora para o próprio bem dela.
Alguns
dos conselhos dele eram sólidos. O bebê realmente precisava conhecer o pai, e
a gravidez seria menos estressante se ela não precisasse preocupar-se com
dinheiro.
Ela
o olhou novamente de soslaio.
Ele
era um homem bonito. Os cabelos negros e espessos apenas tocavam o colarinho. O
peito era largo e musculoso e a barriga reta e firme.
Cassidy
alisou o próprio abdômen. Ainda estava chato, mas sabia que muito breve,
começaria a arredondar-se. Então, o que ele pensaria dela? Ficaria desgostoso?
Chegaria a desejar que ela nunca tivesse se mudado para o apartamento dele?
Ela
meneou a cabeça para afastar tais idéias. O casamento deles era de
conveniência, não do tipo "felizes para sempre". Por que se
preocupava com o que ele pensava sobre sua aparência? Eles nunca tiveram
qualquer espécie de relacionamento.
Blake
nunca se apaixonaria por alguém que pulava de dentro de bolos em festas de
despedida de solteiro.
Na
verdade, ela não se importava nem um pouco por quem ele se apaixonaria.
Blake
rolou na cama, estendendo a mão para o pacote de bolachas de água e sal que
colocara sobre o criado-mudo. Parecia estar havendo uma revolução em seu
estômago. Ele mastigou o biscoito vagarosamente. Com cuidado, atirou as pernas
para o lado da cama e sentou-se nela por alguns minutos. Tudo bem, pode fazer isso.
Afinal,
não era ele que estava grávido, portanto, não havia razão para sentir-se tão
mal.
—
Olá, você está acordado? — gritou Cassidy do lado de fora da porta.
—
Sim. Irei num momento — Ele já se sentia melhor. Indisposição matinal de
gravidez... Nada disso. Blake poderia acabar com aquilo.
—
Ótimo, eu fritei bacon. Como você gosta dos seus ovos? Moles ou duros?
Ele
voou para o banheiro. Vinte minutos depois, Blake juntou-se a ela.
— Imagino
que você não quer o café da manhã, ainda — murmurou ela em tom de empatia.
—
Apenas café preto — disse ele, sentando-se e evitando se movimentar muito.
—
Está indo — replicou ela, alegremente.
Apoiando
os cotovelos sobre a mesa, ele descansou a cabeça nas mãos. Pelo menos, a
sensação de enjôo se fora, por enquanto. Cassidy estava errada quando disse que
provavelmente aquilo duraria alguns dias. Duas semanas já haviam passado e ele
ainda era acometido de indisposição matinal de gravidez.
E
havia uma outra coisa. Por que chamavam os sintomas de indisposição matinal? A
sensação de náusea aparecia a qualquer hora do dia. Sua secretária estava
começando a lhe dar olhares estranhos.
Blake
levantou a cabeça quando Cassidy lhe serviu uma xícara de café. O aroma
peculiar do café flutuou no ar. Ele fungou. Nenhum enjôo. Com precaução, tomou
um gole. Era bom e não sentiu mal-estar algum. Talvez sobreviveria, afinal.
Depois
de alguns minutos, Cassidy pôs um prato de torradas secas sobre a mesa.
—
Você poderia experimentar algumas. Isso não lhe revolverá o estômago.
Pegando
uma torrada, Blake começou a mordiscar enquanto ela deixou a copa de novo. Ele
começou a relaxar. Sentiu-se melhor. A sensação de vazio foi diminuindo,
gradualmente. Cassidy reentrou na copa, carregando seu prato com ovos. Os ovos
fritos pareciam dois imensos olhos, mirando-o. Ele não ousou prová-los.
—
Temos um jantar para ir amanhã à noite — anunciou Blake, mordendo a torrada.
Ela
parou de passar geléia de morango na torrada.
—
Eu preciso ir?
Ele
suspirou.
—
Venho tentando trazer a conta de Sean Carmichael para minha firma de
publicidade há anos. Ele dá muita importância a valores familiares. Ajudaria
muito se você fosse.
—
Haverá muitas pessoas importantes lá?
—
É apenas uma pequena reunião. Provavelmente vinte e cinco ou trinta convidados,
no máximo.
—
Pequena reunião? Cristo amado! Imagina se fosse grande — exclamou ela. — Não
estou certa se serei de grande ajuda.
Começou
ter engulhos quando a observou misturar geléia de morango com ovos. Podia até
sentir o suor começar a gotejar na sua testa. Fechou os olhos e procurou
concentrar-se na festa iminente.
Abrindo
novamente os olhos, em vez de olhar para o prato de Cassidy, olhou-a no rosto.
—
Tudo que você tem a fazer é sorrir muito e fingir que estamos loucamente
apaixonados. E o único meio de convencermos as pessoas de que este casamento
não é uma farsa.
— Mas
não deixa de ser — apontou ela.
—
Eles não precisam saber. Se não quiser fazer isso por mim, então pense no nosso
filho. Algum dia, ele tomará seu lugar na sociedade. Fofoca maldosa pode nos
atingir. Se ele descobrir a verdadeira razão pela qual nos casamos, isso pode
causar um prejuízo emocional.
Ela
parou o garfo no seu caminho para a boca.
—
Acho que você tem razão.
Cassidy
continuou comendo sua mistura de geléia com ovos e Blake teve que sair correndo
da cozinha, direto para o banheiro.
O
que Blake estaria pensando?, perguntou-se Cassidy, observando a rápida retirada
dele. Será que a idéia de os dois fingirem que estavam apaixonados lhe era
repugnante? Bem, certamente não era mais fácil para ela. Pelo menos, ele ainda
vivia na própria casa, enquanto a vida dela dera um giro de cento e oitenta
graus.
Ali
estava ela, num ambiente estranho, grávida, casada com um estranho, e agora
deveria fingir que estava apaixonada por ele. Ela ficou matutando com os
cotovelos fincados na mesa e as mãos na cabeça.
Seria
tão difícil para Blake apaixonar-se por ela?
Ele
quisera alguém como Penélope. Alguém sociavelmente aceita no seu rico círculo
de amigos. O passado de Cassidy não incluía festas suntuosas e vôos de
helicóptero para fins de semana em ilhas paradisíacas particulares.
O
mais perto que chegara do ato de voar foi quando caiu de uma grande árvore do
quintal de sua avó. E o "vôo" durou cinco segundos.
A
única coisa que poderia citar era a sua quase formatura em música. Vovó
Abigail desejara que Cassidy se formasse na faculdade. Levou mais tempo que a
maioria das pessoas, mas, aos tropeções, ela se formaria.
O
sr. Blake Lawrence podia não considerá-la boa o suficiente para ele, mas ela
não se importava realmente. Algum dia teria seu diploma e seria capaz de
lecionar.
Cassidy
sabia que não ficaria rica, contudo, dinheiro não era importante. Contanto que
estivesse fazendo o que amava e pudesse prover um lar decente para seu filho,
nada mais importava.
Ela
ergueu o olhar e franziu o cenho quando observou que Blake deixava o quarto.
Ele estava vestido à perfeição. Terno escuro, gravata de seda pura vermelha,
cabelos bem penteados. Parecia um pouco pálido, mas ela não deu importância ao
fato.
—
Deixei um dos meus cartões de crédito na gaveta do camiseiro. Achei que você
poderia ir às compras esta tarde e encontrar algo que possa usar no jantar
íntimo.
Ela
deixou cair o garfo sobre o prato com um estrépito. Ele pensava que porque
possuía sua própria empresa era o único que tinha alguma coisa de valor? Ela
quase perdeu o controle de seu temperamento, usualmente equilibrado.
—
Quero que você saiba que tenho um guarda-roupa muito bonito e se quiser comprar
algo novo, usarei meu próprio dinheiro.
Então
passou por ele, nem sequer se importando com o olhar intrigado, e entrou no
seu quarto.
Cassidy
tinha que admitir que estava supernervosa pelas circunstâncias. Olhou para seu
reflexo no espelho de corpo inteiro do quarto. Tudo parecia bom. Embora
simples, o vestido era elegante e novo.
Ela
mentira quando dissera a Blake que seu guarda-roupa era adequado. Os poucos
vestidos que possuía já estavam um pouco apertados na cintura. Como usava
calças de agasalho na maioria das vezes, não notara que a barriga estava
começando a aparecer.
Mordendo
os lábios, inspecionou seu reflexo uma última vez. Os cabelos estavam puxados
para trás e presos no alto da cabeça com uma presilha de pérolas falsas. Cachos
curtos emolduravam seu rosto, dando-lhe uma aparência Vitoriana. Ela esperava
muito que Blake não achasse que sua aparência era de madona renascentista.
***
O
vestido azul brilhava quando a luz o atingia. A frente era um pouco curta, mas
Cassidy adorava o modo como o tecido caía em suaves pregas até os tornozelos.
Tentou
colocar um colar ou uma gargantilha como complemento, mas, entre suas
bijuterias, não encontrou nada adequado e, jóias, não possuía nenhuma.
O
vestido fora a coisa mais cara que jamais comprara, e tinha quase esvaziado
suas economias. Mas valera a pena. Blake não teria razão para envergonhar-se
dela. Dando um profundo suspiro, saiu do quarto.
Seu
passos vacilaram e ela parou. Blake estava de pé ao lado da lareira. O smoking
escuro que usava tinha, sem dúvida, sido confeccionado sob medida. Ela de
repente sentiu-se barata no seu vestido de duzentos dólares que achara numa
liquidação. Como podia esperar competir com as mulheres que ele usualmente saía
ou namorava?
Ainda
podia fingir uma dor de cabeça. Dizer-lhe que não poderia, ir, que não estava
se sentindo bem. Começou a virar-se quando ele a viu. Seus olhos se encontraram.
Então, vagarosamente, o olhar de Blake a envolveu de cima a baixo. Seus olhos a
queimaram como uma carícia ardente. Cassidy tremeu quando ele começou a andar
em sua direção, os olhos fazendo-a prisioneira. Quando ele estendeu-lhe a mão,
ela quase teve medo de tomá-la.
—
Você está deslumbrante — sussurrou ele.
Foi
o melhor elogio que ela recebera, porque ele já dissera aquilo, primeiro com os
olhos.
—
Há apenas mais uma coisa que você precisa.
Ela
entristeceu. Do que poderia ter se esquecido?
Cassidy
deixou-o conduzi-la para a lareira. Ele largou sua mão e o calor de um momento
atrás rapidamente desapareceu. Ela ficou surpresa quando ele retirou o quadro
do índio e apareceu um cofre. Blake girou o segredo da fechadura e o cofre se
abriu.
Curiosidade
a atingiu quando ela o viu tirando uma caixa preta longa e fina. Quando ele
abriu, o que estava dentro a deixou sem fôlego. Sobre o veludo negro, havia um
colar de diamante e pérolas. Era a coisa mais bonita que ela jamais vira.
—
Gostaria que você usasse isso esta noite. Pertenceu à minha mãe.
Ela
podia ouvir o coração batendo tão alto que ele certamente ouvia também.
—
Não posso, Blake, deve valer uma fortuna.
Ele
colocou a caixa na abóbada sobre a lareira e tirou o colar.
—
Tolice. Este colar precisa de uma pessoa especial para usá-lo, e não posso
pensar em ninguém mais adequada do que você.
Blake
colocou-se atrás dela.
A
jóia era fria contra a pele, mas os dedos hábeis eram quentes como fogo quando
ele prendeu o fecho. E quando falou, a respiração quente deixou-a com calafrios
de prazer pelo corpo inteiro.
—
E se eu perder isso? — perguntou ela, tocando o colar com os dedos e
voltando-se para encará-lo e perder-se no sorriso do homem elegante a seu lado.
—
Você não perderá. Oh, e no caso de eu me esquecer de lhe dizer mais tarde, você
é a mulher mais bonita na festa esta noite.
Ela
sentiu as faces corarem violentamente.
—
E fica ainda mais bonita quando enrubesce.
Cassidy
sentia-se a própria Cinderela quando se sentou ao lado dele no carro. Podia
quase acreditar que eram um casal feliz de verdade. Não seria muito difícil
fingir, apenas por aquela única noite, que eles eram.
Seu
nervosismo voltou quando ele pegou a estradinha particular que levava à
propriedade de Sean Carmichael.
A
casa era nada menos do que uma mansão, totalmente iluminada pelo lado de fora.
Colunas elevavam-se, apoiando uma sacada em forma de balcão imenso no segundo
andar. Arbustos podados artisticamente completavam a estrutura da mansão.
Ela
sentiu-se uma ave fora do ninho quando Blake parou em frente de portas duplas.
Um
jovem de uniforme vermelho apressou-se para abrir a porta. Hesitante, Cassidy
desceu do carro e imediatamente protegeu o colar com a mão.
—
Você se sairá muito bem. Não se preocupe tanto — sussurrou Blake.
Ela
tentou sorrir, mas sentia-se mal internamente e preocupada que o enjôo
voltasse.
As
portas já estavam abertas quando eles subiram os largos degraus. Risadas
enchiam o ar, mas, em vez de dar-lhe confiança, somente fez suas pernas
tremerem mais.
Cassidy
pendurou-se no braço de Blake quando entraram. Seu olhar varreu a sala e
imediatamente focalizou Penélope Winthrop. Ela quase não ouviu a exclamação
sussurrada de Blake quando Penélope os viu.
Não
fora há pouco tempo que se sentira uma Cinderela? Bem, estava no baile, o
príncipe estava a seu lado, mas esquecera-se de um detalhe importante. A
madrasta má também recebera um convite. E justo agora, Penélope parecia pronta
para destronar Cassidy.
Bem,
dê o melhor de si, disse
a si mesma. Então se empertigou e ergueu a cabeça. Se era uma luta final que
Penélope queria, ela a teria.
O
lado irlandês de Cassidy estava pronto para a batalha.
— Não
faça nada de modo intempestivo. Lembre-se, estamos aqui para causar boa
impressão — disse Blake.
—
Por que você pensa que eu faria alguma coisa incivilizada?
Cassidy
quis que ele se preocupasse um pouco. Blake podia pelo menos ter lhe dito que
Penélope estaria ali. Ela estaria preparada, mais bem capacitada para lidar com
a situação. Mas não, ele lhe impingira sua ex-noiva, inesperadamente.
Shelley
uma vez lhe dissera que ela deveria aprender a representar. Bem, agora era a
sua chance de seguir o conselho.
—
Eu não...
Cassidy
não o deixou terminar o que quer que ele fosse dizer e dirigiu-se para
Penélope. Se não fizesse a inevitável confrontação naquele momento, não teria
sossego pelo resto da noite.
—
Penélope, que bom ver você novamente — O tom de voz de Cassidy era doce, porém,
fria.
O
rosto de Penélope mudou de rosa brilhante para um vermelho escaldante. Ela
engoliu sua raiva e sorriu maliciosamente.
—
Estou surpresa que sua esposa o deixe fora da cama tempo suficiente para
comparecer à festa de Sean — Ela falou para Blake, ignorando a presença de
Cassidy.
Quando
Blake abriu a boca para responder, Cassidy o interrompeu bruscamente:
— Oh,
querida! Você não sabe nem a metade. Pensei que a lua de mel deveria terminar
em poucos dias, mas — ela baixou os olhos —, bem, você sabe como é quando
estamos apaixonadas — As próximas palavras foram ditas quase aos sussurros: — E
nós duas sabemos o quanto Blake é fogoso na cama.
—
Como você se atreve! — exclamou Penélope, avançando suas unhas para Cassidy,
mas Blake interpôs-se entre as duas.
—
Não vamos monopolizar o tempo de Penélope, querida. Além do mais, há alguém que
quero que você conheça.
—
Se você acha que terá Sean como cliente, está completamente enganado — disse
Penélope.
Cassidy
perguntou-se se Blake estava lamentando-se por tê-la levado consigo. O modo
que ele apertava-lhe o cotovelo era tão forte que chegava a ser dolorido. Ele a
conduziu para os fundos da sala.
Tão
logo estavam a uma distância segura, voltou-se para ela:
—
O que você está tentando provar? Qual das duas tem as garras mais afiadas?
—
Se não me falha a memória, Penélope fez alguns comentários indevidos a meu
respeito. Se eu não tivesse me confrontado com ela...
Como
se ela não tivesse falado, Blake continuou:
—
Ela estava certa, você sabe. Foi uma perda de tempo vir aqui esta noite. Sean
Carmichael jamais será um dos meus clientes. Terei muita sorte se ele for o
único que perderei.
Ele
andava de um lado para outro no assoalho de lajotas. A cada passo, sua raiva
aumentava.
—
E você acha que ela lhe entregaria esse tal de Carmichael numa bandeja de prata
depois que você a esnobou para casar-se comigo? Ela está louca por vingança e
furiosa porque venci o primeiro round.
—
Isto não é uma luta de box. Penélope é civilizada, entendeu a situação.
—
Oh, e eu não sou?
—
No momento, não estou muito certo.
Cassidy
colocou as mãos nos quadris e o encarou.
—
Bem, você disse que queria convencer todos de que esse casamento era
verdadeiro. Quer coisa melhor do que começar com a única pessoa que tentaria
provar o contrário?
—
Há maneiras melhores para provar essas coisas — murmurou ele menos raivoso
agora.
—
E você podia ter me avisado que ela estaria aqui.
—
Como é que eu saberia?
—
Oh, você não tinha idéia de que Penélope compareceria — zombou ela.
—
Eu não tinha... oh, esqueça isso — disse ele, puxando-a para seus braços e
beijando-a ferozmente.
Cassidy
quase caiu de costas. O beijo inesperado deixou-a sem fala. Antes que pudesse
pensar em empurrá-lo, os lábios de Blake comprimiram os seus. Ela envolveu-lhe
o pescoço com os braços e ondas de prazer a invadiram.
O
beijo era possessivo e exigente. Correspondendo com paixão, Cassidy pressionou
o corpo contra o dele, pedindo por mais. Blake não a desapontou. Sua língua
provocava enquanto as mãos escorregavam pelas costas e apalpavam-lhe as
nádegas, a fim de puxá-la para mais junto de si.
Quando
se separaram, só puderam se entreolhar. Os risinhos de outro casal próximos
afastaram sua atenção de Blake. Obviamente, o casal vira o beijo apaixonado,
mas, sem demora, desapareceram da vista.
—
Como eu disse, há melhores maneiras para fazer as coisas. Aquela era Alice
Atware, uma das maiores fofoqueiras por aqui. Ela não levará muito tempo para
espalhar que nos pegou beijando no jardim.
O
beijo era apenas um artifício, então? Blake era ardiloso, pensou ela.
—
Eu... eu... espero que você vomite! — declarou ela.
Cassidy
afastou-se, e então saiu correndo para dentro da casa. Era apenas um jogo para
ele. O beijo não significara nada. Como pudera ser tão tola? Fora burrice sua
apaixonar-se por alguém que nunca poderia retribuir seus sentimentos.
De
súbito, parou. Será que se apaixonara de verdade por Blake? Não era possível.
Eles ainda não tinham tido tempo de se conhecer. Eram estranhos. Não, precisava
tirar aquilo da cabeça. Mas, como?
Tinha
que haver um modo, mas ela não podia imaginar o que era certo agora. Só
precisava de um lugar sossegado para refletir.
Uma
vez dentro da casa, soube que não seria ali naquela sala barulhenta e cheia de
sons de risadas. A vozearia fez sua cabeça doer. Mas, onde poderia ir?
As
chaves do carro estavam com Blake e um táxi estava fora de questão. Ela não
levara um centavo na bolsa.
Talvez
fosse menos barulhento no andar de cima. Se pudesse controlar suas emoções,
poderia ser capaz de encarar Blake. Começou a subir a escada.
Blake
teve que cerrar os dentes para não chamar Cassidy de volta. Não soubera que o
outro casal estava lá até que ouviu a risada deles. E não tinha idéia por que
dissera tudo aquilo.
Ele
começou a andar pelo jardim, afastando-se da casa.
Talvez
o ar da noite clareasse sua cabeça. Cassidy estava deixando-o louco. Que
mulher era aquela que o fazia sentir-se como que atado por um nó?
Ele
sorriu. Não podia evitar. Ela tinha um temperamento forte, sem dúvida. Se
Cassidy não tivesse enfrentado Penélope da maneira que fizera, sua ex-noiva a
teria arrasado com observações maldosas. Ele deu uma gargalhada. Era a primeira
vez que vira alguém levar a melhor sobre Penélope.
A
situação era até mesmo engraçada. Cassidy revelava-se, dia a dia, uma onça
selvagem que seria dura de domar. Mas ele tentaria domá-la. Não que fosse
gostar das conseqüências. Cassidy não era do tipo que gostava de jogar.
Blake
temia que ela quisesse um compromisso emocional que ele não poderia dar. Não
sabia ao certo por que até mesmo a beijara. Talvez porque ela fora
terrivelmente sedutora.
Ele
voltou para a casa. Teria que se desculpar. Dessa vez, ela tinha boas razões
para estar furiosa.
Se
ele lhe dissesse que não se importava em não ter Sean como cliente, ela poderia
ser um pouco razoável. Blake tinha mais dinheiro agora do que precisava. O
desafio era o que ela gostava.
Quando
entrou na casa, um garçom passou com uma bandeja de comida. O cheiro o atingiu em cheio. Começou a
suar na testa e voltou para o jardim, sentando-se num banco de cimento.
Certamente,
não era a hora para desculpas.
O
corredor no andar acima que Cassidy atravessou tinha uma luz difusa. Ela viu
uma porta fechada e bateu antes de entrar para certificar-se que não estava
sendo inconveniente. Não houve resposta e ela entrou num ambiente escuro.
Tateou a parede e acendeu a luz.
Encontrara
seu refúgio. No meio da sala, havia um piano de cauda. Deixando a porta
entreaberta, dirigiu-se a ele. Seus dedos dedilharam as teclas. Começou a se
sentir relaxada imediatamente. O que não daria para ter tal instrumento?
Cassidy
sentou-se no banco enquanto memórias de sua avó tocando o velho piano vieram à
sua mente. Uma irlandesa de sangue quente, ela tocara uma porção de velhas
melodias, mas, uma em particular, era a favorita de Cassidy.
Fora
a primeira música que Cassidy aprendera. E foi essa melodia que começou a tocar
agora.
O
som era doce e ela acompanhou o ritmo, cantando a letra que tinha palavras
cheias de paixão e tristeza. Quando terminou, teve que enxugar uma lágrima
cadente.
O
aplauso foi suave, porém assustou-a. Ela virou-se e olhou para o homem na
soleira da porta. Calculou que ele estava perto dos cinqüenta anos. Um
cavalheiro com aparência muito distinta.
—
Desculpe-me. Estava tão barulhento lá em baixo que pensei que aqui fosse mais
tranqüilo. Quando abri a porta e vi o piano, não pude resistir.
— E
qualquer pessoa que toca e canta tão maravilhosamente como você não resistiria
à tentação. Foi um prazer ouvi-la.
Cassidy
corou.
—
Obrigada.
—
Minha mãe era irlandesa — contou ele. — Ela costumava tocar e cantar velhas
baladas. — Lágrimas brotaram nos olhos do homem. — Você não conhece algumas
outras, conhece?
— Algumas
— respondeu ela, sorrindo. — Minha avó era irlandesa.
— Bem,
parece que tivemos a mesma idéia de fugir da festa. Tanto barulho me incomoda.
Você poderia? — perguntou ele, apontando para o piano.
Cassidy
sentiu-se maravilhosamente bem depois de mais algumas melodias. Voltou-se para
seu novo amigo depois de terminar a última:
—
Acho que esgotei meu repertório de canções irlandesas.
—
Está ótimo. Pelo menos a tristeza desapareceu de seus olhos.
—
Era tão óbvio assim? — perguntou ela. Ele assentiu.
—
Sou bom ouvinte, se você quiser conversar sobre sua tristeza.
Ela
hesitou, mas ele lhe inspirava confiança.
—
Temo que custei ao meu marido um cliente muito importante.
—
E quem é seu marido?
—
Blake Lawrence. Entenda, ele ia casar-se com Penélope Winthrop, mas acabou se
casando comigo. Quando chegamos esta noite e eu a vi, não procedi muito bem.
Então ela jurou que Blake jamais obteria a conta de Sean Carmichael. Acho que a
culpa é minha. Ele jamais me perdoará.
—
Se ele a ama, e aposto meu último dólar que sim, estou certo que a perdoará.
Cassidy
sabia que não podia contar a um estranho as circunstâncias de seu casamento.
Impulsivamente,
tomou a mão dele na sua num gesto de carinho.
—
Obrigada por me ouvir.
Ela
sentiu empalidecer quando viu Blake na porta com expressão zangada.
—
Eu estava imaginando para onde minha esposa fugira.
—
Blake, entre e junte-se a nós.
Os
olhos de Cassidy arregalaram-se.
—
Vocês dois se conhecem?
— Nosso
anfitrião foi negligente. Cassidy, este é Sean Carmichael. Engraçado, pensei
que vocês tivessem se apresentando, uma vez que você estava segurando a mão
dele.
Cassidy
não sabia por quem estava mais constrangida, por si mesma ou por Sean. Ou
talvez por Blake, porque ele estava sendo um tolo. Ela não entendia o motivo do
sarcasmo. Tudo que queria no momento era ir para casa.
— Foi
um prazer conhecê-lo, sr. Carmichael. De repente, não estou me sentindo bem.
Espero que me perdoe por abandonar sua festa cedo.
O
sorriso de Sean foi cheio de calor e ela podia jurar que vira um toque de humor
nos olhos dele. Estranho. Por que ele acharia divertido a maneira que Blake
estava agindo?
—
Eu mesmo não me preocupo muito com festas — disse Sean. — Diverti-me muito mais
com uma audição de piano. Espero que venha à próxima festa.
Ela
ignorou o olhar sombrio de Blake.
—
Eu adoraria — replicou, saindo da saleta sem mesmo olhar se Blake a seguia.
Na
saída, ao abrir a porta para ela, o semblante dele era de pura raiva contida. O
homem estava furioso e ela não sabia por quê.
O
silêncio dentro do carro foi pesado durante o trajeto.
Ao
chegar em casa, a vontade de Cassidy era correr para a cama, mas, para que
Blake não pensasse que o furor dele a amedrontava, dirigiu-se para a cozinha.
Abriu
o refrigerador à procura de comida, como se não comesse há uma semana.
Esperava
muito que a vista do espaguete o deixasse enjoado.
A
voz era fria e dura quando ele falou:
—
O que você pensa que estava fazendo com Sean?
—
Bem, achei que acabaria no leito dele.
—
Não permitirei que você me faça de bobo.
Ela
virou-se para encará-lo.
—
Oh, não se preocupe com isso. Você mesmo se fez de bobo com sua atitude naquela
sala de música. E já que quer falar em fazer alguém de bobo, o que me diz do
show que armou para a fofoqueira da cidade? Como acha que me senti? — indagou
ela, batendo a porta do refrigerador.
—
Pensei que você tivesse gostado. Na verdade, se não houvesse a presença da
alcoviteira oficial da cidade, você teria rasgado minha roupa. A maneira que se
pendurou em mim, deixou-me saber exatamente o que você queria.
—
Pendurei-me? Você superestima seu ego, sr. Lawrence. Eu não me abaixaria para
rastejar para sua cama.
—
Claro que não, você é do tipo que entra furtivamente na cama de um homem.
— Você
é um verme — esbravejou ela, voltando a abrir a geladeira, pegando um punhado
de espaguete e atirando nele.
Blake
empertigou-se e seu rosto mostrava surpresa.
Cassidy
não acreditou no que fizera. Nunca na vida procedera assim. Todavia, em vez de
alarmar-se, quando viu os fios do macarrão escorrendo pela face dele, não pôde
evitar uma risada.
—
Você acha que foi muito engraçado, não acha? — disse ele, pegando na geladeira
um punhado de geléia de morango.
—
Não, Blake, não faça nada de que possa se arrepender.
—
Oh, eu não me arrependerei — retrucou ele, atirando uma boa porção da geléia na
testa dela, que escorreu sobre o rosto como se fosse lava de vulcão.
—
Aposto que pensa que foi hilário.
Ela
pegou uma lata de creme de chantilly e atirou com força sobre ele. Blake
desviou e a lata espatifou contra a parede.
—
Na próxima vez, não errarei — gritou ela.
—
Você não devia comer sua sobremesa de morango antes do prato principal — ele
apanhou a tigela de espaguete e derramou sobre a cabeça dela.
—
E você não comeu o suficiente — Cassidy alcançou o prato com bolo e
esfregou-lhe no rosto.
—
O que você acha disso?
—
Eu estava com mais apetite para geléia — respondeu ele, raspando um pouco de
geléia do rosto dela e lambendo o dedo.
—
Você está louco — exclamou ela, com um súbito tremor de desejo a invadindo.
— Estou?
— perguntou ele, puxando-o para os braços. Então pegou um pano de prato,
limpou-lhe o rosto e depois o seu próprio.
—
Vamos para o quarto. Você usou todo o creme de chantili?
Ela
assentiu, tristemente.
Capítulo
VI
— Não...
por favor... nós não deveríamos — sussurrou Cassidy com voz rouca de paixão.
—
O que não devemos fazer? Isto? — perguntou Blake, as mãos deslizando pelas
costas dela e desabotoando o vestido que caiu no chão e embolou-se a seus pés.
Ela deu um suspiro profundo e as mãos dele apalparam-lhe as nádegas, trazendo-a
para mais perto de si, até que ela sentiu sua ereção.
—
Isso não está certo — murmurou ela.
—
Isso não a faz sentir-se bem? — perguntou ele, deslizando as mãos dos ombros
dela até os seios. — Ou é disso que você não gosta? — completou, passando a
língua de leve pelo mamilo.
Cassidy
não pôde evitar um gemido de prazer. Seu corpo parecia estar em chamas. E mesmo achando
que aquilo não estava certo, não queria que ele parasse. Ademais, Blake não
tinha intenção alguma de parar.
—
Ou talvez isso? — perguntou ele, quando enfiou a mão entre suas coxas para
apalpá-la.
No
momento que seus joelhos começaram a fraquejar, Blake tomou-a nos braços e
carregou-a para seu quarto.
Ele
abriu a porta, chutando-a, e colocou-a sobre a cama.
Cassidy
queria sentir a nudez de Blake contra a sua. Puxou a camisa dele com tanta
força que os botões saltaram para fora, espalhando-se pelo chão.
Havia
bastante luz da cozinha para que ela o enxergasse. E o que viu foi o suficiente
para mexer com seus sentidos. Seus dedos correram através dos pêlos do peito de
Blake. Ela o sentiu tremer e vibrou com a consciência de que tinha o poder de
excitá-lo tão rápido.
Ele
puxou-lhe a calcinha pelos quadris, deixando o tecido sedoso deslizar para o
chão.
Cassidy
mordiscou delicadamente os mamilos intumescidos de Blake enquanto as mãos
baixavam o zíper da calça dele, sentindo a ereção. Ele gemeu quando a mão
feminina envolveu seu sexo.
As
carícias continuaram em ritmo cada vez mais alucinante e a cama fez um ruído em
protesto.
—
Acho que quebramos a cama — murmurou ela.
—
Quem se importa? Oh, Deus, como isso é bom.
—
Agora, Blake, agora — sussurrou ela, freneticamente. E quando ele a penetrou,
Cassidy gemeu de prazer.
Sentindo
cada uma das investidas, ela queria mais. Circulando-lhe com as pernas, puxou-o
para mais perto. E quando eles atingiram o clímax, ambos gritaram.
A
batida do coração de Cassidy diminuiu quando Blake rolou de cima dela para o
lado, puxando-a para seus braços. Ela descansou a cabeça contra o peito largo,
arfando, suavemente agora.
—
Eu... — começou ela.
—
Não diga nada — sussurrou Blake. — Eu sei. Apenas descanse.
A
respiração de ambos se fundiu. Quando ela virou-se de lado para dormir, um
forte sentimento de segurança a envolveu.
— Olá,
Blake, o que aconteceu? Seu refrigerador explodiu ou coisa assim? — perguntou
Andy quando entrou no quarto do irmão.
Ainda
sonolenta Cassidy foi tirada de seu sono pelo som de uma voz estranha.
Sentia-se pegajosa.
—
O que você está fazendo em casa? — questionou Blake. — Deveria estar na
faculdade.
—
Férias de verão — respondeu Andy, sorrindo. — Então, o que aconteceu por aqui?
Uma continuação da guerra da cozinha? — disse ele, olhando para a cama
quebrada.
Cassidy
percebeu que era o irmão caçula de Blake e queria morrer. Nunca se sentira tão
constrangida. Meu Deus, suas roupas estavam ainda espalhadas pelo quarto. Ela
puxou ás cobertas até o queixo.
Por
favor, deixe-me morrer agora mesmo, rezou.
Ele
estalou os dedos.
—
Olá, eu conheço você. Você é a garota do bolo.
Uma
vez que Deus não atendeu sua prece, ela puxou as cobertas por sobre a cabeça.
—
O que aconteceu com à bruxa? — insistiu Andy. — Pensei que você estivesse
casado com ela. Finalmente foi sábio, irmão?
—
Se você está se referindo a Penélope, então não, não me casei com ela. E se não
se incomoda, feche a porta quando sair.
—
Então o que...
—
Esta é Cassidy, minha esposa.
—
Sua... o quê? — perguntou Andy com olhar de descrença na: face.
Então começou a rir. — Já era hora de você criar juízo. Prazer em vê-la, irmãzinha.
Cassidy
grunhiu em resposta. Por
que sempre ficava confusa com; aquela família louca?
—
Acho que você constrangeu sua cunhada o bastante por um dia.
Andy
riu mais alto.
—
Vou fazer café, se puder atravessar a mixórdia naquela cozinha, sem cair. A propósito,
sua cama está quebrada. Cuidado ao levantar-se. Não quero que se machuquem.
—
Se você não sair imediatamente, não serei eu quem ficará machucado — ameaçou
Blake, atirando um travesseiro no irmão.
—
Você pode sair de debaixo das cobertas agora. Não há perigo à vista.
Ela
meneou a cabeça.
—
Não, ficarei aqui para o resto da vida.
Ele
deu uma gargalhada e puxou-lhe as cobertas de cima da cabeça. Cassidy o fitou.
—
Ainda há comida no meu rosto?
—
Não — replicou ele, beijando-lhe a ponta do nariz.
— Graças
a Deus.
—
Bem, eu preferiria ficar na cama com você, mas conheço meu tresloucado irmão.
Se eu não for para lá logo, ele voltará para nos atormentar.
Blake
empurrou as cobertas, levantou-se e caminhou para o banheiro, aparentemente
despreocupado de sua nudez. Pudera, pensou Cassidy. O homem tinha um corpo
magnífico, nascera para andar despido. Ele virou-se antes de abrir a porta do
banheiro.
—
Se você continuar me olhando desse jeito, ficarei tentando em estourar o ouvido
de Andy com um murro e voltar para a cama.
Ela
pôde sentir as chamas da paixão se reavivarem. Cassidy quis parar de olhá-lo,
mas não conseguia.
—
Segure esse pensamento — disse ele, então vestiu um roupão, pegou algumas notas
sobre a cômoda e saiu do quarto. Em poucos minutos, retornou. Tirando o roupão,
deixou-o cair sobre o solo.
—
E Andy? — perguntou ela.
—
Mandei-o comprar ovos no supermercado — murmurou ele, enquanto juntava-se a ela
na cama.
—
Mas temos duas dúzias no refrigerador.
—
Quem se importa?
Ela
não. Os lábios de Blake tocaram os seus num beijo sufocante.
Blake
olhava feio para seu irmão, enquanto Andy casualmente relaxava contra as
almofadas no sofá.
—
Então me diga, foi amor à primeira vista? — Ele meneou a cabeça.—Não, não pode
ser. Não pelo modo que você estava olhando para ela na noite de sua festa.
—
Se você está tentando ser engraçadinho, não está me fazendo rir. Andy colocou
os pés sobre a mesa de centro.
—
Bem, alguma coisa aconteceu para você dispensar Penélope e casar-se com Cassy.
—
O nome dela é Cassidy — disse Blake, andando para a janela. — Eu tive todas as
intenções de casar-me com Penélope, se quer saber — começou ele de costas. —
Nós íamos nos casar dentro de alguns dias. Até expliquei sobre seu pequeno
truque. Ela não gostou nada, mas aceitou suas desculpas através de mim.
—
Então, o que o fez mudar de idéia?
Blake
virou-se e dirigiu um olhar duro em direção a Andy.
—
Cassidy apareceu no meu escritório, e me disse que estava grávida.
Andy
sentou-se ereto e empalideceu.
—
Jesus Cristo, Blake. Sinto muito. Nunca pensei... isto é, nunca percebi...
—
Certo. Você não pensou. O que imaginou que aconteceria quando nos colocou
juntos na cama... nus?
Andy
encarou o irmão.
—
Bem, isso deve estar dando certo. Quero dizer, vocês dois estavam na cama
quando entrei. Devem se gostar — A expressão dele mostrava desesperança.
Blake
não soube como responder. Não sabia ao certo o que estava se passando entre ele
e Cassidy. Talvez o fato de estarem morando sobre o mesmo teto. Ela era uma
mulher bonita e sexy. Ele não era nenhum monge, mas, estariam apaixonados? Não,
atração mútua seria a melhor explicação.
—
Amor não tem nada a ver com o que aconteceu ontem à noite. Cassidy e eu temos
um acordo. Tão logo o bebê nasça, estabeleceremos um arranjo adequado.
Levantando-se,
Andy caminhou até o irmão.
—
Acho que criei uma enorme confusão, não criei?
—
Acho que sim, mas nada pode ser feito para mudar as coisas agora.
—
Cassy tem muita raiva de mim?
—
Ela realmente não me falou, mas o que você acha?
Cassidy
ouvia pela porta entreaberta. O que esperara? Que Blake declararia seu amor
imortal a ela? Não, tão logo o bebê nascesse, ele provavelmente convenceria
Penélope que eles deveriam casar-se.
O
pensamento de Penélope ninando o filho dela deixou-a enfurecida. Isso não
aconteceria, não enquanto fosse viva.
Mas
quem estava enganando? Assim que o bebê nascesse, Blake estaria fora da sua
vida. Ele, com certeza, não via a hora de isso acontecer. E se não se casasse
com Penélope, seria com qualquer outra.
Tudo
que eles compartilhavam era um bebê. E um bebê não era suficiente para
construir um casamento. Era uma tola em alimentar falsas esperanças.
Também
não era o fim do mundo porque Blake não a amava.
Cassidy
levantou-se. Se ele podia ser insensível sobre tudo, ela também poderia.
Saindo
do quarto, seus passos hesitaram quando entrou na sala de estar e ambos os
homens voltaram-se para ela. O que alguém dizia para um novo cunhado?
Especialmente quando o casamento era uma farsa e Andy sabia de toda a história.
—
Não tive a intenção de interromper — começou ela.
—
Por favor, junte-se a nós. Acredito que você se recorda de meu irmão caçula.
Como
ela poderia se esquecer? Houve uma consolação. Andy ficou de pé quando ela
entrou, parecendo tão desconfortável quanto ela. Mas não ia deixá-lo impune tão
facilmente.
—
Chá gelado? Andy enrubesceu.
—
Na verdade, acredito que eu disse Chá Long Island. É uma bebida misturada.
—
Bebida misturada? — Ela ergueu a sobrancelha.
—
Uh... é chá. Com cerca de quatro espécies de álcool.
—
Eu diria que quatro é muito para alguém que não bebe, estou certa?
—
Quero me desculpar por tudo — começou ele. — Se pudesse voltar atrás, voltaria.
—
O que está feito, está feito. Agora, se ambos me permitem, vou voltar para meu
quarto.
Ela
apertou mais o roupão que tomara emprestado de Blake e virou-se para ir embora.
—
Esqueci-me de mencionar na noite passada — As palavras de Blake a detiveram. — Tenho
que partir por algum tempo. Uma viagem de negócios.
—
Quanto tempo você ficará fora?
—
Uma semana. No máximo duas. Andy verificará, durante esse tempo, se há algo que
você precise.
—
Estou certa de que posso me cuidar sozinha. Tenha uma boa viagem — disse ela,
correndo para seu quarto.
Blake
a observou partindo. Ele poderia ter dito um mês e ela nem sequer pestanejaria.
Aparentemente, a noite calorosa entre os dois não significara nada para
Cassidy.
De
súbito, ele levantou-se e foi atrás dela, mas parou depois de alguns passos. O
que diria? Que o que acontecera era algo que ele jamais sentira? Ou talvez
pudesse dizer-lhe que aquela fora muito mais do que uma noite de paixão para
ele?
Blake
sentia-se desgostoso. Era como uma bofetada no seu ego. Quisera que ela
demonstrasse tristeza pela viagem dele, e, em vez disso, agira com indiferença,
como se nada fora do normal tivesse acontecido na noite anterior. Ele voltou-se
abruptamente.
—
De que é que você está rindo? — perguntou para Andy. — Nada. E só que nunca vi
você comportar-se desse jeito com nenhuma das mulheres com quem se relacionou.
Tem certeza que na está apaixonado por Cassy?
—
Humm. Você tem lido muitos romances ultimamente. E mais uma vez lhe digo que o
nome dela é Cassidy, não Cassy.
—
Pode dizer o que quiser, irmão. Mas, vendo do lado de fora, e diria que vocês
dois estão apaixonados um pelo outro. Quer queira você ou não.
A
observação era ridícula. Eles eram tão diferentes quanto noite e o dia.
—
Eu não apostaria um centavo nisso, irmãozinho.
Capítulo
VII
— Então
vá embora e nunca mais volte. Você acha que me importo? — disse Cassidy em voz
alta, pois não havia ninguém mais no apartamento para argumentar contra. Blake
estava fora há três dias. Três longos e solitários dias. Setenta e duas horas.
Quatro mil, trezentos e vinte minutos.
As
noites eram piores. Ela virava-se na cama o tempo todo, tentando dormir. Uma
vez, fora ao quarto de Blake e, embora a cama não tivesse sido consertada,
tentara adormecer ali. Mas não funcionou. O cheiro masculino pairava no ar,
parecendo impregnado na roupa de cama e provocando-a mais ainda.
Então,
naquela manhã, Andy chegara com uma mensagem de Blake. Suas reuniões durariam
pelo menos uma semana mais. Andy fora muito solícito, oferecendo-se para ir às
compras com ela, ou providenciar tarefas. Cassidy sentiu-se grata, mas não era
Andy que queria.
—
Você podia, pelo menos, ter ligado e me dado a notícia pessoalmente —
continuou ela em voz alta que ressonava pelo apartamento.
Ela
até mesmo checara o telefone para ver se estava fora da base. Não estava. Muito
bem, se aquela era a maneira que Blake queria as coisas, dois podiam jogar o
jogo.
Ela
tirou o telefone do gancho e disse:
—
Agora tente ligar, Blake. Veja se me importo.
Se
ele tentasse, poderia imaginar com quem ela estava falando. Será que estou
ficando louca?, perguntou-se e voltou a pôr no gancho.
Decidida,
virou-se e ficou de costas para o aparelho.
Não
se importaria nem um pouco se o sr. Blake Lawrence ligaria ou não. Oh, a quem
estava enganando?
Aquilo
a estava deixando louca. Precisava fazer qualquer coisa para ocupar a mente.
Indo para a cozinha, encheu uma jarra com água e levou-a para a sala de estar,
regando o primeiro vaso de planta que viu.
—
Não se esqueça de regar minhas plantas — ela imitou a voz de Blake. Este fora o
único outro recado que Andy lhe transmitira.
Quando
ela pensou o quão amorosamente regara as plantas na primeira semana, ficou
furiosa. Ela fizera um trabalho cuidadoso, dando atenção a cada planta
individualmente, conversando com elas. Algo que sabia que Blake jamais fizera.
Na verdade, nunca o vira regando as plantas. Se não fosse por ela, certamente
todas morreriam. E agora ele mandava aquele recado totalmente dispensável.
O
toque estridente do telefone a alarmou. Ela correu para atender, mas não o fez
antes de respirar fundo.
—
Alô?
—
Olá, Cassy. Acabei de voltar da cidade e ligue para saber como está indo sua
vida de casada.
—
Oh, alô, Shelley.
—
Nossa, vejo que adorou minha ligação — zombou sua amiga.
—
Sinto muito. Acho que não estou nos meus melhores dias. Blake está fora da
cidade e estou me sentindo um pouco solitária.
—
Então, você está sentindo falta de Blake?
—
Não é bem assim — retrucou Cassidy, rapidamente. — Quando você está acostumada
com alguém vivendo a seu lado, mesmo se não gosta dessa pessoa, uma casa quieta
pode parecer um pouco... estranha.
—
Você tem certeza que é só isso?
—
Sim, absoluta.
Cassidy
suspirou aliviada em silêncio, quando notou que a amiga acreditara na sua
explicação.
Tão
logo pôde, concluiu a conversa.
Se
Shelley soubesse tudo que acontecera entre ela e Blake, teria perguntado muito
mais coisas.
Cassidy
estava certa de que mais alguns dias e Blake estaria de volta. Nesse ínterim,
tinha que descobrir algo que combatesse seu enfado.
—
Andy, por favor, você tem que me ajudar.
—
São sete horas da manhã. Quem fala? — perguntou com voz sonolenta.
—
Sou eu, Cassidy. Instantaneamente, a voz dele mudou:
—
Você está bem? Feriu-se? O que aconteceu?
—
Não, não é nada disso. Mas você tem que me ajudar.
Ela
fungou, esperando para dizer-lhe o que aconteceu, mas quando as lágrimas
começaram, não pode interrompê-las.
—
Não tive a intenção... eu pensei que... oh, Andy, é tão horrível.
—
Tente ficar calma. Estou indo para aí. Preciso chamar uma ambulância?
—
Não. Não se trata do bebê, é...
— Estarei
aí dentro de poucos minutos. Não se preocupe com nada. Cassidy desligou o
telefone, mas quando fez isso, seus olhos focalizaram a planta favorita de
Blake.
—
Oh, pobrezinha — Ela pegou um lenço de papel e assoou o nariz. — Eu não tinha
intenção de que isso acontecesse. Estava apenas tentando ajudar.
A
planta florescera por cima das bordas do vaso pendurado. As folhas de um tom de
verde brilhante haviam sido cheias e viçosas. Agora estavam penduradas,
flácidas, num tom amarelado e enroladas nas pontas.
Ela
chorava, descontrolada. Certamente, Blake a mataria. As outras plantas na sala
pareciam até pior. Cassidy sentia-se uma criminosa. Não entendia como isso
ocorrera. As plantas pareciam ótimas na noite anterior.
A
campainha da porta tocou e ela foi abrir. Quando viu que era Andy, caiu nos
braços dele, soluçando.
—
Você está ferida? Câimbras? Sangramento?
—
Não sou eu que estou ferida — murmurou ela, puxando-o para dentro do
apartamento.
—
Então, o que foi? — perguntou ele, acariciando-lhe os cabelos despenteados.
Pegando-o
pela mão, ela o conduziu para a sala de estar.
—
Olhe o que eu fiz.
Ele
parecia confuso.
—
O quê?
—
As plantas de Blake. Eu as matei.
Andy
deu um suspiro de alívio e sentou-se no sofá.
—
Isso é tudo? — disse ele, inclinando-se para trás e fechando os olhos.
—
Isso é tudo! E não é o bastante? Você deve saber como Blake sente-se a respeito
das plantas. Ele as trata como se fossem suas filhas — Ela sentou-se ao lado
dele no sofá. — E eu as matei todas.
—
Ele não ficará zangado com você — Andy ergueu uma mão quando ela começou a
protestar. — Se isso a faz sentir-se melhor, vamos sair e comprar algumas
plantas para substituir estas. Blake não precisa saber o que aconteceu.
—
Mas isso me parece tão... Tão enganoso. Não deixa de ser uma fraude.
—
Eu não direi, se você não disser.
—
Não fiz isso de propósito — Ela voltou a olhar para as plantas murchas. — Tem
certeza que ele não notará?
—
Claro que não — respondeu Andy, sorrindo-lhe com carinho.
—
Bernard, ele está vindo para casa hoje — falou Cassidy nervosa enquanto tentava
puxar o zíper da calça. Finalmente, desistiu e vestiu um camisão para cobrir o
óbvio volume do ventre.
Duas
semanas transformaram-se em um mês. Parecia mais do que uma eternidade para
Cassidy.
Talvez
ele não estivesse trabalhando, dizia uma voz quase inaudível dentro de sua
cabeça. Talvez estivesse com outra mulher, continuou a voz. Ela baniu tais
pensamentos da mente. Se Blake dissera que estava trabalhando, tinha que
acreditar nele.
Passando
uma escova nos cabelos e um leve batom rosa nos lábios, examinou-se no espelho.
Ela fora ao médico e ele lhe dissera que tudo estava de acordo com o
programado. Quando ela lhe perguntara sobre o aumento exagerado da barriga em
tão pouco tempo, ele rira, dizendo que cada mulher era diferente. Algumas
mostravam muito da gravidez, outras não.
Diante
do seu reflexo no espelho, ela franziu o cenho. Havia um volume muito definido.
Talvez fosse do tipo das que mostravam muito. O problema era que não estava
mais cabendo em suas roupas e não tinha dinheiro para comprar outras.
Bem,
não havia nada que pudesse fazer. Além do mais, não estava tentando ser
atraente, apenas apresentável. Na verdade, não importava o que Blake pensasse
sobre sua aparência.
Ela
inspecionou também a sala de estar e reparou que as plantas substituídas
pareciam as mesmas, exceto uma. Exatamente a favorita de Blake.
Ela
e Andy fizeram o possível para achar uma que a substituísse perfeitamente, mas
não fora possível. Ademais, ambos não sabiam como era o nome botânico da
planta. Então compraram uma artificial que se parecia muito e tinha as medidas
e cores exatas das folhas. Parecia quase a mesma, porém, havia uma diferença
real... era feita de seda.
Ela
estava certa que Blake não notaria a diferença pela perfeita imitação.
—
Quem estou tentando enganar? — perguntou-se em voz alta. Ele ficaria furioso
com ela. Da maneira como amava suas plantas, com toda certeza, seria a primeira
coisa que notaria. Ela lhe diria a verdade assim que ele entrasse na sala.
Melhor ser sincera e enfrentar de uma vez do que sofrer quando ele descobrisse.
Cassidy
saltou quando ouviu a porta da frente abrir-se.
O
olhar dela foi da planta para a porta e de volta para a planta. Certo, então
era covarde, decidiu. Era a primeira a admitir isso. Correu para o sofá e pegou
uma revista.
Afetando
uma pose casual, olhou para Blake quando ele adentrou a sala.
—
Oh, você está de volta — murmurou.
Ela
esquecera-se do quanto ele era lindo. Incrivelmente sexy era uma melhor
descrição. Sua boca salivava tanto que ela, literalmente, babava.
Ele
depositou a maleta no chão.
—
Andy não lhe disse que eu estava voltando hoje?
—
Parece que ele comentou alguma coisa a respeito, mas minha mente não gravou —
mentiu ela.
Blake
não sabia o que esperara como um cumprimento à sua chegada, mas, com certeza,
não era daquele jeito.
Ela
podia ter ao menos mostrado um pouco de entusiasmo, de calor. Afinal, ele
estivera fora por um mês.
Mas
ele sabia o que o estava aborrecendo. Sentira a falta de Cassidy quase com
desespero. A imagem dela lhe vinha à mente cada vez que fechava os olhos à
noite. Por isso ficara tanto tempo longe. Como dizia o ditado, longe dos olhos,
longe do coração.
Cassidy
estava tão bonita quanto ele se recordava. Bonita e sexy até não poder mais.
Porém, de alguma maneira, diferente. Havia um brilho especial, como uma aura a
seu redor. O que a fazia mais sedutora. E menos atingível, é claro.
—
Há alguma coisa que você queira? — perguntou ela.
Sim,
ele a queria, mas não ousou dizer isso nem de brincadeira.
—
Não, estou apenas satisfeito de estar de volta. E você, como está se sentindo?
—
Ótima. Estive no médico ontem e tudo está sob controle.
Ele
sentou-se numa cadeira na frente dela e espichou as pernas. Ela parecia um
pouco nervosa e Blake estava certo que ela não estava olhando para a revista
que folheava.
—
O que você fez para ocupar-se enquanto estive fora?
A
pergunta foi feita em tom tranqüilo, mas da maneira que ela sobressaltou-se,
parecia que houvera um tiro de canhão na sala.
—
Oh... uh... bem, eu apenas fiz o usual — Ela mordiscou o lábio num tique
nervoso.
Agora,
Blake tinha certeza que ela estava escondendo alguma coisa. O modo como
folheava as páginas depressa, sem ter tempo para ler nada, era uma das
evidências. Algo acontecera na sua ausência.
—
O quê, por exemplo?
Ela
atirou a revista na mesinha em frente e levantou-se.
—
Se você quisesse um relatório do meu dia-a-dia, deveria ter ligado para mim e
não para Andy. Da próxima vez, vou fazer um diário descritivo das minhas
atividades, hora após hora.
Culpada.
Era assim que ela estava agindo. Será que estivera tão solitária que convidara
outro homem para o apartamento?
Raiva
o consumiu enquanto, vagarosamente, levantou-se. Antes que pudesse confrontá-la
com sua suspeita, ela se dirigiu à cozinha.
—
Estou com sede. Se me der licença, não acredito que a discussão nos levará a
algum lugar, portanto, vamos pôr um ponto final agora.
Ele
abriu a boca, mas deteve as palavras. Que bem faria se ele a acusasse? Eles não
tinham um casamento verdadeiro, portanto, ela podia ter quantos homens quisesse
depois que se divorciassem. A idéia o deixou com mais raiva ainda. Ele a seguiu
para a cozinha.
Blake
só dera alguns passos quando notou suas plantas. Algo não estava certo. Ele se
aproximou mais. As folhas estavam viçosas. O problema era que aquela planta não
era um filodendro. Ele olhou para as outras. Quase pareciam suas plantas.
Quase, mas não inteiramente.
Pensamentos
de festas selvagens percorreram seu cérebro. Risadas e música alta. Champanhe
estourando e servidas nos seus cálices de fino cristal e fumaça de cigarro
invadindo o ambiente. Suas plantas prejudicadas, sem chance de sobreviverem. Só
podia ser isso.
Blake
entrou abruptamente na cozinha. Queria algumas respostas, agora. Naquele
momento, Cassidy voltou-se e disse:
—
Ele moveu-se.
Uma
porção de coisas haviam se movido ou sido mudadas e ele exigia uma explicação.
—
Moveu-se outra vez.
—
De que é que você está falando?
Os
olhos dela brilhavam quando o olhou.
—
Do bebê. Ele moveu-se.
Ele
sentiu que a cor esvaía-se de seu rosto, tão rápido quanto a raiva.
—
Tem certeza?
Ela
assentiu.
—
É uma sensação de asas de borboleta adejando. Venha aqui, dê-me sua mão.
Ele
chegou-se mais perto e ela colocou a mão dele sobre sua barriga.
—
Ele se mexeu de novo. Sentiu?
Ele
meneou a cabeça.
Ela
franziu o cenho e então baixou a calça e colocou a mão dele diretamente sobre a
pele da barriga.
Blake
achava que Cassidy não quereria saber o que ele estava sentindo naquele
momento. Definitivamente, não tinha nada a ver com o bebê. O contato da sua
pele com a dela era como uma repentina descarga elétrica.
—
Tem certeza que não o sentiu se mexer?
Ele
pigarreou.
—
É provavelmente muito breve.
—
Acho que você tem razão — murmurou ela com um suspiro e então afastou a mão
dele.
—
Provavelmente dentro de algumas semanas você sentirá os movimentos do bebê —
Ela levantou a cabeça, um sorriso sereno nos lábios. — Sabe, nada disso
parecia verdadeiro até este momento.
Blake
observou como ela flutuou em direção ao quarto.
Que
coisa, eram apenas plantas e não tão importantes para ele. Sabia que havia uma
explicação simples para o fato de ela ter mudado as plantas, mas jurava que não
podia imaginar qual.
—
Não sei por que você está sendo tão teimosa! — disse Blake.
Cassidy
o estava deixando louco. Tudo que ele queria fazer era levá-la às compras.
Comprar-lhe alguns trajes apropriados para maternidade. E não podia entender
por que ela não queria aceitar. Afinal de contas, não estaria comprando-lhe
nada supérfluo. Ela precisava ter alguma coisa para vestir.
—
Eu simplesmente não acho certo.
—
Se você tiver outra idéia melhor, eu gostaria de saber — Ele esperou, mas ela
permaneceu silenciosa. — É claro, em mais duas semanas, você não terá escolha.
Nessa ocasião, todas suas roupas estarão pequenas demais — O olhar dele
percorreu-lhe o corpo. — Pode não ser uma situação tão ruim, afinal. A
vizinhança provavelmente não gostaria da idéia de você andando nua por aí,
tanto quanto eu gostaria.
As
faces dela coraram pela insinuação.
—
Tudo bem, vamos fazer compras, mas quero todas as notas fiscais. Planejo
pagar-lhe cada centavo de volta.
O
sorriso dele era presunçoso, mas não pôde evitá-lo.
Blake
finalmente vencera o primeiro round. Parecia que Cassidy obtivera o
melhor dele desde que haviam se casado. Primeiro, com o enjôo matinal que ele
adquiriu, depois matando suas plantas. Graças a Deus, o enjôo passara.
Quanto
às plantas, Andy pulara fora do assunto quando Blake o questionara. Seu
irmãozinho fora muito reservado, o que intrigara Blake, pois discrição não era
o forte dele. Blake estava começando a achar que havia uma conspiração ali. Não
sabia como Cassidy conseguira tal façanha, mas encontrara um protetor em Andy.
Agora
que ele sabia a história e o quanto Cassidy ficara preocupada, não mencionaria
mais nada sobre o assunto.
Ela
sequer olhou-o quando passou pela porta que ele lhe segurava aberta. Blake deu
uma gargalhada. Ela tinha índole teimosa e um temperamento forte.
Aquilo
não era certo, pensou Cassidy enquanto punha, pela cabeça, o novo vestido em
forma de bata. Blake não deveria estar lhe comprando roupas, mesmo que
apropriadas para gestantes e mesmo que ele tivesse metade da culpa pelo seu
estado.
—
Precisa de ajuda? — perguntou ele, do outro lado da porta da cabine do
provador.
Ela
tentava puxar o zíper, enquanto o bebê chutava sua barriga. Abrindo a porta,
disse para o solícito pai:
—
Posso arranjar-me muito bem sozinha.
—
Essa roupa parece ótima e muito confortável.
Ela
não esperara o elogio.
—
Obrigada — murmurou, passando a mão pelo tecido que era macio ao toque. Sua mão
parou na etiqueta com o preço. Ela fez uma expressão de espanto quando viu o
valor.
—
Pelo amor de Deus, Blake. Custa setenta e cinco dólares.
—
Minha esposa é do tipo econômica — explicou ele para a vendedora da loja de
roupas para grávidas. — Nós levaremos esse vestido e precisamos muitos mais
neste tamanho, além de calças e blusas.
Eles
não saíram até que Blake tivesse comprado quase todo o estoque da loja.
—
Um exagero, um verdadeiro desperdício uma vez que vou usar tudo apenas alguns
meses — protestou Cassidy.
—
Há uma sorveteria bem na esquina dessa rua e estou com desejo súbito por uma
banana split — disse ele, ignorando o comentário e mudando o assunto. — E
as bananas são importadas do Brasil, ouvi dizer. São especiais e muito
saborosas. Melhores do que as californianas.
—
Um desejo súbito? Há quanto tempo você tem tido esses sintomas?
O
sorriso dele era mais do que sexy.
—
Começou quando vi aquele garoto do outro lado da rua com um sorvete.
Havia
uma carga de eletricidade no ar. Deveria ser um aviso a Cassidy para manter
distância, mas, de repente, sentiu-se muito próxima dele e não foi capaz de
resistir àquele momento alegre.
—
Contanto que você não me acorde no meio da noite. Não posso me imaginar
procurando uma loja de conveniência somente para satisfazer um desejo bizarro
seu.
Ele
passou a mão em volta do ombro dela quando começaram a caminhar. O gesto
provavelmente não significava nada, mas ela não pôde evitar de inclinar-se um
pouco sobre ele.
—
Bem, agora que você mencionou, tenho sentido vontade de picles e doce de leite
— declarou Blake.
— Bom
Deus! Que disparate de sabores. Isso é o suficiente
para trazer de volta seu enjôo matinal.
—
Mas que cena mais aconchegante! — uma voz feminina comentou.
Cassidy
não teve que olhar para trás para saber de quem era a voz.
— Alô,
Penélope — cumprimentou Blake com voz mal-humorada.
—
Vocês parecem a típica família americana — As palavras gotejavam veneno. — E o
que é isso? Você está engordando, Cassidy? Sabe, pertenço a um clube de saúde
maravilhoso que pode fazer milagres por você — Ela passou as mãos pelos
contornos de sua própria figura delgada.
Cassidy
queria esbofetear aquele sorriso falso. Se ao menos não estivesse grávida.
—
Acontece que minha esposa está carregando o nosso filho — contou Blake com
orgulho.
Cassidy
afogueou-se pela defesa dele. E para enfatizar sua observação, Blake colocou
uma mão protetora sobre a barriga dela.
—
Grávida? Grávida! — O rosto de Penélope passou de branco pálido para vermelho
escarlate. Cassidy achou que a mulher fosse explodir ali na sua frente.
— Eu
acredito que foi o que falei — Blake olhou para Cassidy com expressão séria,
mas havia um brilho piscando nos olhos. — Não foi isso, querida?
Cassidy
imediatamente entendeu o jogo dele.
—
Sim, acredito que foi — confirmou.
—
Mas... mas você não pode estar grávida.
—
De acordo com o médico, estou — disse Cassidy.
Naquele
momento, o bebê deu seu primeiro chute verdadeiro, batendo contra a mão do
pai, que estava ainda protegendo a barriga de Cassidy. Eles se entreolharam e
começaram a rir.
—
E posso perguntar o que é tão engraçado? — Penélope inquiriu.
—
Parece que nosso filho vai ser jogador de futebol — respondeu Blake.
Pelo
olhar confuso na face, Penélope obviamente não entendera nada.
—
Vocês dois se merecem. Adeus.
— Exercício
é bom para mulheres grávidas. Na verdade, o médico me aconselhou a fazer algum
todos os dias.
—
Estou certo de que ele aconselhou — concordou Andy, exasperado. — Mas acho que
ele não quis dizer que você deveria passear no parque sozinha. Você pode se
machucar.
—
Vou lá todos os dias — contou ela.
Tanto
Blake quanto Andy estavam começando a tratá-la como uma inválida.
—
Mas é muito perigoso. Alguém poderia assaltá-la — insistiu Andy, determinado a
não deixá-la ir ao parque sozinha. Cassidy zombou das palavras dele:
—
Quem, com um pingo de juízo, quereria assaltar uma mulher com seis meses de
gravidez? A menos, é claro, que pensassem que ela estava escondendo algo, além
do bebê sob sua bata.
—
Não quero que você ponha meu sobrinho em perigo.
—
Agora você tem raio X nos olhos e pode ver o sexo do bebê?
Ele
enrubesceu.
— Bem, sobrinha ou sobrinho, eu
quis dizer.
Cassidy riu. Homens podiam ser tão engraçados.
Cassidy riu. Homens podiam ser tão engraçados.
—
Venha cá, ajude-me a levantar-me do sofá.
—
Não até que me prometa que não vai passear no parque sozinha.
—
Andy, por favor.
—
Por favor, o quê? — perguntou Blake quando entrou na sala.
—
Você chegou cedo — Cassidy o olhou com um sorriso.
—
Parece que sim. Agora me diga o que é que você queria que
Andy
fizesse?
—
Ele não quer me ajudar a levantar-me do sofá. A expressão de Blake era de
surpresa.
—
Pensei que você estivesse aqui para ajudá-la.
—
Espere um momento antes de tirar conclusões precipitadas — protestou Andy. —Ela
não lhe contou a história inteira. Sua esposa quer ir passear no parque...
sozinha.
— Sozinha?
—
Sim, sozinha — respondeu ela, afundando-se no sofá, já que nenhum dos dois
estava disposto a ajudá-la a se levantar.
—
Você não pode estar falando sério — disse Blake.
—
Ela está — acrescentou o irmão.
—
Seja racional. Qualquer coisa pode acontecer lá. E se você cair, ou pior, e se
alguém... alguém...
—
Assaltá-la — completou Andy.
—
É uma possibilidade. Escute, se você quer tanto ir, Andy e eu podemos
acompanhá-la.
—
Você está brincando, não é? — Cassidy olhou de um irmão para o outro. Nenhum
deles estava vestido para um passeio no parque. Andy, um pouco mais casual, com
calça esporte e camisa inteira abotoada. Todavia, Blake estava usando um terno
azul-marinho, gravata de seda italiana e sapatos clássicos.
—
Escutem, rapazes. O tempo que vocês vão levar para trocar de roupa já será
tarde para um passeio no parque. Vamos esquecer minha vontade.
—
Então não mudaremos de roupa — decidiu Blake.
—
Sim, e o médico disse que você precisa de exercício — rematou Andy.
—
Vocês dois iriam vestidos assim? Seria um espetáculo. Eu me sentiria uma
celebridade com dois guarda-costas atrás de mim. Só faltaria os óculos escuros
e armas escondidas.
—
Acho que você está falando bobagem — os dois irmãos falaram ao mesmo tempo.
—
Vamos esquecer que mencionei a vontade de ir ao parque.
— E
observar você vagueando infeliz pelo apartamento até o fim da tarde? — Blake
suspirou. — Nem pensar.
Ela
começou a protestar, mas então mudou de idéia. Desta vez, os deixaria segui-la.
Talvez na próxima vez, eles a deixassem andar sozinha. Cassidy estendeu os
braços para que os dois a ajudassem a ficar de pé.
Ela
adorava aquela época do ano. Havia um friozinho agradável no ar anunciando a
chegada do outono. Um cobertor cobria o solo dos parques com folhas
alaranjadas. Esquilos subiam nos carvalhos juntando os frutos da árvore para
passarem o inverno.
Ela
olhava casualmente para Blake e Andy, diversos passos atrás, parecendo os
Irmãos Cara de Pau.
Então
decidiu ignorá-los. O dia estava deslumbrante para se preocupar com eles.
Todavia, era engraçado como haviam se tornado protetores conforme sua gravidez
progredia. E Cassidy não podia negar que era muito bom ter alguém tomando conta
dela.
Se
fechasse os olhos, poderia até fingir que o casamento era de verdade e não se
desfaria após o nascimento do bebê.
—
Parados aí! Não se movam.
Cassidy
assustou-se com a voz. Oh meu Deus, eles três estavam sendo assaltados e seria
sua culpa. Ela voltou-se em direção à voz.
Seu
medo transformou-se em confusão quando olhou para o policial que estava
apontando uma arma para Blake e Andy. Sem tirar os olhos dos dois, ele
perguntou a ela:
—
Senhorita, você está bem?
—
Sim, estou ótima — respondeu ela, intrigada.
—Muito
bem. Vamos ver agora as cédulas de identidade dos dois senhores — ordenou o
policial.
Cassidy
de súbito percebeu o que estava acontecendo.
— Isso
tudo é um mal-entendido, sr. policial.
—
Não se preocupe com nada, minha senhora. Estive observando estes dois homens de
longe. Sem que a senhora percebesse, eles a estavam seguindo. Mas, sou treinado
para localizar criminosos.
Cassidy
olhou de Blake para Andy e depois para o policial que parecia estar perto da
idade de aposentar-se. Não podia realmente culpá-lo. Os "Irmãos
Lawrence" realmente pareciam personagens suspeitos. Ela quase riu, mas a
expressão no rosto de Blake a impediu.
—
Estes são meu marido e cunhado, sr. policial. Estavam me seguindo porque eu
queria dar um passeio e eles se recusaram deixar-me vir sozinha.
O
policial não parecia muito convencido.
—
Tem certeza?
— Acho
que a moça conhece seu próprio marido — declarou Blake em tom sério.
O
policial baixou a arma e embainhou-a.
—
Minhas desculpas, mas era meu dever proteger uma senhora no estado em que ela
se encontra.
Quando
o oficial se foi, Blake aproximou-se e colocou o braço em volta de Cassidy.
—
Vamos para casa agora — murmurou.
Capítulo
VIII
— Você
não tem que ser minha babá — informou Cassidy a Andy.
— A
maioria das minhas aulas são à noite neste semestre, de forma que não há
problema. E não estou sendo sua babá. Estou aqui apenas para ajudar você—disse
ele, dirigindo-se ao refrigerador e, retirando uma cenoura, começou a
mastigá-la.
—
Eu já prometi a ambos que não iria mais caminhar no parque sozinha, portanto,
não há razão de você estar aqui.
—
E quem ajudará você a levantar-se do sofá?
Ele
sorriu e, por um momento, Andy a fez lembrar-se de Blake. Os dois irmãos tinham
o mesmo sorriso cativante. Mas era aí que a semelhança terminava. Ela se sentia
bem junto a Andy, mas Blake... bem, ele ainda a deixava um pouco nervosa.
Estava
ficando cada vez mais difícil pensar no dia em que teria que se mudar.
Suspirou. Blake vinha sendo gentil e amável com ela, e preocupado com sua
saúde, porém, Cassidy sabia que era por causa do bebê que carregava. Tudo
acabaria quando ele chegasse ao mundo.
—
Qual é o motivo desse olhar tão triste? — perguntou Andy.
—
Triste? Engano seu. E quero que saiba que posso levantar-me do sofá sozinha.
Ele
a seguiu quando ela entrou na sala de estar, espanador na mão, embora não
houvesse sombra de poeira em lugar nenhum. Talvez fosse para mantê-la ocupada e
sem encará-lo. Precisava ser mais cuidadosa para não deixar transparecer suas
emoções. Andy era perspicaz e bom leitor de faces.
—
Então, como meu irmão a está tratando?
—
Otimamente.
—
Não foi bem essa a minha questão. Ela parou de espanar e fitou-o.
—
Se você quer perguntar alguma coisa, seja mais direto.
—
Muito bem. Quando é que vocês dois vão cair em si e acabar com esse fingimento
de que o casamento não é verdadeiro?
Cassidy
voltou a espanar.
—
Não estamos fingindo. Nosso casamento não é real. Tão logo o bebê nasça, eu me
mudarei daqui.
—
Isto é a coisa mais tola que você já disse.
Andy
colocou as mãos no ombro dela e girou-a para si. Não havia maneira de Cassidy
evitar o contato ocular, agora.
—
Na manhã que vim para casa da faculdade, vocês dois estavam na cama juntos—disse
ele. — Não foi difícil imaginar o que estavam fazendo.
—
Andy! — exclamou ela, libertando-se das mãos dele e dando-lhe as costas. — Isso
não é algo que quero discutir com você.
Movendo-se
para um aparador, Cassidy pegou uma estatueta de latão e começou a espanar
furiosamente. Esperava que Andy entendesse a dica que aquele assunto era
íntimo demais para compartilhar com um cunhado.
—
Você pode afirmar que não há nada acontecendo entre vocês?
Ele
não ia mudar o rumo da conversa. Andy era tão persistente quanto Blake no que
dizia a esperar respostas. Nunca desistiam.
—
Sentimos atração física um pelo outro. Até admito — começou ela.
—
Uh-huh. Eu sei isso.
—
Mas é apenas atração física. Seu irmão é bonito. E bom. Era normal que
terminássemos nessa... situação bizarra.
—
Não vejo nada de bizarro em um homem e uma mulher se atraírem mutuamente.
Bizarro seria se vocês dois fossem do mesmo sexo.
—
Você sabe que está sendo preconceituoso com esse comentário — murmurou ela,
tentando ver se conseguia mudar o assunto. — Mas é somente atração física. Você
pode perder as esperanças que nosso casamento de faz-de-conta venha a ser algo
mais real — Obviamente Andy não estava convencido. — Ouça, estou certa que você
já teve relações com uma... uma garota.
—
Não sou virgem, se é o que você quer saber — declarou Andy com um sorriso
maroto.
Cassidy
franziu o cenho.
—
Muito bem, então por que você não é casado, já que faz sexo com elas?
Ele
ficou em frente dela.
—
Sim, mas há uma diferença nos meus relacionamentos. E sabe qual é? Eu e as
garotas com quem faço sexo não estamos apaixonados.
—
Seu irmão e eu não estamos apaixonados — replicou ela, cerrando os dentes.
Para
um estudante de faculdade, Andy não era lá muito inteligente. Se houvesse algum
amor, era apenas de um lado, e isso não era suficiente para fazer um casamento
dar certo. Não, decididamente, quando o bebê nascesse, ela sairia da vida de
Blake e estava certa que superaria seus sentimentos por ele.
Andy
pegou seus livros e dirigiu-se à porta da frente.
—
Como você quiser — disse ele, aparentemente não convencido pela negação dela. —
Vejo você mais tarde, irmãzinha.
Andy
conseguia ser tão exasperante quanto o irmão. Para descarregar os nervos,
Cassidy atirou o espanador contra a parede. Blake estava entrando na sala e foi
atingido em cheio.
—
O que foi que eu fiz?
— Nada
— respondeu ela, reorganizando peças de decoração sobre o aparador da lareira.
— Sabe, não preciso de Andy tomando conta de mim quando você não está em casa. Estou grávida,
não inválida.
—
Tudo bem. Eu lhe direi que você não precisa mais dele.
Cassidy
não esperava que ele cedesse tão fácil e estava ainda zangada, o pior, sem
saber porquê.
—
Houve alguma coisa mais? — perguntou Blake.
Ela
começou a andar de um lado para o outro, sem dizer nada. Quando ele sorriu, ela
perdeu o pouco controle que tinha.
—
Você e seu irmão são loucos. Você me trata como se eu não tivesse juízo. Será
um alívio partir depois que o bebê nascer. Se eu nunca mais precisar vê-los
novamente, será melhor ainda. Só espero que o bebê não puxe seu lado da
família. E outra coisa...
—
Sim? — perguntou Blake calmamente, levantando uma pequena sacola que estava
segurando. — Se você acabou, eu trouxe bolinhos de chocolate. Mas só se você
terminou.
Cassidy
ficou com a boca cheia d'água.
—
Bolinhos de chocolate?
—
E recheados, como você gosta.
O
ar furioso dela esvaeceu-se.
—
Eu não estava realmente furiosa com você. Era com Andy, que está um pouco
confuso sobre algumas coisas — contou ela.
—
É a idade dele. A maioria de sua geração está confusa. Ele lhe entregou o
pacote com os bolinhos de chocolate. Sem perder tempo, Cassidy começou a comer,
um atrás do outro.
—
Humm, é delicioso.
—
Diga-me sobre o que Andy estava confuso. Ela quase se sufocou com um pedaço de
bolo.
—
Oh, não foi nada.
—
Não acredito. Caso contrário, você não teria ficado assim tão nervosa que quase
quebrou minha testa com o espanador.
—
Desculpe-me por isso — ela suspirou. — Bem, foi sobre a vida em geral. Ele tem algumas
noções preconceituosas sobre relacionamentos.
—
Principalmente sobre o nosso — apontou ele.
—
Mais ou menos isso — Ela não queria falar a respeito, mas o olhar de Blake era
incisivo e ele dificilmente deixaria o assunto morrer. — Andy acredita em
contos de fadas, você sabe, do tipo "eles foram felizes para sempre".
Eu lhe disse que não funcionaria dessa forma no nosso relacionamento.
A
expressão de Cassidy tomou-se solene. Será que Blake pensaria que ela queria um
final feliz no conto de fadas deles? Não suportaria se obtivesse a empatia de
Blake, em vez de seu amor.
Respirando
fundo, ela continuou:
—
É claro que tentei fazê-lo entender, mas ele não me escutou. Você e eu
pertencemos a mundos diferentes. Nossos caminhos foram cruzados por um infeliz
incidente. Um verdadeiro casamento jamais daria certo entre nós. De fato, se
você pensar nisso, a idéia é realmente muito engraçada.
—
Hilária — foi o comentário dele.
Cassidy
colocou o pacote de bolinhos no balcão.
—
Acho que todo esse chocolate foi demais. Vou me deitar um pouco.
É
claro que ele pensava que a idéia era jocosa. Eles eram dois estranhos que
haviam sido presos numa armadilha impensada. Caminhando para o quarto, ela
pensou: Três meses mais e tudo estará acabado. As únicas vezes que veria Blake
seria quando ele pegasse o bebê. Talvez ele até mesmo mandasse uma babá buscar
a criança.
Ela
entrou no quarto e olhou para a coruja empalhada.
—
Seremos somente eu, o bebê e você, Bernard.
Blake
continuava inclinado contra a lareira. Bem, o que Cassidy comentara sobre o
casamento deles não era nenhuma surpresa.
Então,
por que ele deveria se importar? Não sabia. Ou talvez soubesse. Sua casa seria
solitária quando ela partisse, mas Cassidy tinha o direito de fazer o que lhe
agradasse. A família dele já lhe causara problemas suficientes até agora.
Desde
que Cassidy entrara no seu caminho, a vida de Blake mudara. Parecia mais
brilhante, mais excitante, mais cheia de risos. Ele riu. Sim, sua vida era
muito embaçada e Cassidy a iluminara. Ela era, portanto, seu ponto luminoso.
Ele
caminhou para o quarto e olhou-se no espelho por sobre a cômoda. Outras
mulheres haviam se apaixonado por ele... por que não Cassidy? Não era um homem
feio. As mulheres costumavam dizer que era atraente. E ademais, procurava,
geralmente com sucesso, satisfazer as mulheres na cama, e tinha boas
qualidades.
Ele
zombou de si mesmo. A quem estava querendo enganar? As primeiras impressões
eram as mais duradouras e as suas não tinham sido muito louváveis.
A
verdade era uma só, sua visão e conceito de casamento mudaram desde que
conhecera Cassidy. Ele queria que este casamento fosse para valer.
Blake
sentou-se no canto da cama. Muito bem, poderia dar um jeito nisso. Afinal de
contas, era um homem de negócios.
O
problema era que Cassidy não o amava. Sua principal ação era clara: fazê-la apaixonar-se
por ele. Conquistar-lhe o coração.
Ele
poderia fazer isso. Não poderia?
Ele
a estava enlouquecendo! Blake nunca ficara em casa nos sábados. Sempre passava
os sábados no escritório, mas, aparentemente, não hoje. Todas as vezes que ela
se virava, lá estava ele, seguindo-a.
—
Você não vai para o escritório hoje?
—
Não.
—
Por quê?
—
Tiro um dia de folga de vez em
quando. Além do mais, pensei que poderíamos fazer algo juntos
hoje.
Ele
estava agindo de maneira muito estranha. Ela não percebera exatamente quando a
transformação começara, mas alguma coisa estava acontecendo. Seria a gravidez?
Talvez fosse um sintoma que somente os homens adquirissem.
—
O que você tem na mente? — perguntou ela. — Temo que não há muito que eu possa
fazer agora.
—
Você pode dar um passeio de carro?
—
Um passeio? Num carro, sozinha com Blake? Sobre o que eles falariam? As palmas
de suas mãos começaram a transpirar.
—
Sim, um passeio. Vamos, vai lhe fazer bem sair um pouco do apartamento.
Ela
não podia pensar em desculpa alguma que não soasse ingratidão. Mesmo antes de
ela concordar, ele tirara uma jaqueta leve do armário e ajudou-a a vesti-la. As
mãos fortes tocaram-lhe o pescoço enquanto ele ajustava a gola da jaqueta.
Cassidy
ofegou. O aroma masculino era como o de um bosque, como o orvalho da manhã e
aquilo a estonteava. O aroma definido de um homem saudável. Os sentidos de
Cassidy pareciam levitar.
—
Você está se sentindo bem, não está? Parece um pouco ruborizada e sua
respiração um pouco opressa.
—
Estou ótima, pode crer.
Se
ficava descontrolada por estar próxima dele por alguns segundos, como
conseguiria esconder as emoções, o resto do dia ao lado de Blake? - perguntou-se.
Quando
eles caminharam para o carro, foi ainda pior. Blake insistiu em segurar-lhe a
mão, dizendo que o chão do estacionamento era irregular. Ela ficou aliviada
quando entrou no veículo, até que ele inclinou-se sobre ela.
—
Deixe-me afivelar o cinto de segurança para você.
A
face de Blake roçou os lábios dela enquanto ele se esticava para fazer a tarefa.
Ela afastou-se, mas apenas alguns centímetros. Era demais. Temia que ele
ouvisse as fortes batidas do seu coração. Infelizmente, aquela ação terminou e
ele fechou a porta.
Quando
deu a partida, Cassidy baixou o vidro da janela. O ar frio certamente clarearia
sua cabeça.
—
Você não vai querer deixar essa janela aberta muito tempo — murmurou ele. — Não
quero que fique arrepiada de frio.
Arrepiada?
Aquilo era uma piada. Um toque dele já a deixara arrepiada até a medula.
—
Onde estamos indo? — perguntou ela, mudando o assunto.
—
É uma surpresa.
Uma
surpresa. Meu Deus, era tudo que ela não queria, mais surpresas.
Cassidy
relaxou contra o encosto do banco e preparou-se para aproveitar o passeio.
Uma
hora depois, Blake saiu da estrada onde casas haviam sido construídas num
loteamento privativo, perfeitamente visíveis através de fileiras de altos
carvalhos. Era uma bela vista.
Ela
quase podia imaginar como seria viver ali, somente eles três. Fechou os olhos,
tentando apagar a imagem. Não adiantava querer algo impossível.
Então
ela empertigou-se no banco quando ele pegou um dos caminhos de pedregulhos que
levava a uma das casas.
—
Blake, não estou adequadamente vestida para fazer visitas.
Ele
riu.
—
A casa está vazia. Quero sua opinião. Um apartamento não é um lugar muito bom
para criar uma criança.
O
lar em estilo Tudor
era perfeito. Pequeno o suficiente para ser confortável, mas grande o bastante
para receber visitas e até dar festas.
Cassidy
cairia como uma luva no estilo de vida dele. Então por que se sentia tão aborrecida?
Provavelmente porque nunca seria capaz de competir com aquilo. Por que o seu
filho iria querer viver num apartamento apertado com ela, quando poderia ter
tudo aquilo?
Não,
não pensaria desse jeito. Cassidy não tivera uma criação portentosa, todavia,
sua avó fizera tudo que pudera com muito amor. Ela nunca tivera o dinheiro que
Blake possuía. Seu filho teria que aceitá-la do jeito que era.
—
É linda, Blake — murmurou.
Eles
entraram na casa. O aquecedor fora ligado e o ambiente estava acolhedor. Blake
ajudou-a tirar a jaqueta. Subiram a escada para o segundo andar.
—
Pensei em fazer o quarto do bebê aqui, porque aquela porta dá para a suíte do
casal — ele apontou para a porta divisória.
—
É perfeito. Você poderia pintar as paredes de amarelo-clarinho, e colocar uma
faixa decorativa. O berço deveria ser perto da janela para pegar o sol da manhã
e... — ela parou, subitamente constrangida.. — Sinto muito, não tive a intenção
de dizer-lhe como decorar.
Ele
riu e o quarto pareceu mais iluminado.
—
Esta é a razão pela qual eu quis que você visse a casa. Esperava que você me
ajudasse com a decoração, isto é, se não for muito incômodo.
—
Não, eu adoraria.
Um
giro pelo resto da casa provou que ela era bonita por inteiro.
Cassidy
a amou mais do que ousava admitir. Especialmente, a sala de estar. A lareira
era magnífica, imponente. Porém, o que mais lhe chamou a atenção foi uma área
anexa à sala. Ela quase podia ver um piano de cauda colocado em frente das
janelas que iam do chão ao teto. Cassidy meneou a cabeça para afastar os
pensamentos. Não era sua casa e seria perigoso fingir o contrário.
Blake
viu a expressão sonhadora no rosto dela. O primeiro estágio de sua corte fora,
evidentemente, um sucesso.
Ela
adorara a casa, e divertira-se, trocando com ele detalhes sobre a decoração. Os
dois passariam horas incontáveis sozinhos, com suas cabeças curvadas sobre as
amostras de pisos, papéis de parede e cores. Como Cassidy poderia não se
apaixonar por ele?
Blake
quase riu alto. Ela jamais saberia de que forma se envolvera.
Três
meses? Blake acreditara que seu charme fosse tão grande que Cassidy estaria
loucamente apaixonada por ele em somente três meses? Que estaria extasiada
pelos seus encantos?
Quem
ele pensava que era? Brad Pitt? Antônio Banderas?
Blake
não gostava de desistir, mas temia que era exatamente o que ia fazer. Tentara
de tudo, sob o sol e sob a lua, para fazer Cassidy apaixonar-se por ele, mas
nada parecia funcionar. O modo que ela o tratava era como se ele fosse um
estranho, não o pai do filho dela.
O
bebê nasceria em duas semanas e Blake não fizera nenhum progresso. Para ser
honesto, existia mesmo até mais distância entre eles.
Todos
os toques sutis que deveriam acender a chama da paixão dentro de Cassidy não
eram sequer o suficiente para acender uma vela.
O
ardor dele fora testado até o limite. Quantas duchas frias foram tomadas para
não fazê-lo passar por bobo? Incontáveis vezes.
Talvez
fosse melhor desistir e encarar o fato de que Cassidy não se importava o mínimo
com ele.
—
Qual é o problema com você? — perguntou Andy quando entrou no escritório de
Blake.
Espantado,
Blake o encarou. Não havia nem mesmo ouvido a porta abrir-se.
—
O quê?
— Você
parece arrasado emocionalmente. O que está acontecendo?
— Eu
estava aqui pensando sobre um projeto de negócio — mentiu ele, sem querer
admitir, mesmo para Andy, que se apaixonara por sua esposa.
—
Então, por que você queria me ver?
—
É sobre Cassidy.
Andy
sentou-se em frente à mesa de Blake.
—Ela
está bem, não está? — inquiriu com expressão preocupada.
—
Sim, Cassidy está bem.
Blake
estava um trapo, mas sua esposa estava ótima.
—
Excelente — Andy relaxou. — Então, vocês dois finalmente voltaram ao juízo
normal?
Zangado,
Blake levantou-se e caminhou até a janela.
—
Você sabe desde o início que o casamento terminaria tão logo o bebê nascesse.
Quero que você ache um apartamento para Cassidy. Um bom apartamento.
—
Você vai assumir a conta? Blake voltou-se para encarar o irmão.
—
É claro. Ela dificilmente teria condições de pagar um apartamento, não um como
o que quero que tenha.
Quando
Blake viu a expressão de interesse do irmão, acrescentou:
—
Filho meu não vai viver na pobreza.
—
Ela não vai gostar que você pague as contas.
—
Ela não tem nada que dizer sobre esse assunto. Não quero um filho meu vivendo
do que ela ganharia. Quando Cassidy terminar a faculdade, será capaz de arcar
com suas próprias despesas.
—
Você sabe — começou Andy, levantando-se —, para um homem que se sai tão bem nos
negócios quanto você, certamente não muito bom no amor. Se eu fosse você, eu diria
a Cassy como realmente se sente em relação a ela.
Blake
franziu o cenho. O que Andy sabia sobre amor?
—
Amor não entra nisso. E pela milionésima vez, lhe digo que o nome dela é
Cassidy, não Cassy. Gostaria que se lembrasse disso.
Andy
deu uma gargalhada e dirigiu-se à porta, sem mais nenhuma palavra.
Duas
semanas mais. Seu bebê tinha que chegar em tempo, penso Cassidy. Não sabia se
poderia suportar estar perto de Blake por mais tempo sem deixar transparecer
seus sentimentos por ele através de palavras contidas há tanto tempo.
Felizmente,
a casa estava terminada. Se, Blake a tocasse mais uma vez, se ela aspirasse o
perfume da sua colônia novamente, não se responsabilizaria pelas conseqüências.
Era
tudo que poderia fazer para manter as mãos longe dele.
A
situação era ridícula: ali estava ela, quase no dia de dar a luz, e tudo que
podia pensar a respeito era fazer amor louco e apaixonado; com seu marido.
Seria muita sorte se o bebê não se tornasse um ninfomaníaco quando
crescesse.
Pelo
menos, a saída de hoje incluiria Andy, portanto, ela não estaria completamente
só com Blake. Ela parou de escovar os cabelos. Engraçado, mas Andy nunca
dissera onde os estava levando.
— É
uma surpresa — fora tudo que ela conseguira arrancar dele.
Bem,
se eles não fossem para muito longe, poderia até ser bom o passeio. Suas costas
andavam doendo ultimamente. Talvez fosse um sinal do parto iminente e ela não
queria estar longe do hospital.
—
Você está pronta? —perguntou Andy com expressão excitada, quando ela entrou na
sala de estar.
Cassidy
olhou-o desconfiada.
—
Onde estamos indo, afinal?
—
É um segredo, mas é algo que acho que ambos gostarão.
—
Você sabe que tenho uma reunião importante pela manhã e gostaria de estar de
volta a tempo de examinar alguns papéis — declarou Blake.
—
Sem problemas — murmurou Andy, ajudando Cassidy a caminhar até a porta de
saída.
No
carro, Cassidy insistiu que os dois homens fossem na frente para que ela
ficasse mais confortável atrás, sozinha. Pelo menos dessa maneira, apenas tinha
que olhar para a nuca de Blake.
—
Aposto que ambos estão animados. Só mais duas semanas e o bebê estará
aqui—disse Andy, puxando conversa. — Sua casa deverá estar quase pronta para
ser habitada na ocasião, certo, Blake?
—
Sim, deverá.
Cassidy
achou que Blake não parecia nada animado. Estaria lamentando-se de ter comprado
a casa?
—
Blake, você já pensou o que vai fazer quando for sua vez de ficar com o bebê?
Pode ser difícil contratar uma babá de meio período.
Blake
voltou-se para Andy:
—
Temos que discutir isso agora?
—
Você terá que decidir rapidamente.
—
Bem, não tenho que decidir agora — resmungou Blake.
—
E você, Cassy? — Andy olhou de soslaio para o irmão, a fim de ver sua irritação
pelo apelido carinhoso que usava com a cunhada. — Já decidiu onde o bebê ficará
quando você estiver na escola? Há algumas creches muito boas por um dia, perto
da faculdade.
—
Creches para tomar conta de bebês por um dia! — Blake voltou-se para Cassidy e
perguntou: — Você certamente não planeja deixar estranhos criarem nosso filho?
—
E o que você pensa que uma babá faria? — perguntou ela. — Além do mais, há
realmente alguns centros de cuidados maternais por um dia, perto da faculdade.
Naturalmente, pedirei referências.
—
Escuta, irmãozinho, você não tem que se meter muito nesse assunto, quero dizer,
esta criança não é só sua, você sabe. Cassy será capaz de ter uma opinião
também.
—
Obrigada, Andy — Não que ela quisesse deixar seu bebê numa creche maternal por
dia. Se pudesse escolher, ficaria em casa até que o bebê pudesse freqüentar a
escola. Todavia, sua situação financeira tornava isso impossível.
O
silêncio reinou durante os quilômetros seguintes, e Cassidy finalmente
conseguiu relaxar um pouco. Não gostara do rumo que a conversa tomara. Se fosse
esperta, teria seu futuro garantido, mas preferiria ser boba a aproveitar-se da
situação.
Ela
fechou os olhos e relaxou. Então teve um sobressalto quando Andy começou a
falar novamente:
—
Pelo menos, diga-me que você não está planejando reatar com Penélope outra vez.
Ouvi dizer que ela dispensou seu último namorado e está de espreita, rondando.
Quando descobrir que você é um homem livre, avançará as garras na sua direção.
Cassidy
prendeu a respiração à espera da resposta de Blake.
—
Alguém já lhe disse que você fala demais, Andy?
—
Você — respondeu Andy, sorrindo.
—
Bem, não planejo vê-la nunca mais. Duas vezes na vida é o bastante para
qualquer homem.
Cassidy
soltou a respiração. Pelo menos, aquela era uma preocupação a menos.
— E
quanto a você, Cassy? Algum homem esperando de prontidão?
Ela
sentiu enrubescer-se.
—
Não, não há ninguém — sussurrou.
—
Bem, não se preocupe. Tenho certeza que o homem certo surgirá. Ele
provavelmente amará o bebê tanto quanto Blake.
—
Podemos mudar de assunto, por enquanto? — Blake estava visivelmente irritado.
— Não
sei por que você está ficando tão melindrado. Com certeza, nenhum de vocês
espera que o outro fique solteiro. É normal que ambos encontrem alguém,
apaixonem-se e casem-se. Mas seria duro para o bebê. Vocês sabem, mudar de uma
casa para outra e esquecer qual é a sua mãe e quem é o seu pai, mas...
—
Andy! — falaram ambos em uníssono.
Eles
passaram o resto da viagem em abençoado silêncio.
Finalmente,
depois de uma hora e meia, tomaram uma estrada rural que levava ao campo.
Cassidy nem notara que já haviam deixado a parte urbana, tão perdida que estava
nos pensamentos e profundamente aborrecida com a idéia de Blake casando-se com
alguém.
—
Onde estamos? — perguntou Blake.
—
Não é muito longe — respondeu Andy.
Cassidy
sorriu quando ajeitou o corpo no assento. Estivera sentada por tanto tempo que
suas costas estavam reclamando.
A
cabana de toros de madeira era aninhada entre altas nogueiras, e, à esquerda,
havia um imenso lago. Era bonita, como uma gravura de um livro de história. Tão
logo o carro parou, Cassidy desceu.
—
É maravilhoso, Andy. Que bela surpresa. Alguém mora aqui?
—
Um colega meu da faculdade, mas sei onde ele deixa as chaves.
—
Ele não se importará?
—
Steve? Não, eu uso a casa o tempo todo — ele deu um sorriso travesso e
malicioso. — Esta casa impressiona as garotas.
Ela
deu uma risadinha.
—
Pensei que pudéssemos fazer um piquenique — acrescentou Andy.
—
Não está um pouco frio para um piquenique? — Blake franziu o cenho para o irmão.
—
Não onde planejo fazê-lo — ele galgou os degraus e pegou a chave da casa
embaixo do capacho.
—
Um esconderijo muito engenhoso. Quanta criatividade — debochou Blake.
—
Vim mais cedo e deixei a lareira acesa — Andy dirigiu-se para a lareira com as
chamas quase extintas. A sala ainda estava aconchegante. — Podemos pôr os
apetrechos para o piquenique sobre a mesa e, com a vista do lago, será como se
estivéssemos do lado de fora.
—
E onde está a comida? — indagou Blake.
—
Você pensou que eu me esqueceria? Está no porta-malas do carro. Vocês dois dão
uma olhada por aqui que irei buscar.
Depois
que Andy saiu, Cassidy caminhou até a lareira e começou a aquecer as mãos.
Blake chegou a seu lado.
—
Você não está com frio, está? Ela sorriu.
—
Eu acho que é automático aquecermo-nos quando estamos em frente de uma lareira.
Ele
devolveu o sorriso.
— Sim,
você tem razão, mas acho que se não pusermos mais lenha, logo, logo, ficaremos
sem fogo.
—
Você sabe o que ele está tentando criar, não sabe? — perguntou-lhe Blake.
Ela
suspirou. Sabia exatamente o que o cunhado estava armando.
—
Sei. Um final feliz. Blake sorriu.
—
É um pouco difícil quando há uma terceira pessoa, a menos que ele planeje ficar
lá fora no frio. Afinal, como diz o ditado: Um é pouco, dois é bom e três é
demais.
Cassidy
sorriu à imagem que surgiu na mente.
—
Parece que ele não sabe como tocar violino, sabe?
—
Jesus! Detestaria ouvi-lo tentar.
Ambos
riram, mas o riso desapareceu rapidamente quando ouviram o barulho do carro
partindo.
—
O que você supõe que ele vai fazer? — murmurou Blake quando ela foi até a
porta. — Meu Deus! — exclamou quando correu para fora. — Andy, volte aqui!
Cassidy
o seguiu devagar, parando na varanda da casa, porque havia uma cesta de vime
bem no meio dela.
Andy
já estava pegando a curva da estradinha e ficando fora da vista.
—
Eu vou matá-lo quando puser as mãos sobre ele.
—
Você acha que ele se esqueceu de alguma coisa e foi buscar?
—
Não seja ingênua. O que ele esqueceu foi de seu juízo — disse Blake, pegando a
cesta de vime e entrando na casa.
—
Você não quer dizer que...
—
Tenho certeza. Ele nunca quis ser a terceira pessoa.
Sozinha
com Blake? Sem televisão para se distrair? Pelo menos, ela não viu nenhuma. Sem
papéis de negócios para ele examinar?
—
Como ele pode ser tão inconseqüente? Com você tão perto da data de dar a luz,
qualquer coisa pode acontecer.
—
Ainda faltam duas semanas. Os primeiros bebês geralmente atrasam.
Blake
colocou a cesta sobre a mesa e abriu-a. Sua risada não tinha muito humor.
—
Se isso não lhe disser o que ele pretende, nada mais dirá. Caviar, queijo,
frutas, uma garrafa de vinho — murmurou Blake, pegando uma lata e começando a
rir.
—
O quê? — perguntou Cassidy, chegando mais perto.
—Ostras.
Não sei o que ele espera que nós façamos, especialmente na sua condição.
O
rosto dela corou, e não pelo calor do fogo.
—
Seria difícil fazer alguma coisa... uh... desta natureza. O sorriso de Blake
foi malévolo.
—
Você acha que o bebê protestaria? — Ele vasculhou novamente dentro do cesto. —
E, é claro, velas.
—
É claro. Como alguém pode criar uma perfeita atmosfera romântica sem elas?
Ele
franziu o cenho quando puxou o último item do cesto.
—
Um gravador de fitas? — Cassidy olhou para Blake. — O que devemos fazer com
isso?
—
Mais do que provável que é música romântica.
Ele
apertou o botão play, mas, em vez de música que esperavam ouvir, a voz
de Andy surgiu alta e clara. Ele não parecia feliz em absoluto com os dois.
Capítulo
IX
Blake
rapidamente desligou o gravador.
—
Por que você fez isso? — perguntou Cassidy. Ele a olhou por longo momento antes
de responder: — Tem certeza de que quer ouvir o que ele tem a dizer? Ela
umedeceu os lábios. Queria realmente ouvir? Trazer tudo às claras?
Quase
em câmera lenta, estendeu a mão e apertou o botão play.
Posso
imaginar que vocês dois estão querendo me matar neste momento.
A
risada gravada de Andy ecoou pelas paredes. Cassidy olhou para Blake. Pela
expressão do rosto dele, estava mais do que aborrecido com seu irmão caçula.
Poderia ela culpá-lo por estar irritado?
Ela
voltou sua atenção para a voz de Andy:
Não
seria a primeira vez que um de vocês pensou em me matar, sei disso. Tudo bem,
talvez eu tenha me exacerbado uma vez, quando pus vocês dois na cama juntos.
Tudo que queria fazer era evitar que Blake cometesse um enorme erro. E
casando-se com Penélope, você cometeria, sem sombra de dúvida.
Não
vou cometer mais um erro agora. Vocês dois estão apaixonados, mas são muito
teimosos para admitir isso. Tudo que têm a fazer é olhar um para o outro e
dizer as palavras. Agora é a chance de vocês. Não a desperdicem.
Blake
finalmente quebrou o silêncio:
—
Você estava certa, Andy acredita em finais felizes.
A
voz dele era visivelmente hostil quando pronunciou aquelas palavras. Cassidy
sentiu seu coração doer. Estaria Blake constrangido pelo que o irmão dissera?
Ela virou-se e caminhou até a lareira. Respirando fundo, falou:
—
Tolice dele, não é?
—
Será? Cassidy, talvez...
—
Ohhh, Blake — ela engoliu o resto da sentença como se de repente uma dor a
atingisse.
—
Então você se sente da mesma maneira que eu?
—
Não tenho a menor idéia do que você está falando, mas duvido muito que
estejamos sentindo a mesma coisa agora.
Ela
cambaleou um pouco e segurou-se na cadeira mais próxima.
—
Oh, meu Deus — exclamou ele, como se, de súbito, notasse o que estava
acontecendo. — Por favor, diga-me que não está em trabalho de parto —
implorou, totalmente pálido.
—
Muito bem se é o que quer, não estou em trabalho de parto — declarou ela com
sarcasmo. — Quer ouvir mais algumas mentiras?
—
Não é hora para piadas.
—
Não estou brincando.
Ela
sentou-se na cadeira e massageou a barriga. A dor persistia, ia e vinha de
tempos em tempos.
—
Chamarei o médico — disse ele, correndo para a cozinha.
Cassidy
o observou, incrédula. Quanto tempo levaria para ele perceber que não havia um
telefone? Obviamente, um instante, decidiu, enquanto ouvia portas de gabinetes
baterem, seguidas por algumas pragas obscenas. Em momentos, ele voltou correndo
para a sala.
—
Não há telefone — anunciou, ofegante. Os cabelos, normalmente penteados,
estavam completamente bagunçados, o que lhe dava um ar de garotão.
—
Onde você procurou?
—
Em todos os lugares inimagináveis — replicou ele, nervoso. — Até na caixa de
lixo. Talvez haja uma casa por perto — completou, dirigindo-se para a porta.
Ela
meneou a cabeça.
—
Andy disse que este chalé era totalmente isolado, lembra-se?
—
Não custa nada dar uma olhada. Não demorarei.
—
Nem pense nisso. Você não vai me deixar sozinha... Ohhh... — outra contração a
interrompeu.
Blake
correu para ela, ajoelhando-se ao lado da cadeira.
—
Tenho que fazer alguma coisa? Ferver água?
— Por
quê? Está querendo tomar um chá? — disse ela entre ofegos.
—
Estava apenas tentando ajudar — desculpou-se Blake. — Espere, talvez seja um
falso alarme. Você está ainda a duas semanas da data do nascimento.
Quando
a dor começou a diminuir, ela o fitou.
—
Se isso não for de verdade, então não quero saber o que é. Que coisa, Blake. Eu
não deveria estar sentindo nada disso.
—
Eu sei, querida. Sinto muito que isso tenha acontecido.
—
Você sente muito? É tudo que tem a dizer?
Quando
a dor cessou, Cassidy percebeu o quanto irracional estava sendo. Não era culpa
de Blake eles estarem enfurnados ali. Fechando os olhos, descansou a cabeça no
espaldar da cadeira.
—
Ouça, vou checar o quarto de dormir. Você se sentirá melhor se deitar.
Ele
saiu, apressado.
Por
que se envolvera com aquela família louca?, perguntou-se Cassidy. Fora péssima
idéia ter ido atrás dele à procura de ajuda financeira e acabado casada com o
homem. Mas tinha que se apaixonar por ele?
—
O quarto está limpo. Tenho que encontrar lençóis para a cama — murmurou Blake,
correndo do quarto para a sala e vice-versa.
Se
a situação não fosse tão apavorante, ela teria rido. Nunca pensara que algum
dia veria Blake tão fora de controle. Bem, talvez tivesse havido uma outra vez.
Um
calor a invadiu como um cobertor quando ela recordou-se da noite da festa.
Fechou os olhos e quase podia sentir as mãos dele tocando-a, acendendo partes
em seu interior que ela nem soubera existir.
—
Acendi o fogo — disse Blake.
—
É melhor você acreditar que sim.
— O
quê?
Ela
abriu os olhos. Quando ele voltara à sala?
—
Desculpe-me. O que foi que você disse?
—
Acendi o fogo.
Teria
ele lido seus pensamentos? Estaria jactando-se enquanto ela estava sentada ali
naquela cabana, no meio do fim do mundo, em trabalho de parto do filho dele?
—
No quarto de dormir — completou ele.
—
Do que você está falando?
—
Há uma lareira no quarto: Eu a acendi. De que você estava falando?
Ops.
Espécie errada de calor.
—
Nada. Não tem importância.
—
As contrações estão ocorrendo com maior freqüência?
Ela
olhou para o relógio.
—
Não, estão espaçadas de dez em dez minutos. Eu deveria estar sentindo nova dor
agora.
Eles
olharam para seus relógios. Um minuto passou e nada aconteceu. Ela ouviu Blake
dizer com suspiro de alívio:
—
Pode ter sido um alarme falso de trabalho de parto.
Ela
começou a gargalhar.
—
Talvez você tenha razão. Oh, Blake, se você pudesse ver sua cara...
Ela
nem acabara de falar, quando nova contração começou, vagarosamente.
—
Talvez não seja alarme falso — concluiu ela, cerrando os dentes de dor.
Blake
esperou que a contração passasse e então disse:
—
Vamos, deve estar bem quente no quarto agora. Você precisa descansar o mais que
puder, caso Andy não volte antes do... uh...
—
Você sabe, tanto quanto eu, que ele não retornará em tempo.
—
Nunca se sabe. Ele pode começar a sentir-se culpado e voltar. —Você alguma vez
ajudou um bebê a nascer? Ou pelo menos viu um nascer?
Blake
olhou para o rosto assustado de Cassidy. Como poderia lhe dizer que nunca vira
um bebê recém-nascido? Só o pensamento de sangue o deixava de joelhos bambos.
Mas não poderia contar-lhe isso, pois a deixaria mais preocupada. Só havia um
modo de acalmá-la.
Mentir.
—
Nunca dei à luz um bebê — brincou para espantar o medo do rosto dela —, mas
ajudei uma vez. Havia uma senhora que entrou em trabalho de parto quando eu
estava preso num elevador. Aconteceu que uma enfermeira estava lá também — Ele
suava frio por causa da mentira — Ela realmente deu à luz, mas eu ajudei. Um
garoto de quatro quilos. Ela deu o meu nome ao bebê.
Eles
foram para o quarto e Blake ajudou-a a deitar-se na cama.
—
Quatro quilos? Então era um bebê enorme.
Ele
tratou de mudar de assunto antes que ela desconfiasse que estava mentindo:
—
Eu vi chá quando estava procurando o telefone na cozinha. Pensei que você
gostaria de uma xícara — disse ele, enfiando um travesseiro sob a cabeça dela.
—
Isso parece bom.
—
Deixarei a porta aberta. Se precisar de mim, grite.
Ele
só levou alguns minutos para localizar uma chaleira e pôr água para ferver. Tão
logo ferveu, foi percorrer a casa.
Havia
outro quarto que saía da sala de estar. Era menor e muito pouco mobiliado.
Avistou uma pilha de livros e soltou um suspiro de alívio.
—
Por favor, faça que o amigo de Andy seja um estudante de medicina.
Sua
pulsação acelerou quando encontrou um livro sobre emergências médicas. Ótimo,
o amigo de Andy não era tolo. O livro era bom e grosso, também. Tinha que ter
algo sobre parto.
Ele
vasculhou as páginas até que encontrou o que estava procurando. Leu apreensivo
e respirou fundo. Não havia meios de ser capaz de fazer aquilo. Mesmo em partos
normais, alguma coisa podia sair errado.
Se
algo acontecesse a Cassidy, ele jamais se perdoaria. Percebia claramente agora que
não poderia deixá-la partir depois que o bebê nascesse. Se precisasse implorar
para ficar, imploraria. Desde que eles se casaram, sua vida tomara novo
significado. E ele a amava muito para deixá-la ir agora.
Ele
olhou para o livro outra vez. Suas mãos tremiam. Blake sabia que não seria
capaz de dar conta do recado. Mas também sabia que não tinha escolha.
Precisava
pensar que tudo daria certo. Tinha que dar. Arrancando a página que listava o
equipamento que precisaria, voltou para a cozinha. Por Deus, faria aquele
parto e nada sairia errado. Tudo que tinha a fazer era ajuntar as ferramentas
certas para o trabalho. Com o resto, a natureza ajudaria.
E
depois de tudo, mataria Andy. Quando o irmão caçula chegasse, Blake se tornaria
filho único.
Por
que Blake estava demorando tanto? Será que fora até a China atrás de chá de
jasmim? Não seria uma má idéia. Poderia trazer um médico com ele. Médicos
sempre tinham analgésicos nas suas malinhas pretas.
Ela
sorriu. As contrações estavam ficando mais constantes. E a última fora mais
longa do que as outras. Agora, os espaços entre elas eram de apenas seis
minutos.
Freneticamente,
olhou em volta do quarto.
Onde
estava Blake? Talvez ele saíra. Ela estava quase certa que ele mentira sobre o
bebê no elevador. Andy lhe contara uma vez que Blake ficava verde e desfalecia
só de ver sangue.
Cassidy
decidira gritar por ele, quando ele apareceu segurando uma xícara de chá. Ela
franziu o cenho. Ele não tinha de parecer tão casual.
— Desculpe-me
a demora. Estava juntando algumas coisas no caso de as coisas piorarem.
—
Coisas?
Ele
estendeu-lhe a xícara de chá.
—
Temos que ser realistas — Blake sentou-se na beira da cama. — Prefiro estar
preparado para o que possa acontecer.
—
Exatamente que tipo de coisas você juntou? — indagou ela, tomando um gole do
chá.
—
Toalhas, panos de prato, uma seringa.
—
Seringa?
—
Para fazer sucção do bebê — disse ele.
Talvez
ela estivesse errada sobre Blake. Pelo menos, parecia meio familiarizado com
coisas para o parto.
—
Eu lhe disse que não há com que se preocupar — acrescentou ele, querendo
confortá-la.
—
As contrações estão ficando cada vez mais próximas e durando mais tempo.
Ele
empalideceu. Na verdade, parecia que iria desfalecer a qualquer momento. Não,
ele deveria estar imaginando coisas. Ele estava um pouco nervoso porque era seu
filho que queria nascer.
—
É melhor certificar-me que tenho tudo que preciso — murmurou ele, saindo do
quarto.
—
Provavelmente levará algum tempo, ainda — gritou Cassidy, mas ele já saíra.
Quando
a próxima contração começou, ela se esqueceu de Blake e tentou ficar
concentrada. Lera em algum lugar que aquilo ajudava.
Então
notou que os quadros estavam embaçados, e a luz, difusa. Fechou os olhos. Assim
era melhor. Quanto mais pensava nas várias maneiras de matar Andy, parecia que
a dor não era tão insuportável.
Blake
ouviu Cassidy gemer e freneticamente verificou a lista de apetrechos que ainda
precisava juntar. A seringa tinha que ser esterilizada. Tirou outra panela do
armário e colocou água para ferver.
Pinça
para o cordão umbilical. Olhou em volta da cozinha.
Cassidy
gemeu alto novamente e o suor escorria pela sua testa. Usando um pano de prato,
ele enxugou-lhe o rosto. Certo, precisava pensar. Onde poderia achar faixas ou
cintas para apertar? Ele notou um quarto de despejo nos fundos da casa e lá
achou duas pequenas pinças que colocou também para ferver.
Blake
sentia-se mais seguro agora que tinha os apetrechos necessários. Estava
começando a achar que poderia fazer aquilo. Ele consultou seu relógio. Vinte
minutos. Era tempo suficiente. Pegando um garfo, removeu as pinças e secou-as
com toalha de papel. Com tudo arranjado, foi para o quarto, mas tão logo
entrou, seus passos vacilaram.
A
mulher olhando para ele do meio da cama não era sua doce Cassidy. Enquanto
estivera ocupado com os apetrechos, alguma força demoníaca entrara no corpo
dela.
Era
a única explicação que encontrava.
Os
cabelos femininos estavam desalinhados, dentes cerrados e pupilas dilatadas. O
lençol estava enrolado em volta de ambos os pulsos. A qualquer momento, ele
esperava que a cabeça dela começasse a dar voltas.
—
Querida, você está bem?
Assim
que as palavras saíram, Blake percebeu que seria melhor que não tivesse falado.
Ele deu um passo atrás, preparado para correr se a necessidade aumentasse.
Capítulo
X
— Se
eu estou bem? — explodiu Cassidy. — Pelo amor de Deus, como você acha que estou
me sentindo? Como se sentiria se estivesse preso em um lugar no fim do mundo,
sem médico, sem anestesia e prestes a ter um bebê?
Blake
colocou a bandeja na mesinha e foi até ela. Tão gentilmente quanto podia, tomou-a
nos braços. No início, ela estava tensa e tentou empurrá-lo, mas não levou
muito tempo para seu corpo relaxar, e então as lágrimas rolaram soltas.
Ele
a deixou chorar, sabendo que isso ajudaria mais que qualquer coisa naquele
momento.
Sua
mão começou a alisar-lhe as costas vagarosamente, em movimentos circulares.
Logo, os soluços transformaram-se em fungadas.
—
Oh, Blake, sinto muito — Ela passou uma mão pelas faces molhadas. — Isso não
deve estar sendo fácil para você também.
—
E mil vezes mais fácil para mim do que para você, acredite-me. Ele ajudou-a a
descansar de volta contra o travesseiro, alisando-lhe os cabelos, tirando-os da
face. Meu Deus, como ela era bonita. Mesmo com a maquiagem manchada debaixo dos
olhos e com os cabelos despenteados.
Ela
deve ter notado o olhar dele, porque inconscientemente passou as mãos pelos
cabelos desalinhados.
—
Eu devo estar horrível — murmurou.
—
"Vaidade, teu nome é mulher", como dizia Shakespeare. — Ele sorriu. —
Você está linda. A mulher mais bonita do mundo.
Cassidy
abaixou a cabeça, passando a mão por sobre o colo.
—
Duvido disso.
Pegando-lhe
a mão na sua, Blake esfregou o polegar sobre a maciez da palma.
—
Eu mentiria?
—
Não, mas pode estender a verdade um pouco — disse ela, sorrindo timidamente.
—
Nunca, não sobre isso. Desde o primeiro momento que vi você sair daquele bolo
de papelão, pensei que era a moça mais linda que eu já tinha visto.
Ele
olhou para baixo, incapaz de fitá-la.
— É
claro, levei algum tempo para perceber que me apaixonei por você — continuou
ele, acariciando-lhe a palma da mão, esperando que ela dissesse alguma coisa,
qualquer coisa. Finalmente, ele ergueu a vista e seus olhos se cruzaram.
— Nunca
percebi que você se sentia dessa maneira—ela começou a dizer. — Você não está
apenas falando isso por causa das circunstâncias, está?
— Não,
eu a amo, Cassidy. E se você me quiser, gostaria que esse casamento se tornasse
verdadeiro. Não quero que você vá embora depois que o bebê nascer. Quero ambos
na minha vida.
—
Tem certeza?
—
Eu não diria se não tivesse.
—
Blake, eu... ohhhh, Blake.
—
Aperte minha mão se isso ajuda — sussurrou ele, sabendo que ela estava tendo
uma nova contração.
Quando
a dor piorou, ela apertou.
Meu
Deus, onde ela obtivera aquela força para apertar tão forte? Ela envergonharia
um lutador profissional numa queda de braço. Ele tentou sorrir para
encorajá-la.
—
Está certo, apenas... hum... respire — disse ele.
Cassidy
ofegou forte enquanto o fitava com olhos arregalados.
—
Você está indo muito bem.
—
Não, não estou. Dói demais... ohhhhhhh.
—
Agüente um pouco. Passará em alguns minutos.
A
mão de Blake estava amortecida, as pontas dos dedos brancas. Mas isso não lhe
importava. Pelo menos até que ela começou a afrouxar o aperto e a circulação
voltou. Ele massageou os dedos com a outra mão.
—
Eu o machuquei?
—
Machucou-me? Uma menininha como você? Claro que não.
Cassidy
sorriu. O que mais poderia fazer? Ele estava tentando ser forte para ajudá-la e
ela o amava por isso. Amor. Seu coração bateu forte. Ele a amava. Ele queria
ter uma família. Ela tinha que lhe contar que sentia a mesma coisa.
—
Blake, eu...
As
palavras foram interrompidas quando seu olhar caiu sobre a bandeja que ele
levara antes. Tudo parecia ótimo, exceto por dois estranhos instrumentos de
metal em formato de C.
Blake
seguiu o olhar dela. Ele parecia confuso.
—
São os apetrechos que precisarei no caso... você sabe.
—Entendo.
Toalhas, panos de prato, seringas, mas o que são aquelas coisas de metal?
Ele
levantou-se e foi até a bandeja. Ela achou que ele parecia um pouco cheio de si
quando levantou uma daquelas coisas.
—
Pinças C.
—
Pinças C — repetiu ela. — E exatamente o que você vai fazer com elas?
—
Puxar o cordão umbilical.
Focar-se.
Ela tinha que se focar em algum ponto, pensou quando uma nova contração
começou. Estava apenas vagamente consciente de Blake sentado na beira da cama.
Tudo que podia pensar eram aquelas horríveis peças de metal. Não estava muito
certa, mas não achava que eram o que um médico usaria, mesmo numa emergência.
—
Você... nunca... ajudou... a dar à luz... um bebê... ajudou? — perguntou ela,
gaguejando.
Ele
parou de esfregar-lhe a mão. Cassidy continuou:
—
Você... alguma vez... viu... um bebê... nascer?
—
Bem, não exatamente.
Que
Deus a ajudasse. Enfiada numa cabana de toras de madeira, sem médico, sem
anestesia, e agora um marido que não tinha a mínima idéia do que estava
fazendo. Ela voltou-se para ele com olhos acusadores.
—
Você mentiu!
—
Não foi bem assim.
Ela
o encarou.
— Havia
uma mulher grávida e ela estava num elevador que parou por alguns minutos —
continuou ele.
—
Quando? Para deixar alguém entrar?
Blake
enrubesceu.
—
De quantos meses ela estava grávida?
—
Cinco meses — murmurou ele.
—
Cinco meses! Ela não estava nem mesmo perto de entrar em trabalho de parto.
Tão
logo exterminasse Andy, Blake seria o próximo na sua lista. Quem precisaria
daqueles trastes? Andy estava provavelmente sentindo-se o máximo agora,
pensando que ele era o casamenteiro do século. E Blake tentara enganá-la, dizendo
que sabia coisas de que nunca tomara conhecimento.
—
Estou me sentindo como se estivesse sendo rasgada por dentro e você vem me
dizer que não sabe nada sobre parto.
Ela
queria matá-lo agora. Ele não sentia dor alguma! Na verdade, parecia muito
confortável. Homens deveriam dar à luz.
—
Sei um pouco.
—
Um pouco? O que exatamente isso significa?
Ela
tentou olhar um quadro torto na parede, mas isso não ajudava a dor passar.
—
Há um livro no outro quarto. Sobre emergências médicas no lar.
Então
era isso. Ela estava sendo partida em dois e ele pensava que podia fazer o
parto do filho deles através de leitura de primeiros socorros caseiros. Deus,
aquilo era o fim do mundo.
Ela
empurrou-o da cama com ambos os pés e Blake caiu sentado no chão.
—
Por que você fez isso?
—
Porque isso me faz sentir bem.
A
contração começou a diminuir enquanto uma onda de exaustão a dominou. Ela
fechou os olhos e tentou imaginar o que iria fazer. A situação era
desesperadora. Não havia esperança. Ela ia morrer, sabia disso. Enterrada numa
cabana no meio do nada. Apenas deixe o bebê ficar bem, rezou em silêncio. Uma
lágrima correu do canto do seu olho e escorreu pela face.
—
Não quero que você se preocupe.
Ele
falou tão suavemente que, a princípio, ela perguntou-se se ele falara alguma
coisa. Então abriu os olhos. Ele ainda estava sentado no chão. Cassidy se
sentiu culpada. Como podia ficar zangada com ele? Na sua maneira, Blake estava
apenas tentando ajudar. Se suas posições fossem revertidas, ela poderia ter
feito o mesmo. Ela passou a mão pelos cabelos suados.
—
Está tudo bem — murmurou, desgastada. — Vamos enfrentar isso juntos. Temo não
haver muito tempo, todavia precisamos de alguma coisa mais para usar como
pinças.
Por
que ela não fizera curso sobre partos ou coisa parecida? Tudo que fizera fora
ler um pouco num livro. Tentou pensar naquela leitura.
—
Barbante! — Ela sentiu-se animada. — Você pode usar os dois cordões dos seus
sapatos, então amarrar o cordão umbilical no lugar que vai ser cortado.
Ambos
olharam para os sapatos. Ele estava usando sapatos esportes tipo mocassim.
Blake
estalou os dedos.
—
Cordão comum, eu vi lá na cozinha. Isso funcionará, não acha? E posso
esterilizar um pedaço.
—
Perfeito. — Ela sorriu. Ele pareceu aliviado.
—
Irei buscar.
Tão
logo ele saiu do quarto, o sorriso desapareceu do rosto de Cassidy. Ela ia
morrer. O que ambos sabiam sobre parto caberia num dedal.
Ela
não tinha muito tempo de pensar nas possibilidades do que poderia dar errado
quando outra contração começou. Tudo estava acontecendo muito rápido. O
primeiro filho não costumava demorar mais do que os outros?
Blake
se afastara apenas um minuto.
—
As contrações estão mais próximas, não estão?
Ela
pôde somente assentir com a cabeça. Ele começou a vasculhar as gavetas da
penteadeira e do camiseiro, mas a dor era tão forte que ela nem imaginava o que
ele estava procurando. Através de uma névoa de agonia, viu Blake deixar o
quarto outra vez e voltar exatamente quando a contração estava terminando.
Ele
depositou a tigela com água no chão perto da cama.
—
Para que é isso?
—
Pensei que um banho de esponja a faria sentir-se melhor. Há um camisolão na
cômoda. Você ficará mais confortável com ele.
Ele
não a olhou enquanto estava ocupado, arranjando o que precisava. Cassidy
imaginou que ele provavelmente estava com medo depois de tudo que ela dissera e
fizera.
—
Desculpe-me, Blake.
Ele
parou o que estava fazendo e fitou-a. Ela estava exausta, emocional e
fisicamente. A face estava pálida e os cabelos úmidos de suor.
Ele
sorriu, esperando informá-la de que tudo estava bem.
—
Isso significa que se eu lhe der um banho de esponja, você não vai me jogar no
chão novamente?
—
Eu não... oh...
Ela
começou a rir, que era exatamente a reação pela qual ele esperava.
—
Eu realmente fiz isso, não fiz?
Ele
massageou as próprias costas, de modo dramático.
—
Sim, fez, e na próxima vez, espero que o assoalho seja acarpetado.
Ele
conseguira pelo menos fazê-la rir e ela parecia um pouco mais relaxada. Blake
sabia que isso não duraria muito tempo.
Tão
logo a próxima contração terminou, ele começou a ajudá-la a tirar a blusa pela
cabeça.
— Isso
é constrangedor — murmurou Cassidy. — Fico sem graça.
—
Apenas pense em mim como um médico.
—
Eu gostaria de poder.
Blake
deu uma gargalhada. Cassidy não falara com sarcasmo. Havia uma definida ponta
de humor no tom da voz dela.
Ele
molhou o pedaço de pano e banhou-a da cintura para cima, tentando não olhá-la
no processo. Não era fácil, principalmente quando o pano foi passado em
círculos pelos seios nus. Ele finalmente terminou e ajudou-a a vestir o
camisolão.
—
Estou tão horrível assim? — perguntou ela.
—
Como assim?
—
Nada. Esqueça.
Ele
pegou-lhe o rosto e forçou-a a encará-lo.
—
Diga-me.
Ela
deu de ombros.
—
Eu realmente não o culpo. Quero dizer, estou imensa. Imagino que devo estar
horrível. Você... age como... se não gostasse de olhar para mim.
Ele
meneou a cabeça.
—
Ouça, querida. A razão pela qual não quero olhar para você é porque, embora
esteja em trabalho de parto, você ainda é uma mulher muito sexy.
—
Sei que você está mentindo, mas estou satisfeita que esteja — disse ela. Logo
em seguida, sua face contorceu-se de dor. — Lá vem ela de novo, Blake, acho que
nosso bebê está chegando.
As
palmas de Blake começaram a transpirar e o coração disparou no peito.
—
Você pegou tudo? Ele olhou para a bandeja.
—
Tesouras! Não tenho nada para cortar o cordão.
—
Depressa — sussurrou ela quando ele saiu correndo do quarto. Cassidy pedira que
ele se apressasse, mas. Blake sentia que estava em câmera lenta.
Vasculhou
as gavetas da cozinha, mas não conseguia encontrar um par de tesouras. Esvaziou
todas as gavetas e derrubou tudo no chão.
Ele
precisava pensar. Não se recordava de ter visto tesouras quando procurara os
outros apetrechos.
O
grito de Cassidy ecoou através da cabana.
Blake
ficou no meio da cozinha com uma gaveta vazia pendurada na mão. Por um momento,
não pôde se mover. Então deixou cair a gaveta e olhou em volta da cozinha.
—
Seu tolo — criticou a si mesmo, enquanto agarrava uma enorme faca de açougueiro
e saía correndo da cozinha. Ele entrou na sala de estar na mesma hora que a
porta da frente abriu-se num estrondo. Dois dos mais troncudos homens que ele
jamais vira adentraram com armas na mão.
—
Largue a faca, senhor. Solte-a, imediatamente — um dos dois policiais gritou.
Capítulo
XI
— Eu
disse, solte a faca! — Não falei que alguém estava aqui? — Um terceiro homem
entrou na sala e ficou atrás dos dois policiais, fora do campo de perigo.
—
Tão logo vi as luzes da cabana acesas, parei o carro e dei uma espiada pelas
janelas. Foi quando o vi na minha cozinha, vasculhando as coisas. Aposto que
ele seqüestrou essa mulher. Se eu não tivesse chamado vocês pelo meu telefone
celular, ele a teria matado.
—
Escutem, policiais — começou Blake, acenando o braço.
Ambos
os policiais ficaram rígidos.
—
Solte a faca ou atiraremos —: ordenou um deles.
—
Tudo bem, tudo bem. Olhe, estou soltando-a. Posso explicar tudo...
Ele
não teve chance de explicar. Assim que a faca caiu a seus pés, ambos os
policiais caíram em cima dele, algemando suas mãos nas costas.
Cassidy
escolheu aquele momento para soltar um verdadeiro grito de horror.
—
Meu Deus, esse tipo de gente me deixa doente — murmurou o policial e voltou-se
para seu colega: — Joe, diga à senhora que o pegamos e o algemamos e ele não
mais a aterrorizará. Veja também se ela está ferida.
Blake
olhou para o nome no crachá no uniforme do policial. Ele estava tentando
controlar sua raiva. A última coisa que podia fazer era perder o controle.
—
Ouça, policial Swain, é a minha esposa que esta lá no quarto, prestes a dar à
luz o nosso bebê. Se você não me livrar dessas algemas agora, perderá seu
distintivo.
O
terceiro homem falou para o policial:
—
Não faça isso, ele pode estar mentindo. Ele está provavelmente indo cortar a
garganta dela ou esquartejá-la em pequenos pedaços.
Aquilo
tinha que ser um pesadelo. O sujeito não devia pesar mais do que setenta quilos
e usava óculos com armações grossas de casco de tartaruga, que eram quase
maiores do que o rosto dele.
Blake
já calculara que o rapaz era o amigo de Andy.
—
Cale-se, Steven! — exclamou Blake.
—
Ele me chamou de Steven — disse ele, empertigando-se. — Como soube meu nome?
—
Eu soube seu nome porque Andy me disse que essa cabana era sua.
Steven
parecia intrigado enquanto ajeitava o imenso óculos sobre o nariz.
—
Você conhece Andy?
—
Infelizmente. Ele é meu irmão.
Joe
voltou do quarto com sua pele morena completamente pálida, e ar apavorado.
—
A moça está tendo um bebê. Quando eu lhe contei que tínhamos algemado o homem
que estava na casa, ela me atirou uma xícara de chá. Disse que se não
deixássemos seu marido ir lá, viria aqui e bateria em todos nós — Ele olhou
para o seu colega. — É melhor fazermos o que ela pediu, Chuck. Ela parecia
realmente destinada a fazer o que disse.
—
Isso é o que eu estava tentando dizer a vocês. — Blake suspirou.
—
Tire as algemas dele — ordenou Chuck, enquanto sacava o rádio de seu cinto.
Apertou o botão e começou a falar: — Jane, tudo bem por aqui, mas vamos
precisar de uma ambulância. Parece que temos uma mulher em trabalho de parto.
—
Você não vai bancar o médico outra vez, vai, Chuck? — replicou Jane.
—
Não se eu conseguir evitar — respondeu ele, recolocando o rádio no lugar.
—
Você já fez isso antes? — perguntou Blake.
—
Muito mais vezes do que você imagina — replicou o policial.
Blake
soltou um suspiro de alívio.
—
Você não pode imaginar o quanto fico feliz em ouvir isso.
Assim
que as algemas foram tiradas, ele correu para o outro quarto.
—
Blake, você está bem? Se eles machucaram você, eu juro que...
O
olhar preocupado de Cassidy rapidamente se transformou em fúria quando pousou
no policial atrás dele.
—
Você! Como pode atacar meu marido? Se você o machucou, eu... eu...
—
Fique calma, está tudo bem. Foi somente um mal-entendido — murmurou Blake. —
Apenas agradeça a Andy por não ter contado para Steven que nós íamos estar na
cabana.
—
Senhor, preciso que você me dê licença para examinar sua esposa — disse o
policial Swain, pondo a mão no ombro de Blake.
—
Blake, eu... — Ela segurou forte a mão do marido.
—
Ele já fez isso antes. Há uma ambulância vindo para cá, mas ele precisa
examiná-la — Blake voltou-se para o policial: — Chame-me tão logo você
terminar.
—
Levará apenas alguns minutos.
Quando
Blake fechou a porta, Cassidy deu um olhar hostil ao policial.
—
Tem certeza que já fez isso antes?
O
policial sorriu.
—
Cinco meninos e duas meninas. Todos saudáveis. Eu até fiz um parto no elevador.
De
onde é que eles tiravam aquelas histórias? Por acaso, ela tinha cara de
ingênua?
—
Quanto pesava o bebê do elevador?
Ele
parou o processo de colocar um par de luvas de borracha esterilizadas.
—
Como assim, senhora?
—
Quanto pesava o bebê que nasceu no elevador?
Ele
pareceu confuso, mas respondeu:
—
Três quilos e poucos gramas.
Bem,
pelo menos a história dele era um pouco mais plausível.
—
Se isso a faz sentir-se melhor, fui paramédico por três anos, antes de decidir
tornar-me policial.
Ela
cerrou os dentes contra a nova contração. Não sabia por quanto mais tempo seria
capaz de suportar tanta dor. Uma coisa era certa, jamais se queixaria quando
tivesse que ir ao dentista.
—
Não lute contra isso — ele falou em tom calmo. — Respire o mais devagar que
conseguir.
No
momento que a contração começou a diminuir, ela notou que ele removera as luvas
e estava passando um pano úmido no seu rosto.
—
Melhor?
Ela
assentiu.
—
Bem, você ainda não está coroando, mas acho que não levará muito tempo.
—
Coroando?—Ela franziu o cenho.
—
É o que chamam quando o crânio do bebê está aparecendo. — Ele depositou o pano
úmido sobre o criado mudo e pegou a mão dela. — Nós deveríamos levá-la para o
hospital antes que seu filho nasça. Agora, não me culpe por isso. Bebês têm uma
maneira de provar que estamos errados, algumas vezes.
— Nessa
altura dos acontecimentos, não me importo onde ele nascerá. Apenas quero que
tudo acabe logo.
—
Sei que você quer — Ele franziu o cenho quando viu a bandeja que Blake
preparara. — Para que são aquelas coisas?
Cassidy
olhou para o equipamento, e, mesmo no seu desconforto, começou a rir. Sabia
exatamente a que peça do equipamento o policial estava se referindo.
—
Pinças C — disse ela. Ele sorriu.
—
Não me diga que era para lidar com o cordão umbilical?
Ela
assentiu enquanto ele soltava uma risada estrondosa.
—
Bem, seria pior se ele tivesse pegado um abridor de latas.
Blake
andava de um lado para o outro na sala de estar.
De
minuto em minuto, parava e olhava para a porta fechada. Que raios de demora era
aquela? E onde estava a bendita ambulância? Já não deveria ter chegado?
Ele
foi até a porta da frente da cabana e abriu-a. Não havia luzes brilhando
através do céu escuro. Nem som de sirene à distância. O silêncio era irritante.
Joe
falou, interrompendo a quietude:
—
Meu colega
costumava trabalhar numa ambulância antes de decidir tornar-se um policial.
Blake
parou e olhou para o homem.
—
Ele era paramédico — continuou ele.
—
E daí? — Blake sabia que estava sendo irracional.
O
sujeito estava apenas tentando ajudar.
Joe
deu de ombros e olhou para os pés. Pelo seu tamanho, Blake calculou que ele
deveria beirar os vinte e poucos anos.
—
Chuck é um homem bom. Ele não deixará que nada aconteça à sua mulher.
Blake
olhou para a porta do quarto.
—
Sei disso — concordou. — Há tanta coisa que pode sair errado, e Cassidy está
com muita dor — ele estudou o jovem policial. — Você é casado?
—
Não, mas sou noivo. Vamos nos casar assim que eu conseguir dinheiro suficiente
para comprar uma casa.
—
Escute, minha mãe é corretora de imóveis. Aposto que ela pode ajudá-lo.
Os
dois continuaram o papo enquanto Blake voltou a caminhar e rezar. Senhor,
ajude-a. Não a deixe sofrer mais.
Ela
não estaria passando por aquilo se não fosse por ele. Blake nunca deveria ter
planejado casar-se com Penélope. Sabia disso agora. Casamento não era um
arranjo comercial. Um lar era construído de amor. Como o amor que seus pais
compartilharam.
Agora
ele sabia por que sua mãe não se importara com mais nada depois da morte do pai
dele. Mas não ter essa espécie de amor era uma total infelicidade. Ele só
entendera isso depois que Cassidy entrara na sua vida. E agora, ela estava
suportando uma dor indescritível.
A
bela, adorável, bondosa Cassidy estava sofrendo porque ele a deixara grávida.
Ele lhe causara o sofrimento. Oh, naturalmente Andy fora quem os levara para a
cama juntos, mas somente porque sabia que um casamento com Penélope seria um
total desastre.
Ele
foi até a mesa onde a cesta de piquenique estava colocada. Depois de tirar a
rolha da garrafa de vinho, tomou um bom gole. Era covarde, sabia disso.
Tomou
novo gole e deixou o líquido descer ardente pela garganta.
Jamais
se perdoaria se Cassidy não saísse dessa. Como ela podia suportar a dor por
tanto tempo, ele nunca entenderia. Se pudesse sentir as contrações por ela,
faria isso.
Puxando
uma das cadeiras, sentou-se na beira do assento de madeira. Bebeu novamente do
próprio gargalo da garrafa.
Se
ela se saísse bem daquilo tudo, ele a colocaria no apartamento mais bonito que
existisse. Ela nunca mais quereria outro pelo resto da vida. Ele levantou a
garrafa e bebeu de novo. Céus, ele lhe daria a casa. Era apenas certo que o
bebê fosse criado lá. Compraria um apartamento para si próprio. Não teria nem
mesmo que ser bom. Apenas um lugar para dormir à noite. Ele deu mais um gole
de vinho.
Por
que Chuck estava demorando tanto? Blake sentou-se um pouco mais ereto.
E
se algo saísse errado? E se... Ele esvaziou a garrafa de vinho e jogou-a longe.
Ela espatifou no chão, chamando a atenção dos outros dois homens. Mas ele não
se importou. Ia entrar no quarto. Tinha que saber o que estava acontecendo.
Quando se levantou, a sala rodou. Ele agarrou a mesa para firmar-se.
— Ele
bebeu aquela garrafa inteira de vinho? — sussurrou Steven.
— Do
jeito que está cambaleando em nossa direção, creio que sim.
Cambaleando?
Quem estava cambaleando? Era aquela porcaria de assoalho feito de toras de
madeira, desniveladas.
Blake
dirigiu-se para a porta do quarto de Cassidy, determinado a chegar lá. Tinha
que estar com sua esposa. Tinha que tomar conta dela.
Joe
foi até ele e segurou-o pelo braço.
—
Não acho que seja uma boa hora para você entrar — disse ele.
—
É minha mulher quem está lá e você não pode me impedir — retrucou Blake,
gaguejando terrivelmente e tentando livrar-se da mão que o agarrava.
—
Chuck cuidará dela.
—
Sim, sr. Lawrence, você não parece estar bem.
—
Estou perfeitamente sóbrio. Cassidy está sofrendo e tenho que estar com ela.
Ele
tentou dar um novo passo na direção do quarto. Todos pararam e olharam para o
quarto quando o som de uma risada irrompeu por trás da porta.
—
Oh, eu não deveria rir. — Cassidy gemeu. — Faz doer mais minha barriga.
—
Tudo que posso dizer é que foi ótimo termos aparecido no momento certo.
Ele
levantou uma das pesadas pinças e meneou a cabeça.
—
Acho que seu marido nunca fez o parto de um bebê na vida.
—
Você está certo.
O
som distante de sirenes chamou a atenção deles. Cassidy respirou aliviada.
—
Já era hora — murmurou Chuck.
—
Com certeza.
—
Mais um minuto, e pensei que iria adicionar seu bebê à minha lista.
Ela
franziu o cenho e perguntou curiosa:
— Por
que você desistiu de ser paramédico, afinal de contas? Você é tão bom para
deixar as pessoas calmas.
Ele
mudou a posição do corpo dela, tentando encontrar uma melhor, mas acabou
desistindo, porque percebeu que não era possível. Ela olhou para Chuck e ficou
surpresa de vê-lo corar. Era tão díspar um homenzarrão como ele enrubescer, que
Cassidy imaginou se a luz estava lhe pregando peças.
—
É como isto, senhora — respondeu ele. — Detesto fazer partos. Francamente,
tenho muito medo. Todavia, batidas de carro, tiroteio, agressões, qualquer
espécie de trauma, são coisas diferentes. Você sabe o que esperar, na maioria
das vezes. Porém, uma mulher esperando um bebê? — Ele meneou a cabeça. — Não
conheço nenhum estagiário de medicina que não tenha o desejo de segurar a vida
de um recém-nascido em seus braços.
No
início, Cassidy pensou que ele estava brincando, mas o olhar na face dele era
muito sério.
— Se
eu tivesse escolha, optaria por você, policial Swain. E aposto que todas
aquelas outras mulheres fariam o mesmo.
Antes
que ele pudesse comentar, Blake entrou no quarto.
—
Cassidy, você está bem?
Ela
arregalou os olhos, boquiaberta.
—
Blake, mas o que aconteceu com você?
Chuck
fungou.
—
Pelo cheiro, eu diria que ele bebeu aquela garrafa inteira de vinho que vi na
cozinha.
—
Realmente ele bebeu — confirmou Steven, aparecendo na soleira da porta. Quando
Blake voltou-se e olhou para ele, furioso, o rapaz desapareceu de vista.
Blake
cambaleava um pouco ao andar e teve que pôr uma mão contra a parede para
apoiar-se.
— Posso
ter tomado um gole... ou dois. E daí? Não estou bê... bado.
Se
outra contração não estivesse começando, Cassidy teria rido. A metade da camisa
de Blake estava pendurada do cinto para fora. Os cabelos totalmente
desarrumados e os olhos turvos.
Quando
a dor intensificou-se, ela tentou relaxar, como Chuck lhe mostrara, mas aquela
era muito forte. Ela tentou respirar em pequenos sopros, mas foi inútil. Um
grito saiu de sua garganta bem quando dois homens com uma maça entraram no
quarto.
—
Já era hora de vocês chegarem, rapazes — disse Chuck.
—
Se soubéssemos que você estaria aqui, não estaríamos tão preocupados — um dos
estagiários de medicina disse quando baixou a maça. — Como vão as coisas por
aqui?
—
As contrações estão ficando cada vez menos espaçadas. Cerca de vinte segundos
entre elas, no momento. É a primeira gravidez dela. Então acho que dará tempo
de chegar ao hospital.
O
paramédico levantou o lençol.
—
Não, acho que não, companheiro. Acredito que o rapazinho ou a menininha está
cansado de esperar.
Ele
empurrou a maça em direção à porta, tirando-a do seu caminho, para não
atrapalhar.
—
Tive uma visão do alto da cabeça do bebê. Vamos nos preparar para um parto, já.
—
Estou aqui com você, Cassidy — murmurou Blake bem antes que desmaiasse.
Blake
vagarosamente abriu os olhos. Encontrava-se no sofá, mas a sala estava levemente
fora de foco. Passou a mão pelos cabelos desalinhados, sorrindo quando sentiu
um galo na cabeça do tamanho de um ovo.
—
Beba isto — disse Steven, estendendo-lhe uma xícara de café forte.
Completamente
tonto, Blake sentou-se e pegou a xícara.
—
O que aconteceu?
A
voz dele soava como se viesse de muito longe. Sua boca estava seca e a cabeça
doía.
— Antes ou depois que você
bebeu a garrafa inteira de vinho?
Isso explicava por que se sentia tonto. Lançou um olhar tão hostil a Steven que derrubaria qualquer inimigo, mas tudo que o rapaz fez foi sorrir.
Isso explicava por que se sentia tonto. Lançou um olhar tão hostil a Steven que derrubaria qualquer inimigo, mas tudo que o rapaz fez foi sorrir.
—
Depois? — perguntou Blake.
—
Você desmaiou.
A
memória retornou como uma onda da maré.
—
Cassidy? Ela está bem? — Ele depositou a xícara na mesinha e começou a
levantar-se, mas Steven acenou para que ele permanecesse sentado.
—
Os paramédicos estão com ela. Devo manter você fora do caminho.
—
Quanto tempo vai demorar?
—
Não muito tempo.
Cassidy
gritou.
Blake
levantou-se, batendo na xícara de café. Teve que agarrar as costas do sofá
porque a sala toda rodava. Quando o rodopio da sala parou, ele falou novamente:
—
Preciso estar com ela.
— Não.
Incumbiram-me de mantê-lo aqui, longe do quarto. E fique sabendo que posso ser
um sujeito pequeno, mas conheço karatê. Não me faça usar isso.
Blake
parou, não que estivesse com medo. Olhou para Steve, mas não pode imaginá-lo
praticando qualquer modalidade de luta.
—
Você conhece mesmo karatê?
Steve
estufou o peito.
—
Quer verificar?
—
Sim, acho que terá que me mostrar, porque vou lá com a minha esposa.
—
Tudo bem, tudo bem, eu só tive uma aula, mas li tudo no livro.
Blake
continuou andando, até que Cassidy gritou outra vez. Seus passos vacilaram.
Então ele ouviu o mais belo som do mundo. Incomparável até a qualquer sinfonia
de Beethoven ou Mozart...
Seu
bebê gritou, Um bálsamo para seus ouvidos.
Blake
fechou os olhos, mas imediatamente os abriu quando quase caiu no chão. Por que
bebera todo aquele vinho? Nem mesmo gostava muito de vinho e agora estava
cambaleando como um tolo embriagado. E, pior de tudo, Cassidy o vira daquele
jeito. Qualquer esperança de eles se tornarem uma família estava perdida. Ela
provavelmente o desprezara por vê-lo naquele estado.
O
bebê chorou novamente e Blake sentiu seu coração dar um salto que parecia
explodir no peito. Era uma sensação muito agradável, todavia.
Certo,
então talvez estragara tudo com Cassidy, mas ainda havia seu filho lá. Ele lhe
dissera que, qualquer que fosse a decisão dela, estaria a seu lado.
Aprenderia
a viver sem Cassidy. Portanto, não veria seu sorriso brilhante todas as manhãs
ou ouviria sua doce voz. O tempo apagaria a memória e, um dia, ele seria capaz
de levar sua própria vida.
Contudo,
Blake lhe imploraria que ficasse. Ajoelharia a seus pés, se ela quisesse. Ele
empurrou a porta e estancou diante do que viu.
O
vinho o afetara mais do que pensava. Esfregou os olhos, mas quando olhou
novamente, continuou vendo dois bebês na cama ao lado de Cassidy. Não um, mas
dois lindos bebês. Ele sentiu uma vontade incontrolável de chorar, mas
lembrou-se a tempo que homens não choravam.
Cassidy
caiu na gargalhada. Não pôde evitar. Sabendo a quantidade enorme de vinho que
ele bebera, percebeu logo o que ele estava pensando.
—
Meninas gêmeas — anunciou ela. — Esta é a razão pela qual comecei o trabalho de
parto duas semanas mais cedo, suponho.
Blake
não controlou as lágrimas. Às favas aquele machismo que homens não choravam.
Era uma emoção muito grande.
—
Pensei que estava vendo dobrado — murmurou ele sem olhá-la. — Por que o dr.
Matthews não viu o segundo bebê quando fez o ultra-som?
Cassidy
deu de ombros.
—
Chuck falou que algumas vezes um bebê fica sobre o outro no útero. Isso
acontece.
Blake
assentiu. Então se ajoelhou ao lado da cama e, muito gentilmente, tocou cada
uma de suas filhas, Cassidy achou que nunca vira tanto amor e ternura na face
de alguém antes.
—
Elas são lindas — sussurrou ele.
—
Daremos a vocês alguns minutos, mas então teremos que ir — avisou Chuck
enquanto fechava a porta, deixando-os ter alguma privacidade.
—
Eu acho que elas são maravilhosas. — A voz de Cassidy mostrava todo o orgulho
que sentia.
—
Você já escolheu os nomes? — indagou ele.
—
Ainda não. Pensei em você escolher um e eu o outro.
—
Esta aqui será Camila, como minha bem-amada avó — sussurrou ele quase sem
pensar.
—
Então, esta menorzinha, que chegou por último, será Victória. Chegou sem ser
esperada, mas será uma pessoa vitoriosa.
Blake
pegou a mão da esposa e fitou-a profundamente nos olhos.
—
Sei que você não me ama, Cassidy. Deus sabe que tentei todos os truques para
fazê-la apaixonar-se por mim, mas nada funcionou — Ele desviou os olhos da face
dela e focou-os sobre a mão feminina, acariciando-a com o polegar. — Quero que
você fique comigo, que não se mude para algum apartamento. Eu juro, serei o
melhor marido que qualquer esposa já imaginou ter. Talvez algum dia, você possa
até mesmo aprender a gostar um pouquinho de mim.
Ela
sorriu quando ele a encarou novamente.
—
Oh, Blake, você não sabe que eu o amo mais do que a própria vida? Sem você,
qualquer lugar que eu morasse, seria apenas uma casa. Somente morando com você
seria sempre um lar.
—
Você tem certeza do que está falando? Não está dizendo isso porque sente pena
de mim?
—
Não, nunca falei nada tão verdadeiro em toda minha vida. Eu o amo. E já faz
muito tempo, porém eu estava com medo que você não sentisse o mesmo por mim.
Achei que tudo que lhe importasse fosse o bebê.
—
Fomos tão tolos. Todavia, nunca mais. Pretendo dizer-lhe o quanto a amo todos
os dias, pelo resto da minha vida.
Ele
inclinou-se sobre ela e beijou-a com amor e ternura.
Cassidy
soube que aquele momento estaria no seu coração para sempre.
De
repente, ocorreu-lhe que nada daquilo nunca teria acontecido se não tivesse
pulado de dentro de um bolo numa festa de despedida de solteiro. Pensando
assim, sorriu.
Epílogo
Três
anos depois...
— Alô,
alguém em casa? Toquei a campainha, mas... O que aconteceu por aqui? —
perguntou Andy quando entrou na confusa e desordenada sala de estar, quase
tropeçando na bagunça espalhada pelo chão. — Parece que uma bomba explodiu numa
fábrica de brinquedos e tudo caiu aqui.
Blake
veio da cozinha, uma toalha enrolada em volta da cintura e duas garotinhas
risonhas enfiadas sob o braço, os cachos louros balançando em cada passo que
ele dava.
—
Muito engraçado. Agora venha aqui e me dê uma mão. Rindo, Andy salvou seu
irmão, pegando uma das gêmeas.
—
Que linda bruxa você tem, Camila. Qual é o nome dela? — perguntou ele.
—
Penélope. Mamãe que escolheu — respondeu Camila.
Andy
riu e voltou-se para o irmão:
—
Você está parecendo um pouco pálido.
—
Acho que peguei algum vírus. Não tenho me sentido bem ultimamente.
Com
um suspiro pesado, Blake acomodou-se na cadeira mais próxima, habilmente
balançando sua filha sobre o colo.
—
Com essas duas, talvez você precise de vitaminas. — Andy sentou-se no sofá em
frente de Blake. Camila imediatamente foi para o chão. — Onde está Cassy?
—
Fazendo compras. Pelo menos, é o que ela disse que ia fazer.
Ele
deu um olhar preocupado para o relógio. Já fazia três horas que ela saíra.
Parecia uma eternidade.
—
Você sabe, não sei como ela faz isso — continuou Blake. — Cassidy mantém a casa
impecável, as garotas estão sempre limpas e ela nunca parece cansada. Já eu,
por outro lado, tento tomar conta das duas garotinhas por algumas horas e a
casa se torna um caos. Veja esta sala. A bomba de Hiroshima causaria menos
danos.
—
Isto é porque ela é esperta. De qualquer modo, não deve ser tão difícil assim
tomar conta desses dois anjinhos.
Victória
deslizou de sua posição no colo de Blake e correu atrás da irmã.
— Acredite-me,
irmão, nunca imaginei que ia ser assim tão difícil. Não me interprete mal. Não
lamento nem por um minuto sequer. Cassidy e as garotas significam tudo para mim
nesta vida.
Andy
começou a gargalhar.
—
Não ria muito, irmãozinho. Sua vez está chegando.
—
Sei disso, mas não posso evitar.
Blake
gesticulou em direção às crianças que estavam felizes, esvaziando terra de uma
de suas plantas. Blake levantou-se e correu até elas.
—
Se sua mãe não está regando demais essas plantas, vocês duas estão tentando
replantá-las. E incompreensível que esta ainda esteja viva.
Ele
limpou a sujeira das mãos das crianças e direcionou-as para os brinquedos.
—
Bernard fez isso, papai — declarou Camila, sua explicação quase acreditável com
aqueles enormes olhos azuis fitando-os diretamente, nunca piscando. E se não
fosse pela sujeira na pequenina face, Blake teria acreditado na história da
filha.
—
Bernard — ecoou Victória, solenemente.
A
velha coruja empalhada estava pousada no aparador da lareira no seu lugar de
honra. Blake não pensou que a criatura viera miraculosamente à vida, embora ela
tivesse sido limpa e restaurada.
—
Bernard? — perguntou ele, olhando para ambas as garotinhas. As duas assentiram.
O
pai fez uma careta e ameaçou ir em direção a elas. Ambas correram num coro de
risadinhas. Com um suspiro de exaustão, Blake voltou ao sofá e sentou-se.
—
Não vai levar muito tempo para elas começarem a ir à escola, e então você e
Cassidy poderão ter um tempo tranqüilo sozinhos — disse Andy.
—
Não as quero crescendo tão rápido — retrucou Blake. — Mas devo dizer que pensar
num tempo livre só para mim e minha esposa, soa muito bem aos meus ouvidos.
A
porta da frente abriu-se e Cassidy entrou na sala.
—
Fiquei fora tanto tempo assim? — indagou ela, percorrendo o ambiente com o
olhar.
Blake
levantou-se e beijou-a nos lábios.
—
Não se preocupe. Eu limparei tudo. Ela lhe deu um olhar empático.
—
Foi muito ruim na minha ausência?
—
Pior. Quem disse que garotinhas foram feitas de açúcar e tempero, deixou de
fora alguns ingredientes importantes. Rindo, ela acariciou o rosto do marido.
—
Mamãe! Mamãe! — gritaram as crianças em uníssono.
Cassidy
sentou-se no sofá, enquanto as duas pequenas atiraram-se em seu colo. Ela as
envolveu num grande abraço, beijando cada uma das faces sadias e rosadas. Então
olhou para Blake, os olhos brilhando.
—
Eu já lhe disse que você fica mais bonita a cada dia? Você está positivamente
brilhando. Isso me lembra... — suas palavras interromperam-se quando a
compreensão o atingiu. — Uh... você deixou seus pacotes no carro? — O tom dele
era desconfiado.
—
Não fui exatamente fazer compras.
Os
ombros de Blake caíram.
—
Não estou voltando a ter um vírus, estou?
Ela
meneou a cabeça.
Andy
começou a rir.
—
Somente durou algumas semanas na primeira vez, e parei no caminho de volta para
casa e comprei uma caixa de biscoitos de água e sal.
Blake
gemeu.
—
E prometo, não abandonarei vocês na cabana de Steve quando estiver perto da
hora do parto — declarou Andy.
Ambos
franziram o cenho para ele.
Rindo
de orelha a orelha, Andy levou as gêmeas em direção à cozinha.
—
Venham aqui, macaquinhas, tio Andy preparará uma refeição deliciosa de leite
com biscoitos de chocolate.
Ele
estava ainda dando sua gargalhada quando a porta fechou-se atrás deles.
Cassidy
deu um olhar preocupado em direção a Blake.
—
Você não está aborrecido, está? Ele puxou-a para seu colo.
—
Nunca — murmurou, beijando-lhe o pescoço. — Contanto que você não se importe em
fazê-los, não me importarei de tê-los. Ademais, sou minoria nesta casa. Um
filho homem seria ótimo. — Ele mordiscou-lhe o lóbulo da orelha, então sorriu
quando ouviu o suave gemido saindo dos lábios femininos.
— E
se for outra menina? — A voz de Cassidy era rouca, enquanto ondas de prazer
espalhavam-se por todo seu corpo.
—
Não será, tenho certeza. Mas se for, não acho que seria tão mau assim. Afinal,
minha avó Eleonora ficou muito enciumada da avó Camila — Blake deslizou os
lábios através do pescoço dela e as mãos começaram a desabotoar sua blusa.
Quando desabotoou o suficiente, enfiou a mão dentro do decote.
—
Blake? — sussurrou ela, sem fôlego.
—
Humm?
—
Você acha que Andy olharia as gêmeas por um tempo?
—
Estou certo que sim — Num único movimento, Blake ficou de pé com Cassidy nos
braços. Chutou brinquedos no caminho do quarto do casal. Uma vez dentro, chutou
a porta para fechá-la e pôs Cassidy no chão.
—
Blake, amaremos um ao outro como agora, para sempre?
— Para
sempre é pouco, minha querida. Diga, por toda a eternidade — murmurou ele,
beijando-a com ardor.
Fim
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